Barril de pólvora – Ex-contadora das empresas do doleiro Alberto Youssef, Meire Bonfim da Silva Poza revelou, nesta quarta-feira (8), em depoimento na CPMI da Petrobras, que o empresário Enivaldo Quadrado, condenado no processo do Mensalão do PT, pediu-lhe para receber, mensalmente, do jornalista Breno Altman, R$ 15 mil. “Ele me dizia que era o PT pagando a multa dele do mensalão”, afirmou a contadora. Altmann, que é ligado ao ex-ministro José Dirceu, seria, segundo Meire, o representante indicado pela direção petista para fazer o pagamento.
A contadora respondia a uma pergunta do líder do PPS na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), quando fez a revelação. O parlamentar já pediu a convocação de Breno Altman e também a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do jornalista. “A senhora acaba de revelar que após o mensalão existe o prêmio do mensalão para pagar o silêncio dos bandidos que protegem não só o PT, mas todos os envolvidos”, disse Bueno.
Meire deu detalhes sobre o pagamento. Afirmou que recebeu o dinheiro durante três meses a pedido de Quadrado e que os pagamentos eram feitos na casa do jornalista, em São Paulo. Disse ainda que uma das parcelas foi paga em dólares. “Eu lembro que ele tinha uma maleta de dinheiro”, disse Meire ao responder a pergunta do líder do PPS.
Confrontada com uma foto da prisão de José Dirceu após a condenação por participação no Mensalão do PT, a ex-contadora reconheceu Breno Altman, que aparece ao lado do ex-ministro.
“Foi esse que lhe entregou o dinheiro?”, perguntou o deputado.
“Sim, esse de camisa vermelha”, confirmou Meire Poza.
Chantagem
Meire Poza também disse que tinha conhecimento de um contrato, no valor de R$ 6 milhões, para pagamento de chantagem feita contra figuras eminentes do PT, com o objetivo de que não fossem revelados detalhes do assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, que pagou com a vida por discordar da destinação dada ao dinheiro da propina cobrada de empresários da cidade do Grande ABC.
“Tive acesso ao contrato. O senhor Enivaldo (também envolvido na operação Lava-Jato, da Polícia Federal) me pediu para que o guardasse”, disse Poza o ser questionado sobre o tema.
O contrato guardado pela contadora foi firmado entre a 2S Participações, do mensaleiro Marcos Valério, e a empresa Expresso Nova Santo André, do empresário Ronan Maria Pinto. O documento, apreendido durante a operação Lava-Jato, da Polícia Federal, tratava de um empréstimo de R$ 6 milhões entre a agência de propaganda do operador do Mensalão do PT e o empresário de Santo André.
Valério mencionou contrato
Em 2012, durante depoimento ao Ministério Público Federal, Marcos Valério revelou a existência desse contrato. Ele disse que foi procurado por Silvinho Pereira, então secretário-geral do PT, que lhe relatou que Gilberto Carvalho, Lula e José Dirceu estavam sendo chantageados pelo empresário Ronan Maria Pinto em relação à trágica e covarde morte do então prefeito de Santo André.
Marcos Valério revelou também que em encontro no Hotel Puma, em São Paulo – com a participação de Ronan Maria Pinto, Silvio Pereira e Breno Altman, que à época trabalhava para José Dirceu – ficou acertado que o jornalista, o mesmo das parcelas de R$ 15 mil reveladas por Meire Poza, seria o intermediário da negociação.
Empreiteiras e “money delivery”
O líder do PPS na Câmara dos Deputados insistiu na convocação de uma reunião administrativa da CPMI para que sejam votados os pedidos de quebra de sigilo, principalmente das empreiteiras. “Já temos informações suficientes para essas quebras, mas parece haver uma blindagem com relação às empreiteiras, e não vamos chegar a lugar algum sem investigar essas empresas”, declarou.
Rubens Bueno exibiu um diagrama sobe o funcionamento do esquema de corrupção na Petrobras, com o dinheiro saindo por contratos superfaturados ou mesmo fictícios, emissão de notas frias e a volta dos recursos para as empreiteiras ou sua distribuição por Alberto Youssef para políticos e partidos.
“O pagamento de propina hoje é algo tão refinado que é difícil rastrear porque se criou o money delivery, a propina entregue em domicílio”, disse o deputado, ao lamentar “a que ponto chegou a sofisticação do esquema pós mensalão”.
Empresas fantasmas de energia
Rubens Bueno comentou ainda reportagem da revista IstoÉ, que denuncia a falta de energia no país se deve ao fato de 70% das empresas do setor não existem de fato e nunca existirão. “A situação é grave e envolve BNDES, pequenos bancos que quebraram, mas isso não comove o governo, que não toma providências”.
Vale lembrar aos leitores que a primeira denúncia sobre as empresas fantasmas de energia partiu do ucho.info, em 2009, quando o esquema criminoso que culminou com a Operação Lava-Jato ainda era comandado por José Janene, que tinha como “trem pagador” de suas estripulias o compadre e doleiro Alberto Youssef. É importante destacar que a imprensa brasileira se acostumou a noticiar determinados fatos como sendo manchetes exclusivas, sem ao menos se ater ao compromisso de citar a fonte.
Segundo afirmou Bueno, o dinheiro emprestado pelo BNDES a essas empresas fantasmas desaparece após incorporações feitas por empresas de investimento, participações e holdings controladas por offshores em paraísos fiscais. “Outra revelação estarrecedora é que muitos bancos pequenos e médios que quebraram foram usados para lavar dinheiro”.
De acordo com o parlamentar, o País está prestes a presenciar a maior crise política de sua história. “Está tudo nas delações premiadas (de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef), a que a CPMI está pedindo acesso”. Para o parlamentar, o país precisa “passar a limpo a quadrilha que tomou conta do poder e que nele quer se manter a qualquer preço”.