(*) Carlos Brickmann –
Stanislaw Ponte Preta, um dos maiores cronistas do Brasil, autor do monumental Samba do Crioulo Doido, juntou o que lia e ouvia e lançou o Febeapá – Festival de Besteiras que Assola o País. Stanislaw morreu há 46 anos, mas o Febeapá vai bem, obrigado. Mas o crioulo doido do samba está superado.
Três exemplos notáveis mostram o vigor do inesgotável Febeapá:
1 – O deputado federal Jean Willys, PSOL, militante da luta pelos direitos dos homossexuais, acha possível que o avião da Malaysia Airlines tenha sido derrubado por homofobia, porque nele havia cerca de cem pesquisadores da cura da Aids. “Diante desses fatos – e sem querer estimular teorias da conspiração – questiono se o fato de haver especialistas em HIV/AIDS a bordo terá sido mera coincidência ou pode apontar para outra explicação sobre o abatimento da aeronave numa região da fronteira entre dois países conservadores? É uma pergunta!”
2 – De Dilma: “É prudente tomar cuidado, porque tem um segmento da imprensa dizendo que o avião que foi derrubado estava na rota da volta do avião do presidente Putin. Coincidia com o horário e o percurso (…) Então, o governo brasileiro não se posicionará quanto a isso até que fique mais claro (…)” E, é óbvio, a ingênua segurança russa deixaria o presidente sobrevoar uma zona de conflito.
3 – De Marina Silva (PSB), candidata a vice de Eduardo Campos, ao inaugurar o comitê central da campanha: “Será um polo estabilizador (…) para realizar a agregação dispersiva”. E também, acrescentemos, para dispersar a agregação.
Apelo
Dunga voltou. Volta, Stanislaw Ponte Preta! Há muita gente no país fazendo uma força imensa para facilitar a organização de um novo Febeapá!
Os problemas
Franklin Martins e João Santana não chegam a ser amigos. O PMDB é aliado do PT mas petistas cuidadosos não aceitarão um cafezinho oferecido por peemedebistas. Dilma adora seu ministro Gilberto Carvalho, desde que bem passado e com fritas. Mas o maior problema de Dilma, na campanha da reeleição, não tem muito a ver com o mau relacionamento de seu pessoal: o problema é a economia. A inflação cresce e aparece na feira. A economia cresce menos que a população (o que significa menos renda por pessoa). Economia estagnada com preços em alta explica por que Dilma perdeu pontos nas pesquisas. E, o que é interessante, sem que esses pontos sejam transferidos à oposição.
Dilma não tem problemas com os adversários, que até agora não mostraram muita capacidade de empolgar eleitores. Aquilo que perdeu, perdeu para si própria. Tem de mudar este jogo, ou corre o risco de ser batida por candidatos que pouco fazem para ganhar.
Aeroporto bobo
A palavra “candidato” vem do latim “candido”, branco, a cor da toga de quem disputava algum cargo. A toga branca simbolizava um pretendente sem manchas. E ao candidato, como se dizia da mulher de César, não basta ser imaculado. Precisa também parecer imaculado. O aeroporto construído no Governo de Aécio Neves em Minas, em terras desapropriadas a seu tio-avô e cuja indenização ainda se discute nos tribunais, viola todas essas regras: por mais honesta que seja a operação, abre flanco para dúvidas. E há poucas coisas piores numa campanha do que ter de se explicar – ainda mais numa história dessas.
Resumindo: o Governo mineiro desapropriou parte de uma fazenda da família da avó de Aécio, Risoleta Neves. No final do mandato de Aécio, construiu o aeroporto, por R$ 14 milhões. Como a desapropriação continua sendo debatida na Justiça, o aeroporto não pode ser homologado. Enquanto isso, quem quiser visitá-lo tem de pedir a chave aos donos da fazenda, da família Tolentino, parentes de Aécio. Dizem os tucanos que tudo tem explicação. Mas o simples fato de ter de explicar-se mostra que, em termos políticos, fazer o aeroporto no lugar onde está foi uma bobagem.
Quem inventou o trabalho?
O prefeito paulistano Fernando Haddad, PT, bem antes de completar dois anos de mandato, tirou férias pela segunda vez. Foi discreto: nada publicou no Diário Oficial, não disse quando volta.
Talvez, ao descansar, esteja atendendo a Lula, que lhe pediu para ajudar a candidatura de Alexandre Padilha ao Governo.
Gato faminto
Perto das eleições, os Governos não podem fazer propaganda. Mas compensam: nos últimos meses, governos estaduais dos mais diversos partidos e o Governo Federal multiplicaram gastos publicitários (o levantamento é do Ibope Media). Nosso dinheiro foi amplamente utilizado para mostrar como temos governos maravilhosos, realizadores, padrão FIFA.
Em maio, o Governo Federal gastou R$ 379 milhões em propaganda – 97% mais que em maio do ano passado, quando não havia eleições. Em junho, torrou R$ 419 milhões, 93% mais que em junho de 2013. Os governos estaduais gastaram R$ 163 milhões em maio (54% mais que em maio de 2013) e R$ 196 milhões em junho (130% mais que em junho do ano anterior).
Quando vierem as histórias sobre falta de verbas para segurança, para salários de professores, para abastecer hospitais com remédios, para fazer aquilo que governos foram eleitos para fazer, parte da explicação é esta.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.