Marli Gonçalves –
Chegam de mansinho. Portanto, se imiscuem. Sorrateiros e lépidos, pé ante pé, igual chulé, vão se criando no interior das coisas como se natural fossem. Encontramos esses seres ou alguns que nem seres serão procriando em qualquer caldo de cultura. Não sei se é o calor brasileiro, a falta de água em alguns lugares ou o excesso em outros. Sei que isso aqui está virando mesmo o samba do crioulo doido, muito doido, doidíssimo
Foi decretado o fim de qualquer pureza, certo? Nem o mal anda só com o mal, nem o bem é mais imaculado. Claro que estou pensando em política, mas você pode levar ao pé da letra em todas as direções que quiser e vai ver que tenho razão. Andam urdindo com a nossa cara. Quando a gente nota, ih! Já era.
Drogas são malhadas, e tem gente cheirando até lâmpada moída e fumando esterco. Acabo de ler que acharam um lugar que vendia açaí misturado com papel higiênico, para engrossar. Fora outras coisas. Pelo preço que anda o papel, penso qual foi usado. Bem. Arroz tem pedra. Feijão tem pedra. Não, não são descontadas no peso. Leite com formol. Café com palha. Pão deve levar ainda muito bromato no trigo – faz tempo que não vejo fiscalização. Os uísques continuam sendo batizados, embora muitos já tenham nome. Algodão purinho – com poliéster. Grupos de manifestantes infestados por alcaguetes, X-9, e agora uns tipos mascarados. Organizações policiais que prendem policiais que são os bandidos. Jornais imparciais pululando de gente completamente parcial. Rezo para que o sabão não contenha cachorros, como reza a lenda. E que nem o churrasquinho nem o tamborim usem gatos.
Sabemos que a política é um reflexo da sociedade, mas precisavam ser tão radicais? Acaso, amados leitores, estão acompanhando a montagem de chapas para as eleições que se aproximam, digo até que perigosamente se aproximam? Bem, se a resposta foi negativa, melhor. Você está se poupando de ter uma longa indisposição estomacal, que só poderá ser resolvida, se o for, em outubro. Não há música ou marchinha que descreva essas fusões quase nucleares que, mais uma vez, certeza: gerarão bombas. É samba-rock, meu irmão.
Tem quem disfarce, como a Marina Silva, por exemplo, que fez ninho dentro de um partido, e de lá de dentro, do quentinho, todos os dias mina mais um pouquinho, que isso dá até rima. Lembra aqueles filmes Alien, onde monstros gosmentos se criam e saem de dentro dos personagens matando todos até que alguém tome a providência de exterminá-los, mas no fim, no The End, para dar continuidade à saga, o espectador percebe que em algum canto deixaram um rabinho ou um bebê monstrinho que certamente se recomporá, tal qual lagartixas, para se perpetuarem em franquias cinematográficas. Alien, Alien 1- Novamente, Alien 2 – A volta, até chegarem ao Alien sabe-se lá qual número – O Extermínio Final.
No caso, aqui, o título seria Os Infiltrados, seguido por novas produções: Apertem os cintos, e isso não é um regime, Os Bons Companheiros presos, Amigos até ali, Tudo por amor ao tempo de tevê, Traição: essa é a tua hora . São muitas as possibilidades criativas, e todas remetem ao terror do Frankenstein, criador e criatura, experimentos contaminados de política de laboratório.Esse filme já vimos.
Eu, você, nós? Somos espectadores, protagonistas e ao mesmo tempo produtores. Não há meia entrada, só inteira, e a escura sala de projeção já está passando o filme antes mesmo de chegarmos aos nossos assentos.
Enquanto assistimos ao futebol, o taxímetro está rodando. Mais: como a vergonha acabou, junto com a pureza, os caras têm coragem, cara dura o suficiente, para já estar puxando do fundo de seus propósitos o mais verde e amarelo dos ufanismos. Insinuar que os bons jogos que realmente vêm ocorrendo são a prova cabal que éramos, nós, os opositores, tenebrosos pessimistas e que a Copa, ah, a Copa! Não está vendo?Uma das maiores maravilhas e redenções que esse mundo já viu, uma Seleção de combatentes. A coisa mais importante. Mais que Papa argentino. Mais que bebê de proveta. Ouço murmúrios até de que a Dilma resolveu ser toureira e entrar na arena para entregar a Taça ao vencedor. Vai me fazer lembrar de uma parte roxa de um outro desgovernante. (Deverá aumentar o consumo de gengibre para as gargantas que estiverem no Maracanã exercerem seus momentos de, digamos, exprimir-se em uníssono).
Chiclete eu misturo com banana. Digam-me: como é que a gente vai sair dessa, agarrados a quais saias ou calças? É PMDB com PTB, sem PDT, que está com PSDB, PV, PSB, DEM, PC, PC do B, com PT, PSD que está com todos, PP, PR, PRB, PSC. Mais pissóis, nanicos, naniquinhos e outros com segundinhos que, num ato de desapego, entregam por alguns dobrões, Aezões, Lulões, Papudões. Eles se distribuem.
Na urna, quando aquele barulhinho de sininho soar, a cada vez, uma esperança vai morrer em algum canto do país. Creio que entenderemos finalmente porque até o Sarney resolveu se aposentar após mais de meio século de participação em qualquer beirada. Mais do que academia, ele já fez escola.
Já deixou o rabinho da lagartixa, o bebê monstrinho, junto com os marimbondos de fogo.
Brasil, SOS, São Paulo, SOS, Federação, SOS, 2014.
(*) Marli Gonçalves é jornalista – Deseja sinceramente a todos um bom segundo semestre, uma outra virada e uma rodopiada. Que a gente aguente firme o enjoo até o nascimento de uma nova Nação.
Tenho um blog, Marli Gonçalves, divertido e informante ao mesmo tempo, no http://marligo.wordpress.com. Estou no Facebook. E no Twitter @Marligo