Cheio de dengo – Para um candidato que por enquanto foi atropelado pela comoção incorporada a uma candidatura adversária, o tucano Aécio Neves participou do debate entre presidenciáveis como se fosse um frequentador do Quai d’Orsay, reduto à margem do Rio Sena onde estão localizados alguns importantes órgãos públicos da Franca, como o Palácio Bourbon, a Assembleia Nacional Francesa e o Ministério das Relações Exteriores do país europeu.
O máximo que Aécio se permitiu foi atacar a presidente Dilma Rousseff ao dizer que a candidata petista insiste em olhar para o passado porque não quer discutir o presente e nada tem para apresentar em relação ao futuro. Para quem ainda sonha em levar o PSDB de volta ao Palácio do Planalto, depois de doze anos longe da sede do poder central, Aécio Neves insiste no discurso esculpido com o cinzel do politicamente correto, como se no Brasil esse tipo de postura vencesse eleições.
A gestão petista está emoldurada por um sem fim de atos de corrupção e a derrocada da economia nacional, mas o candidato tucano insistiu em permanecer sobre o salto alto e não abriu mão dos famosos punhos de renda, marca registrada da legenda. Se até o Partido dos Trabalhadores já começa a falar em derrota depois da divulgação, na noite de terça-feira (26), dos resultados da pesquisa Ibope sobre a corrida eleitoral, o melhor que o tucanato pode fazer é começar a se mexer, pois o tempo urge.
Vai além dos limites do inaceitável o fato de o caso da roubalheira na Petrobras, que veio à tona na esteira da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, ter sido tratado ao longo do debate de forma quase superficial e desanimadora. O esquema criminoso comandado pelo doleiro Alberto Youssef, que começou com a conivência bandoleira do finado José Janene, tem servido para a oposição conquistar espaço extra na mídia, pois fora do noticiário a peçonha dos adversários do Palácio do Planalto parece não ser o mesmo que estampa as manchetes.
O grande erro da campanha tucana é que os defensores da candidatura de Aécio Neves não aceitam críticas e, pior, acreditam em milagres. Como se não bastasse, a claque tucana ataca com veemência, em especial na rede mundial de computadores, os que têm experiência na seara política e enxergam erros crassos na campanha do candidato do PSDB. No país em que o exercício da política é confundido com a ladroagem explícita, só mesmo um irresponsável é capaz de acreditar que em cinco semanas tudo pode mudar. Se nada for feito, a partir desta quarta-feira (27), no seio da campanha tucana, os “aecistas” podem preparar o lenço, pois muitas serão as lágrimas decorrentes da derrota.
Como sabem os leitores, o ucho.info não faz campanha para esse ou aquele candidato, mas a experiência do editor, com mais de trinta anos de estrada profissional, nos dá tranquilidade para não apenas noticiar a verdade dos fatos, mas também para apontar na direção do que seria melhor para o Brasil e os brasileiros. O que não podemos fazer é embarcar em uma fila de ufanistas que estão tomados por uma persistente miopia política.