Metástase palaciana – A decretação da prisão preventiva de Gerson de Mello Almada e da prisão temporária Carlos Eduardo Strauch Albero, da Engevix, e a condução coercitiva de Cristiano Kok, presidente da empresa (em matéria anterior noticiamos erroneamente sua prisão), acenderam a luz vermelha no Palácio do Planalto, onde o clima é de tensão desde a deflagração da mais nova fase da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.
A Engevix está no rol de empresas envolvidas no esquema de corrupção que funcionava em algumas diretorias da Petrobras, assim como as maiores empreiteiras do País, mas alguns pequenos detalhes, já esquecidos pela opinião pública, levaram muitos palacianos ao desespero.
Ex-ministro de Minas e Energia, cargo que deixou às pressas, em 2007, debaixo de sérias acusações de corrupção, Silas Rondeau conseguiu, à época, manter suas ligações com a máquina federal: preservou os cargos de conselheiro da Petrobras, cargo que ocupava desde 2006, e da BR Distribuidora, subsidiária da estatal.
Ligado ao ex-presidente e lobista Lula, amigo da presidente Dilma Rousseff e um dos apaniguados do ainda senador José Sarney, o caudilho maranhense, Silas Rondeau atuava como uma espécie de elo entre o governo federal e a empreiteira. Como se não bastasse, Rondeau conta com a incondicional amizade de Erenice Guerra, ex-ministra-chefe da Casa Civil e pessoa de confiança de Dilma, a quem substituiu na pasta. Erenice deixou a Casa Civil no rastro de graves denúncias de tráfico de influência.
Em 2008, um ano após ser escorraçado do Ministério de Minas e Energia, Rondeau foi contratado pela Desenvix, empresa do grupo Engevix. Em novembro de 2010, não por acaso, a Engevix foi contratada pela Petrobras para construir oito cascos de plataformas para a exploração de petróleo na Bacia de Santos. Valor do negócio à época: US$ 3,4 bilhões. Esse contrato bilionário foi o que faltava para Silas Rondeau ser guindado ao Conselho de Administração da Desenvix.
Esse detalhe, nada pequeno, mostrou à época que o engenheiro Silas Rondeau era um executivo no estilo “cobra de duas cabeças”, pois defendia simultaneamente os interesses da Petrobras e do grupo Engevix. No contraponto, não por coincidência, Erenice Guerra integrou o Conselho Fiscal da Petrobras, cliente da Engevix, que contratou Rondeau.
Com quase cinquenta anos de existência e atuando em diversos países, a Engevix tem entre seus principais clientes as estatais Eletrobras, Furnas e Eletronorte. Apesar de um currículo desse porte, o que lhe garante participar de licitações com grandes possibilidades de vitória, a empreiteira aguçou a curiosidade daqueles que acompanham o cotidiano da política nacional ao recorrer aos contatos do engenheiro Silas Rondeau no governo federal.
Silas Rondeau é um velho conhecido da Polícia Federal, até porque recheou o elenco de pelo menos três operações da corporação. Entre as operações da PF está a Boi Barrica, rebatizada como Faktor, que investigou um esquema criminoso de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e evasão de divisas comandado pelo empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney.
No inquérito da Operação Faktor os policiais federais destacam que Silas Rondeau “figura como sócio oculto” de escritórios de consultoria para “mascarar” o recebimento de recursos decorrentes de serviços prestados a empresas privadas. “Vou estar com o Silas na terça. Vocês vão ver só uma coisa. Ah, p., ele é do conselho da Petrobras. Vocês vão ver”, diz Flávio Lima, empresário ligado a Fernando Sarney e também investigado na Faktor, em conversa telefônica gravada pela PF. No diálogo, Lima cobrava R$ 160 mil de uma empresa.
Há quem diga que no universo político nacional inexistem coincidências e sobram alarifes de todos os naipes, afirmações com as quais concordam os jornalistas do site, por isso o UCHO.INFO sugere às autoridades da Operação Lava-Jato que Silas Rondeau e Erenice Guerra sejam convocados para ao menos explicar essa amizade enorme e fraternal que os une.