Cordeiro do mal – A imprensa brasileira perde ao menos uma nesga da lógica a cada dia que passa. Vários veículos de comunicação noticiaram, nesta segunda-feira (8), que Dilma Rousseff, a presidente-candidata, não sabia dos escândalos ocorridos na Petrobras. A declaração surgiu após os primeiros estragos provocados pela divulgação de pequena parte dos dados repassados por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal, a procuradores e delegados federais, em Curitiba.
Qualquer governante seria capaz de repetir a mesma cantilena, até porque reconhecer a própria culpa ou conivência é suicídio político. No caso de Dilma, a enfadonha frase “eu não sabia de nada” tem um precedente forte. Foi usada por Lula, seu mentor, durante oito anos de um governo marcado por escândalos de corrupção e transgressões outras. Sendo assim, somente um lunático seria capaz de noticiar sem qualquer reparo tal informação.
Como boa discípula, Dilma não poderia dar outra desculpa que a não de que foi pega de surpresa. Trata-se de mais uma mentira com a chancela palaciana, pois na era Lula a atual presidente esteve ministra de Minas e Energia e em seguida chefiou a Casa Civil. Em suma, ela sabia de tudo o que acontecia na Petrobras, mas agora quer passar por tola.
Para quem conseguiu participar do surrupio do recheado cofre de Adhemar de Barros, durante a ditadura, no Rio de Janeiro, Dilma (Wanda, Estela, Patrícia…) nada tem de tola, pelo contrário. É muito mais esperta do que imaginam os bons samaritanos. Levando-se em conta essa esperteza, Dilma sabia que seu então “patrão”, o apedeuta lobista, jamais conseguiria apoio recorde no Congresso Nacional sem pingar o vil metal nas mãos de cada integrante da chamada base aliada. De igual modo, a petista sempre soube das “maracutaias” de Paulo Roberto Costa, quer nos tempos de ministra, quer nos dois primeiros anos de seu desgoverno.
Essa alegada inocência de Dilma, que por certo não convence até o mesmo o mais crédulo brasileiro, é conversa fiada da pior qualidade. É fato que a relação entre políticos é marcada por estranhezas e hipocrisias, mas não se pode deixar de desconfiar da adulação repentina de alguns parlamentares próximos ao poder central. Falecido em 14 de setembro de 2010 por conta de uma cardiopatia – há quem suspeite que o “Xeique do Mensalão” foi eliminado –, José Janene não apenas mandava e desmandava no Congresso, como disparava recados duros a Lula – inclusive com xingamentos à mãe do ex-metalúrgico –, a quem exigiu a nomeação de Paulo Roberto Costa para uma diretoria da petroleira.
Alcançado o objetivo, Janene passou a bajular Dilma Rousseff com alguns mimos. É fato que de chofre as cortesias não exibiam a essência maldosa que sempre imperou nos domínios de José Janene, mas quem conheceu a intimidade do cotidiano do então deputado federal pelo PP sempre soube de suas segundas intenções. Nos regabofes que oferecia em sua fazenda, em Londrina – outros aconteciam em sua residência – Janene não escondia de ninguém sua intimidade com a outrora chefe da Casa Civil.
O então deputado despachava a Brasília, com certa constância, alguns de seus capatazes, todos sob a batuta de Meiheidin Janani. Os empregados do deputado quadrilheiro tinham a incumbência de, na capital federal, organizar churrascos para Dilma e seus convivas, todos com direito a carneiro assado, uma das especialidades das fartas mesas oferecidas por Janene aos amigos e comparsas de ultrajes. Pelo menos era isso que José Janene fazia questão de mostrar quando, em Londrina, ordenava a ida de seus estafetas a Brasília, sempre com um carneiro no dorso. Essa afirmação, sem titubeios, é do empresário que, juntamente com o editor deste site, fez as denúncias que permitiram a realização da Operação Lava-Jato, pela Polícia Federal.