Fio trocado – O País não pode continuar vivendo à sombra de uma enxurrada de teorias da conspiração. Qualquer pequeno movimento no cenário político nacional é motivo para as mais variadas teorias conspiratórias, todas contra um ou outro governante. Se a presidente Dilma Rousseff mudar o penteado, por certo surgirá algum alucinado para dizer que se trata de golpe. Se o governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, é flagrado tomando um copo d’água, na sequência já tem alguém para dizer que o tucano deveria matar a sede no volume morto do sistema Cantareira. Se Luiz Inácio da Silva, o ex-presidente e lobista de empreiteira, decidir tirar a barba, em questão de horas ressurgirão os comentários de que o câncer voltou com força, a ponto de ele estar se submetendo a secretas sessões de quimioterapia, de madrugada, no Hospital Sírio-Libanês.
O mais interessante nessa invencionice destrambelhada é que alguns badalados e inconsequentes jornalistas brasileiros, sempre adulados por leitores e seguidores desinformados, fomentam informações doentes e sem um grama de confiabilidade. É nesse ponto que entra em cena a velha teoria de Joseph Goebbels, chefe da propaganda nazista, que um dia vociferou: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.
É importante destacar que oposição política se faz com coerência, determinação e raciocínio lógico. Jamais com oportunismo, mitomania e “achismo”. O ucho.info não é a catedral da verdade, mas estamos certos de que fazemos oposição responsável e madura, sempre com base na verdade dos fatos. Contrapor-se aos desmandos do governo central tomando como ponto de partida o jogo sujo, rasteiro e mentiroso é querer se igualar aos atuais donos do poder, adeptos confessos desse tipo de expediente.
Na quinta-feira (6), uma pane no sistema da Caixa Econômica Federal (CEF) deixou a instituição financeira fora do ar, prejudicando milhares de clientes e beneficiários do INSS e dos programas sociais do governo federal. Foi o suficiente para que surgissem teorias conspiratórias de todos os matizes, inclusive com o apoio de jornalistas, os quais relembraram declarações da presidente e então candidata Dilma Rousseff, que durante o segundo turno da corrida presidencial afirmou que a eventual vitória do seu adversário, o senador tucano Aécio Neves, significaria o fim dos bancos oficiais.
De fato a presidente fez tal afirmação durante a campanha, mas não se deve desconsiderar que sistemas de informática apresentam problemas, nem sempre passiveis de solução em curto espaço de tempo. Para minimizar os transtornos causados aos clientes e à população em geral, nesta sexta-feira (7) a Caixa abriu suas agências uma hora mais cedo. O ucho.info não está a defender o governo ou o partido que se instalou no Palácio do Planalto, mas, sim, o bom senso jornalístico, sob pena de o trabalho de alguns profissionais da imprensa passar a ser alvo de questionamentos. Esse tipo de conduta é tudo o que o totalitarista governo do PT precisa para defender, junto à população, a tese do controle social da mídia.
Se o assunto da vez é bater ainda mais forte no governo federal apenas porque Dilma Rousseff venceu a eleição presidencial, sendo a Caixa Econômica Federal o ringue da “pancadaria jornalística”, que os profissionais da imprensa verde-loura cobrem explicações sobre a compra de parte do Banco Panamericano pela instituição financeira oficial.
Em agosto passado, o Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo instaurou procedimento investigatório criminal – preâmbulo do inquérito policial – para apurar ocorrência de eventual crime contra o sistema financeiro nacional no processo de compra do banco Panamericano pela Caixa Participações S.A (Caixapar), subsidiária da Caixa Econômica Federal (CEF).
A instauração do procedimento investigatório decorreu de ofício encaminhado ao MPF pelo Ministério Público de Contas (MPC), que atua junto ao Tribunal de Contas da União (TCU). Procurador da República, Rodrigo de Grandis questiona no documento uma reunião da diretoria da Caixapar “que aprovou a aquisição do Panamericano sem a constituição de conta caução”.
Na opinião do procurador da República “existe possibilidade de atuação irregular dos então administradores do Panamericano no decorrer das negociações, inclusive com a apresentação de informações inverídicas à Caixapar, o que pode ensejar o cometimento do crime de gestão fraudulenta ou gestão temerária”.
Apenas para relembrar o escuso negócio, que contou com o endosso do então presidente Lula, e por consequência de Dilma Rousseff, a Caixapar pagou R$ 740 milhões por 49% do capital votante e de 21,9% das ações preferenciais, meses antes de o Panamericano quebrar devido a fraudes contábeis e financeiras que deixaram um rombo de R$ 4,3 bilhões no patrimônio do banco que à época integrava o Grupo Silvio Santos.
O fato de o Banco Central ter dado à CEF sinal verde para avançar no negócio, ao mesmo tempo em que analisava as gravíssimas irregularidades no Panamericano, é motivo mais que suficiente para a imprensa responsável cobrar explicações de Dilma, Lula “et caterva”. Quando o BC autorizou o negócio, o mercado financeiro já convivia com indícios de fragilidades do Panamericano nas suas operações interbancárias.
A Caixapar desembolsou verdadeira fortuna em troca de parte de um banco quebrado, sendo que o dinheiro, que deveria ficar na instituição para cobrir o rombo, acabou no caixa da holding do Grupo Silvio Santos, mas alguns jornalistas preferem ver problemas na queda do sistema de computação do banco federal.
Nós, do ucho.info, preferimos nos debruçar sobre a compra de um banco quebrado e recheado de ações criminosa, algo muito mais difícil de acontecer do que a queda do sistema de computação da Caixa. Há quem faça jornalismo político, há quem faça jornalismo partidário. O ucho.info, sabem os leitores, fica com a primeira opção.