Face lenhosa – Evitando aparecer publicamente desde a Operação Porto Seguro, que em novembro de 2012 flagrou sua amante, Rosemary Nóvoa Noronha, em um esquema criminoso de venda de pareceres de órgãos federais, o lobista Luiz Inácio da Silva deu mostras de seu incômodo com o escândalo conhecido como “Petrolão”. Ao deixar a sede brasileira da Usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), nesta quinta-feira (20), Lula foi questionado por jornalistas sobre a Operação Lava-Jato e, visivelmente contrariado, sugeriu que ao grupo de profissionais de comunicação para “falar com a Polícia Federal”.
Cidadão comum desde que desocupou o Palácio do Planalto, Lula tem o direito de manter-se em silêncio quando quiser, mas pode e deve ser cobrado reiteradamente acerca de escândalos de corrupção que aconteceram com o seu explícito consentimento. De igual modo o ex-presidente tem a prerrogativa de se esquivar de perguntas de jornalistas, mas não pode alegar que desconhecia o carrossel de corrupção que girava em algumas diretorias da Petrobras.
Por ocasião da eclosão do Mensalão do PT, que por preguiça da oposição não resultou no impeachment de Lula, o então presidente da República cedeu à pressão dos partidos da chamada base aliada e concordou com a instalação do esquema na estatal. Tanto é assim, que o outrora deputado federal José Janene (PP-PR), morto em 2010 e que ficou conhecido como “Xeique do Mensalão”, foi quem comandou, ao lado do doleiro Alberto Youssef, o assalto aos cofres da Petrobras. Isso porque era preciso substituir o Mensalão do PT por plano que garantisse a compra de parlamentares.
As escusas de Lula podem até convencer os incautos, mas um chefe Estado não pode classificar como normal um político que exige a indicação de qualquer apaniguado para a diretoria de uma empresa da importância da Petrobras. Lula não apenas sabia do que acontecia nos bastidores da petrolífera nacional, como se beneficiou indiretamente da roubalheira. Afinal, muitas matérias do interesse do governo foram aprovadas no Congresso Nacional com estanha facilidade.
Concedendo aos partidos da base aliada, e também ao PT, a chance de surrupiar dinheiro da Petrobras, Lula transferiu às legendas a responsabilidade pelo pagamento do butim que durante anos garantiu ao governo tranquilidade no Parlamento. Isso significa que o ex-presidente deve explicações sobre o escândalo, antes que as investigações da Operação Lava-Jato batam à porta do seu apartamento, em São Bernardo do Campo. Semanas após a deflagração da Lava-Jato, o editor do UCHO.INFO, um dos denunciantes do esquema, afirmou em matéria que não demoraria muito para o “Petrolão” subir a rampa do Palácio do Planalto.
Lula, o apedeuta lobista, corre o risco de não ser incomodado pela Polícia Federal no caso da Lava-Jato, mas em algum momento as autoridades hão de questioná-lo sobre as absurdas benesses concedidas ao grupo Odebrecht, começando pelo monopólio do setor petroquímico. Lobista da Odebrecht, Lula deu ordens para que a Petrobras não atrapalhasse o avanço do grupo baiano na petroquímica verde-loura.
A ousadia foi tamanha, que Lula não se incomodou com a criminosa expropriação da Petroquímica Triunfo, que à época do golpe era controlada pelo empresário Boris Gorentzvaig, cujos herdeiros lutam na Justiça para reaver o que lhes pertence. Fosse o Brasil um país minimamente sério e com autoridades do naipe do juiz federal Sérgio Moro, o ex-presidente da República já estaria preso por ter sido conivente com o golpe da Petroquímica Triunfo. Sempre lembrando que a petista Dilma Rousseff é tão responsável pelo episódio quanto seu antecessor.