Pé pelas mãos – A Polícia Civil do Rio de Janeiro mostrou competência ao desbaratar a quadrilha de cambistas internacionais que pretendia faturar perto de R$ 200 milhões com a venda ilegal de ingressos da Copa do Mundo, mas erra ao anunciar o indiciamento do criminalista Fernando Fernandes por favorecimento pessoal. Advogado de Raymond Whelan, CEO da empresa Match Services, que tinha a exclusividade de venda dos ingressos da Copa, Fernandes é acusado pela polícia de ter ajudado o executivo a fugir do elegante hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.
De acordo com o delegado Fábio Barucke, responsável pelo inquérito, há indícios de que o advogado colaborou para que Whelan, que já está preso, saísse do hotel antes da chegada dos policiais. Imagens das câmeras de segurança do Copacabana Palace mostram Fernandes e Whelan na área de funcionários do hotel que funcionou como quartel-geral da FIFA durante a competição.
A saída de funcionários do hotel é normalmente utilizada por hóspedes destacados que querem fugir do assédio da imprensa. Como Whelan já havia sido preso, mas posteriormente colocado em liberdade, era natural que ele quisesse evitar os jornalistas. Ademais, os hóspedes só podem utilizar a saída de funcionários sem bagagens, regra cumprida por Whelan.
Se o objetivo era de fato a fuga, Whelan e o advogado não teriam se sentado no banco de um ponto de ônibus, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana (atrás do hotel), para conversar.
O ucho.info não está a defender Raymond Whelan, até porque não tem procuração para tanto, assim como desconhece o inquérito policial, mas é preciso salientar que indícios não é sinônimo de culpa, como quer fazer valer o delegado Barucke.
No momento em que Raymond Whelan deixou o Copacabana Palace, ainda está vigendo o habeas corpus que colocou em liberdade o CEO da Match. Considerando que o executivo já havia entregado à Justiça o seu passaporte e fora informado de que seu nome constava na lista de procurados, disponibilizada em todos os postos de imigração do País, fugir era a opção menos recomendada.
Ademais, a prisão dos envolvidos no esquema criminoso desmontado no rastro da Operação Jules Rimet é temporária, pois a Constituição Federal é clara ao definir a presunção da inocência, o que dá ao acusado o direito de se defender em liberdade.
A pirotecnia excessiva que vem sendo utilizada pela Polícia Civil do Rio poderá comprometer a eficácia da operação que muitas autoridades tentaram empreender, sem sucesso, em diversas partes do planeta. O que os policiais tentam fazer em relação ao criminalista Fernando Fernandes é abusar do “achismo”, pois não se pode falar em fuga antes da chegada dos agentes da lei ao hotel. Pelo que consta, uma investigação policial tem como base fatos e provas, não bola de cristal.