Fingindo de morto – Governado do mais importante estado brasileiro e candidato à reeleição, o tucano Geraldo Alckmin (SP) insiste em se fingir de morto diante de escândalos que marcam a órbita de sua administração. Quando veio à tona o imbróglio do cartel do Metrô, Alckmin anunciou a criação de uma auditoria independente para apurar os fatos sem a interferência do governo, mas até agora o grupo não deu qualquer notícia do que foi levantado acerca do caso. Apesar da demora, o governador paulista não fez qualquer menção de cobrar mais celeridade da tal auditoria, provavelmente porque está contando com a memória curta e nada prodigiosa do eleitorado.
O mesmo ocorreu em relação a Robson Marinho, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo e acusado de cobrar propina de empresas do setor metroferroviário e manter ilegalmente na Suíça uma conta bancária com saldo invejável. As autoridades suíças enviaram documentos comprovando a titularidade da tal conta, mas Marinho nega qualquer envolvimento no escândalo. Fora isso, o patrimônio de Robson Marinho cresceu de forma assustadoramente meteórica e inexplicável.
Robson Marinho ficou afastado durante um período das atividades do TCE-SP, mas já retornou à labuta como se nada tivesse ocorrido. Geraldo Alckmin não tem ingerência direta no Tribunal, mas deveria ter vindo a público para sugerir o afastamento de Marinho, que foi indicado ao cargo por integrantes do PSDB.
Como se não bastasse os escândalos acima, uma nova confusão surge no cardápio do Palácio dos Bandeirantes. Secretário de Habitação do governo de Geraldo Alckmin, Marcos Rodrigues Penido intermediou junto à empresa Tejofran duas doações eleitorais para o PSDB, conforme mostra e-mail encontrado por autoridades federais em buscas feitas em computadores da companhia.
A Tejofran é acusada de integrar o cartel de trens que fraudou licitações em São Paulo entre 1998 e 2008, em sucessivos governos do PSDB. As contribuições, no valor de R$ 25 mil cada, citadas no e-mail foram feitas durante a campanha municipal de 2012, época em que Penido era diretor-técnico da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Penido foi promovido a secretário estadual em abril passado, após ter sido secretário-adjunto de Silvio Torres.
Por ocasião das doações, a CDHU mantinha contrato com um consórcio integrado pela Tejofran. Logo após as eleições de 2012, o tal consórcio conseguiu com a CDHU aditivo contratual no valor de R$ 3 milhões. A legislação eleitoral proíbe diretores de empresas públicas de arrecadarem fundos para partidos políticos, função que cabe aos tesoureiros das legendas e das campanhas.
O mínimo que Alckmin deveria ter feito, ao saber do fato, era afastar Penido do cargo, o que não significa condenação antecipada, mas uma atitude que demonstra lisura por parte do governo, ao mesmo tempo em que preserva o currículo do acusado.
Atitude semelhante à sugerida tomou o então presidente Itamar Franco, que afastou o chefe da Casa Civil, Henrique Hargreaves, enquanto a Polícia Federal investigava as denúncias de corrupção. Amigo de longa data do então presidente da República, Hargreaves foi inocentado pela PF e retornou ao posto ainda mais forte, Sem contar que durante as investigações o seu currículo foi preservado.
Em meio a uma disputada campanha eleitoral, Alckmin não apenas erra ao não tomar providências, mas mostra falta de sensibilidade política. Os tucanos são viciados em apontar o indicador na direção dos adversários, mas fingem-se de mortos quando estão na alça de mira.