CPMI da Petrobras: oposição aponta adulteração em atestado médico de diretor da estatal

petrobras_15Armação ilimitada – Líder do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (PR) pediu às presidência da CPMI da Petrobras para que investigue possível adulteração no atestado médico apresentado pelo diretor de Abastecimento, José Carlos Cosenza, para não comparecer à audiência agendada para esta quarta-feira (22).

O documento, assinado por um médico do Rio de Janeiro, informa que o funcionário da estatal teve intercorrências clínicas e precisava permanecer em repouso por 48 horas. O parlamentar também cobrou explicações para o fato de a companhia, como instituição, ter enviado à comissão um documento informando que o diretor de Abastecimento teve problemas de saúde.

“Não convocamos pessoas jurídicas, mas sim uma pessoa física”, justificou Bueno, completando ter achado “estranha” a atitude da Petrobras. O líder colocou sob suspeita o atestado apresentado por Cosenza porque nele não havia sequer menção ao CID (Código Internacional de Doenças), que a Câmara e o Senado exigem.

Já o Democratas, por meio do líder Mendonça Filho (PE) e do deputado federal Onyx Lorenzoni (RS), sugeriu que o ofício enviado à Câmara dos Deputados pela Petrobras faz parte da estratégia do PT para evitar mais um constrangimento às vésperas da eleição do segundo turno.

“Gostaria de manifestar o meu espanto com a súbita doença do diretor Cosenza no dia de seu depoimento na CPMI. Isso mais me parece uma farsa comandada pelo marketing da campanha da presidente Dilma”, definiu Mendonça Filho.

Assim como outros parlamentares da oposição, os deputados democratas apontaram suposta fraude no atestado médico, que não destacava a doença pela qual Cosenza foi afastado. Após a divulgação do atestado pela imprensa, o documento passou por uma alteração com a informação de que o “enfermo” estaria sofrendo de “crise de hipertensão”.

Tanto Mendonça quanto Onyx pediram que uma perícia técnica avaliasse qualquer adulteração do material. “Vamos avaliar se a doença é verdadeira ou se foi invenção para que ele não aparecesse”, afirmou Mendonça.

CID com atraso

O presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), disse que o CID fora enviado depois. Rubens Bueno reagiu indignado ao receber cópia do atestado modificado: “esse atestado foi adulterado, pois a letra que informa o código é diferente da letra do médico”. Em função disto, o senador prometeu que mandará investigar “a notícia crime” que Bueno apresentou. O deputado ainda solicitou que seja feito um exame grafotécnico no atestado para que se descubra quem foi o responsável pela adulteração.

O líder pediu também que a presidência solicite ao CRM (Conselho Regional de Medicina) do Rio de Janeiro que apure a fidedignidade do documento. “Não é possível que às 9h30 do dia do depoimento, com o Brasil inteiro esperando que o senhor Cosenza explique as dezenas de ligações e reuniões com Paulo Roberto Costa após este se demitir da Petrobras, recebamos um atestado sem CID e um documento da empresa”, lamentou.

“Corruptice crônica”

Bueno é um dos autores da convocação de Cosenza, que sucedeu Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento. A operação Lava Jato descobriu que Cosenza pode ter dado continuidade ao esquema de cobrança de propina das empresas que tinham contrato com a Petrobras, inaugurado por Costa. O dinheiro era dividido entre o PT, PP e PMDB, partidos da base aliada do governo Dilma.

Segundo Bueno, a doença de Cosenza é “petezisse aguda e corruptice crônica”. “Era esse atestado que o médico deveria ter dado. Será que ele também vai dar atestados de intercorrências clínicas a outros ausentes da CPMI?”, questionou o deputado, se referindo a deputados e senadores que não comparecem a comissão e inviabilizam a votação de requerimentos de quebra de sigilo de empreiteiras, políticos, funcionários públicos, empresários, dirigentes partidários e demais pessoas envolvidas nesse escândalo do Petrolão.

Quais eram os assuntos?

Autor do requerimento de Cosenza, o líder do PPS indagou quais seriam os assuntos dos encontros e telefonemas entre o ex-diretor de Abastecimento e seu sucessor. “De que tratavam, da distribuição do dinheiro, 1% para o PP, 2% para o PMDB e 3% para o PT? Esse mesmo PT que chama bandidos presos do Mensalão de heróis, em vez de condenar o que eles fizeram?”

“Estamos diante do enterro desta CPMI”, lamentou Bueno. “Prorrogar para que, se não se quebra os sigilos bancário, fiscal e telefônico das grandes empreiteiras, dos políticos e partidos envolvidos nesse processo de corrupção?”, salientou.

Bueno disse ainda que a nação precisa saber tudo o que aconteceu na Petrobras “para passar a limpo esse triste episódio da maior empresa brasileira ser tomada por uma quadrilha e nós temos que, definitivamente, esclarecer ao país”.

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