Perna curta – Durante a campanha eleitoral, a petista Dilma Rousseff adotou, ainda no primeiro turno, o jogo sujo e rasteiro contra seus adversários, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e a ex-ministra Marina Silva (PSB). A presidente da República, que mostrou ser desprovida de estofo para ocupar o cargo, acusou ambos de serem ligados a banqueiros ou terem a intenção de beneficiar os donos do capital.
Em relação a Aécio Neves, o ataque da petista teve o economista Armínio Fraga como alvo, já que o comandante do fundo Gávea fora anunciado como eventual ministro da Fazenda em caso de vitória do tucano. No caso de Marina Silva, a presidente acusou a então candidata do PSB de ser ligada aos banqueiros apenas porque a coordenadora de sua campanha, Maria Alice Setúbal, conhecida como Neca, é uma das herdeiras do Itaú-Unibanco.
Desde que teve confirmada a vitória nas urnas, Dilma vem tomando atitudes que contrariam a onda de mitomania que invadiu sua campanha. Um dos bons exemplos foi a elevação dos preços dos combustíveis, que a presidente fingiu ignorar durante a corrida presidencial, mas que acabou acontecendo dias depois do segundo turno.
Responsável maior pela crise que se instalou na economia brasileira, até porque a palavra final em questões econômicas é sua, Dilma enfrenta dificuldades para escolher um nome para assumir o Ministério da Fazenda no próximo governo, que começa oficialmente em 1º de janeiro. Depois de descartar o nome de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, Dilma abandonou a essência dos ataques aos adversários e procurou Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco. Ou seja, a essa altura não é problema ter ligações com banqueiros ou executivos de bancos. Acontece que Trabuco recusou o convite, uma vez que o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro de Mello Brandão, aposta em Trabuco para sucedê-lo no posto principal da instituição financeira.
A equipe do próximo governo Dilma seria definida e anunciada na quinta-feira (20), mas o falecimento do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos adiou a divulgação dos nomes. A presidente decidiu que o anúncio será feito nesta sexta-feira (21), após o fechamento do mercado financeiro. Para o Ministério da Fazenda a petista tem sobre a escrivaninha dois nomes: Nelson Barbosa, ex-secretário executivo da pasta, e Joaquim Levy, ex-secretário do Tesouro Nacional. Mais uma vez a presidente Dilma mostra que agora não é problema ter relações com banqueiros ou profissionais do mercado financeiro. Afinal, Levy está atualmente em uma das empresas do grupo Bradesco.
Em nova demonstração de que relações com banqueiros não configuram pecado, Dilma deve indicar o senador Armando Monteiro Neto (PTB), candidato derrotado ao governo de Pernambuco, ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A família do senador petebista durante anos controlou o Banco Mercantil de Pernambuco, que durante longo período esteve em liquidação, após intervenção do Banco Central, e foi leiloado por R$ 1 bilhão em 24 de janeiro de 2012.
Em suma, Dilma Rousseff mentiu de forma acintosa durante a campanha presidencial e abusou da sordidez ao criticar adversários, mas o mais grave é que suas palavras são desprovidas de credibilidade. Fosse minimamente coerente, Dilma não procuraria banqueiros ou executivos de bancos para montar a equipe econômica do próximo governo.