Curto-circuito – Contrariando os discursos ufanistas que sobram no Palácio do Planalto acerca da economia brasileira, cada vez mais empacada, a produção da indústria nacional registrou queda em junho em 11 dos 14 locais pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As maiores quedas foram registradas no Amazonas (-9,3%), Paraná (-7,5%), Pernambuco (-7,4%) e Ceará (-5,4%).
De acordo com o levantamento do IBGE, a atividade industrial no mês em junho teve queda média de 1,4%, na comparação com o mês anterior, o maior recuo desde setembro de 2009, quando o índice alcançou baixa de 7,4%.
Na sequência, entre as baixas, aparecem os índices da região Nordeste (-4,4%), Santa Catarina (-4,0%), Rio Grande do Sul (-2,3%), Pará (-2,0%) e Minas Gerais (-1,7%). Recuaram abaixo do índice médio nacional (- 1,4%): Bahia (-1,1%) e São Paulo (-1,0%).
Desindustrialização acelerada
Em meados de 2005, o editor do ucho.info alertou o governo federal para o perigo que representavam os primeiros passos da desindustrialização no Brasil. Naquela época, os palacianos tinham pela frente uma missão árdua e desafiadora: tirar o então presidente Lula do escândalo do Mensalão do PT, o maior e mais ousado caso de corrupção da história nacional. Por conta disso, os estafetas do governo preferiram dar as costas ao alerta, chamando de irresponsáveis os integrantes deste site.
Não se trata de bola de cristal ou qualquer tipo de adivinhação, mas não era preciso muito esforço do raciocínio para perceber que um cenário nada sombrio surgiria na seara da indústria verde-loura, que desde então vem sangrando diante de um governo inoperante e incompetente.
A situação da indústria só no se agravou porque o governo decidiu lançar mão de uma estratégia que só poderia ser adotada de forma pontual e por curto período, como também alertou o site. A de incentivar o consumo como forma de combater os efeitos da crise, tendo a redução da carga tributária em alguns setores e o crédito fácil como pilares principais. A medida foi estendida muito além do limite lógico e até hoje está em vigência, apesar de não mais produzir efeitos positivos.
Piorando o que já era ruim
Considerando que o governo petista de Dilma Rousseff está perdido e sem saber o que fazer para reverter o caos que só avança, fatos novos mostram que o Brasil caminha a passos largos na direção do despenhadeiro da crise econômica.
Um dos setores mais beneficiados pelas medidas de estímulo à economia, a indústria de automóveis há muito vem enfrentando dificuldades, que aumentaram por conta do arrefecimento do consumo e das dificuldades para obtenção de crédito. Fora isso, a crise econômica que chacoalha a Argentina interferiu na indústria automobilística brasileira.
Em julho, a produção de veículos no Brasil recuou 20,5%, na comparação com o mesmo mês de 2013, de acordo com dados divulgados, nesta quarta-feira (6), pela Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Segundo a entidade, foram produzidas 252,6 mil unidades em julho de 2014, enquanto no ano anterior a produção alcançou, no mesmo período, 317,9 mil unidades.
Em relação a junho deste ano, mês que registrou a produção 215,9 mil unidades, foram montados 17% veículos a mais. Mesmo com a retomada, o acumulado nos primeiros sete meses do ano apresenta queda de 17,4%, com 1,82 milhão de unidades, na comparação com o mesmo período de 2013, quando a produção de veículos alcançou a marca de 2,2 milhões de unidades.
Pane elétrica
Outro setor que transformou-se em uma espécie de usina de reclamações é o da chamada linha branca (fogões, geladeiras e lavadoras). Sentindo o impacto do lento crescimento da economia nacional, os fabricantes de produtos da linha branca fecharam o primeiro semestre do ano com o pior desempenho de vendas da última década. De janeiro a junho deste ano, o número de eletrodomésticos comercializados da indústria para o varejo registrou queda de 12%, na comparação com o mesmo período de 2013.
O resultado dos primeiros seis meses do ano foi influenciado pelo forte recuo no segundo trimestre. De acordo com a Eletros, associação que reúne as indústrias do setor, entre abril e junho as vendas industriais da linha branca caíram 20% na comparação anual.
O desanimo que tomou conta do setor continua reinando, apesar da conhecida ajuda do governo federal para impulsionar as vendas. Os eletrodomésticos continuam com Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido, benefício inaugurado logo nos primeiros capítulos da crise de 2009, que na verdade, em termos globais, começou um ano antes. Fora isso, os eletrodomésticos integram o programa “Minha Casa Melhor” (apêndice do “Minha Casa, Minha Vida”), que disponibiliza aos cidadãos de determinada faixa de renda uma linha de crédito facilitado de R$ 5 mil para equipar a casa adquirida no programa.
Paralisação, a senha da demissão
Fabricantes de automóveis e de eletrodomésticos adotaram a mesma receita para enfrentar a crise e adequar a produção à queda na demanda. Férias coletivas, não reposição das vagas dos trabalhadores que pediram demissão, suspensão temporária dos contratos de trabalho, o chamado “lay-off”.
Nem assim ambos os setores conseguiram escapar dos efeitos da crise que cada vez mais preocupa os brasileiros. Como reflexo desse impasse, o estoque de automóveis e eletrodomésticos encalhados chega a assustar. “Foi o pior primeiro semestre dos últimos dez anos”, disse Armando Valle, vice-presidente de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Whirlpool Latin America, maior fabricante do setor e proprietária das marcas Brastemp e Consul. Para o presidente da Eletros, Lourival Kiçula, a queda no segundo trimestre do ano foi maior do que o setor esperava.
Esse cenário de ajustes mal sucedidos já é interpretado por alguns economistas como um prenúncio de demissões no segundo semestre, período em que normalmente as contratações crescem por conta das festas de final de ano. A situação no campo do emprego só não será pior porque alguns setores contratarão trabalhadores temporários para fazer frente ao consumo decorrente do Natal.