Chave de cadeia – Fosse o Brasil um país sério e com autoridades responsáveis, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), já estaria longe do Palácio dos Leões, sede do Executivo estadual. Isso porque a filha do caudilho José Sarney, também do PMDB, mentiu sobre o escândalo envolvendo o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato, e a empreiteira Constran.
Contadora do doleiro, Meire Bonfim da Silva Poza, que já deveria estar presa por ter colaborado com o esquema de lavagem de dinheiro e pagamento de propinas, disse no Conselho de Ética que a Constran pagou a Youssef uma boa quantia em dinheiro para subornar o governo maranhense. A estratégia criminosa tinha como objetivo furar a fila de pagamento de precatórios por parte do Executivo maranhense.
Quando foi preso pela Polícia Federal, Alberto Youssef estava em São Luís, capital do estado. Segundo as investigações, o doleiro foi ao Maranhão para, em nome da Constran, entregar parte da propina que serviria de senha para liberar o pagamento antecipado de um precatório no valor de R$ 120 milhões, referente a uma obra realizada no estado em 1980.
Semanas após a prisão de Youssef, sem explicação convincente e surpreendendo a todos, José Sarney desistiu de disputar a reeleição ao Senado pelo estado do Amapá. Na sequência foi a vez da filha, Roseana, anunciar que estava se retirando da vida pública. Ou seja, naquele momento tudo indicava que Roseana Sarney desistira de concorrer ao Senado. Tudo muito estranho, mas que a sequência dos fartos relacionados à Operação Lava-Jato certamente explica.
Tão logo surgiu a informação de que a Constran havia subornado o governo do Maranhão, a mesma Roseana não perdeu tempo e disse, com a desfaçatez que lhe é peculiar, disse que cumpriu determinação judicial. “Nós só fizemos o que a Justiça mandou e com a anuência do Ministério Público. E decisão judicial a gente não discute, a gente cumpre”, disse a governadora. Acontece que em seguida o Judiciário do Maranhão veio a público negar que determinara o pagamento antecipado do precatório à Constran. Aliás, a dívida da Constran foi excluída do rol de dívidas do estado em setembro de 2013.
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal têm o dever de investigar a governadora Roseana e todos os seus quejandos, pois é inaceitável que por ingerência política do clã comandado por José Sarney seja suprimido um capítulo do maior escândalo de corrupção da história nacional, que pode ter movimentado muito mais do que os R$ 10 bilhões inicialmente anunciados.
A explicação de Roseana Sarney para o imbróglio é tão infantil quanto pífia, por isso é preciso que as investigações da Operação Lava-Jato avancem na direção do Maranhão. O Brasil precisa urgentemente ser passado a limpo, mas isso não significa que os coronéis da política brasileira saiam de cena à sombra da impunidade. Roseana e o pai, o ainda senador José Sarney, devem explicações à sociedade e principalmente à Justiça.
Para quem vez por outra usa o conglomerado de comunicações da família para intimidar jornalistas que disparam críticas ao clã, como foi o caso do editor do ucho.info, Roseana Sarney está mostrando não apenas a verdadeira face, mas, sim, um currículo imprestável. Em suma, à cena volta o velho ditado que garante ser o tempo o senhor da razão.