Azia política – A decisão do PMDB de lançar o senador Roberto Requião ao governo do Paraná caiu como verdadeira bomba no Palácio Iguaçu, onde o governador Carlos Alberto Richa (PSDB), o Beto Richa, dava como certo o apoio dos peemedebistas paranaenses ao seu projeto de reeleição.
Na esteira de um placar de 319 votos a favor de candidatura própria e 250 contra (dos que defendiam a aliança com o PSDB), Requião, que governou o estado em três ocasiões – 1991 a 1994 e 2002 a 2010 (dois mandatos consecutivos) –, atrapalha os planos de Richa e pode levar a disputa pelo governo paranaense para o segundo turno. Até então, apenas dois candidatos estavam na disputa: o governador e a senadora petista Gleisi Hoffmann, que vivem um inferno astral em termos eleitorais.
A certeza de Beto Richa em relação ao apoio do PMDB cresceu ainda mais a partir do momento em que o ex-governador Orlando Pessuti, que há muito vive às turras com Requião, abriu mão da própria pré-candidatura para apoiar o tucano.
Roberto Requião é um político conhecido muito mais pelos escândalos que protagoniza, sempre no vácuo do seu destempero comportamental, do que por eventual competência administrativa. Emoldurando a candidatura de Requião está um passado desolador que mescla rompantes de truculência com vida de nababo custeada pelo dinheiro do contribuinte, sem contar os calorosos embates com as concessionárias de rodovias, tudo por causa da cobrança de pedágio. Assunto que os paranaenses conhecem bem.
Com a confirmação da candidatura de Requião, o PMDB do Paraná lançará o deputado federal Marcelo Almeida para disputar uma vaga no Senado Federal. Como o moralismo boquirroto de Requião dura pouco e é movido pela incoerência, vale lembrar que Marcelo Almeida é filho do falecido empresário Cecílio do Rego Almeida (leia-se empreiteira CR Almeida) e sócio de uma das concessionárias de rodovias do Paraná.
Apesar de toda essa contundente contradição, Roberto Requião, ao final da convenção que aconteceu no Clube Urca, em Curitiba, fez um discurso inflamado em que acusou o governador Beto Richa de ter recebido R$ 3 milhões das concessionárias para retirar ações na Justiça.
Considerando que a maioria dos tucanos de fina plumagem já foi infectada pelo vírus da soberba, Beto Richa, que não foge à regra, sequer considerava a possibilidade de o apoio do PMDB ser dinamitado pela turma de Requião. Tanto é assim, que mesmo com o caixa do governo sofrendo de anorexia financeira, Beto e seus convivas reuniram-se à volta de uma farta e elegante mesa, na noite de quinta-feira (19), para comemorar antecipadamente a vitória que não veio.
Para embalar e aquecer a falsa certeza na noite fria da capital paranaense, Richa e seus sequazes se permitiram a taças do vinho tinto francês Chateaux Petrus, um dos mais famosos da região vinícola de Pomerol, próximo a Bordeaux. Para que o leitor avalie a extensão do estrago provocado pelo regabofe tucano, uma garrafa de Chateaux Petrus, safra 2007, não sai por menos de R$ 15 mil nas boas casas do ramo. Assim caminha a democracia!