Dilma convida a ex-desafeta Kátia Abreu para a Agricultura e senadora que derrubou a CPMF aceita

katia_abreu_17Óleo de peroba – Nada pode ser mais hipócrita do que a política e seus operadores. E no Brasil essa hipocrisia política tem exemplos de sobra. Fernando Collor de Mello foi ejetado do poder porque Luiz Inácio da Silva, o agora apedeuta lobista, liderou um movimento nacional pelo impeachment do então presidente da República. Senador por Alagoas, Collor sempre usou palavras duras e chulas para se referir a Lula, mas hoje apoia o governo do PT, desde que a contrapartida seja à altura. Fernando Collor teve o nome citado na Operação Lava-Jato, mas o Lula de antigamente, que condenava a corrupção, desapareceu. E o Lula de agora simplesmente se calou diante do suposto envolvimento do seu “amigo de longa data”.

Um dos artífices da queda de Collor foi o então presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Lindbergh Farias, que liderou os chamados “caras pintadas”. Ex-prefeito de Nova Iguaçu (RJ), o petista Lindbergh foi eleito senador em 2010. Desde então, Lindbergh e Collor têm se tratado por Vossa Excelência, como os entreveros do passado e a coerência não entrassem nessa receita.

Para não alongar a exemplificação, passemos ao que interessa. Tentando compor a equipe do seu próximo governo, a presidente reeleita Dilma Vana Rousseff tem enfrentado dificuldades na garimpagem de nomes para a área econômica, mas em relação às outras pastas a missão parece mais fácil porque prevalece a entrega de ministérios aos partidos da chamada base aliada.

Na noite da última quarta-feira (19), Dilma convidou a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para ocupar o Ministério da Agricultura. Se por um lado a resposta foi positiva por parte da senadora, por outro o convite contou com o endosso do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP). Presidente da Confederação Nacional da Agricultura, Kátia Abreu foi reeleita ao Senado Federal com 41,6% dos votos válidos, o que lhe garante mandato parlamentar até 31 de janeiro de 2023.

Antes de desembarcar no PMDB, a senadora tocantinense passou pelo PSD, de Gilberto Kassab, onde começou a amainar o discurso em relação ao governo de Dilma Rousseff. Antes disso, a senadora e líder dos agropecuaristas engrossou as hostes do Democratas, legenda que lhe deu guarida para ácidas e contundentes críticas ao PT e à enxurrada de desmandos palacianos.

Em 2007, ano em que o antigo PFL transformou-se em Democratas, Kátia Abreu foi escolhida como relatora da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que derrubou a CPMF. Em duro discurso proferido na tribuna do Senado Federal, Kátia defendeu seu relatório e disparou: “Nós não podemos deixar que a carga tributária sacrifique a população”. A partir de janeiro, a mesma Kátia Abreu integrará um governo incompetente que sacrifica a população com uma arrecadação tributária criminosa e investe pouco e mal.

Em 2010, quando a atual presidente da República estreava como candidata ao Palácio do Planalto, a reboque de uma invencionice de Lula, a volta da CPMF foi aventada no Congresso Nacional, mas a mesma Kátia Abreu, à época na oposição, criticou duramente a candidata petista. Disse a senadora pelo Tocantins: “A CPMF, que hoje, está sendo defendida (por Dilma), era um imposto pago diretamente no pacotinho de arroz, de feijão e de açúcar”.

Diante da alegação de que havia falta de recursos na Saúde por conta do fim da CPMF, a mesma Kátia Abreu rebateu a candidata do PT e criticou duramente o aparelhamento da máquina estatal: “Eu queria lembrar que, de 2007 a 2010, aumentou em R$ 40 bilhões a folha de pagamento (do Governo), por cinco MPs. Foram contratações suficientes para uma CPMF”.

Na campanha eleitoral, Dilma acusou o PSDB de ter comprometido a qualidade da saúde pública brasileira por ter contribuído para o fim da cobrança da malfadada CPMF. Durante a votação da PEC da CPMF, os tucanos apoiaram a então oposicionista Kátia Abreu.

Dilma Rousseff e Kátia Abreu são especialistas em desfaçatez política, mas desconhecem o significado da palavra coerência. Dilma integra um partido que defende a invasão de terras produtivas, no rastro da ideologia comunista, como forma de promover a reforma agrária. Tudo ao arrepio da Constituição Federal, a máxima lei do País, que contempla com clareza o direito à propriedade. Kátia lidera um setor da economia que é a locomotiva da balança comercial, que por questões óbvias condena com todas as forças a invasão de terras por parte de grupos criminosos como MST, Via Campesina e outros bandos. Dilma há de dizer que esse detalhe não impede que a senadora seja nomeada ministra. Já Kátia Abreu poderá recorrer à teoria burra do “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, não sem antes dizer que essas filigranas políticas são pretéritas.

Fato é que no momento em que Dilma Rousseff, em seu próximo governo, começar a espernear por falta de dinheiro na saúde, a futura ministra Kátia Abreu precisará se fazer de morta ou, então, xingar aos bolhões quem jogou a última pá de cal sobre a CPMF.

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