(*) Carlos Brickmann –
Grandes empresários presos, desvios que podem alcançar R$ 24 bilhões só num caso, revelações diárias. Mas os R$ 24 bilhões talvez sejam R$ 21 bilhões, mas as revelações nem sempre são verdadeiras. Um diretor da Petrobras, José Carlos Cosenza, apontado pela Polícia Federal por envolvimento em irregularidades, não tinha nada com isso (a própria Polícia Federal reconheceu o erro). Duro foi engolir a explicação: confusão de nomes. Claro, há mais Cosenzas do que qualquer outro sobrenome neste país. E, mais ainda, o tal irmão do governador goiano Marconi Perillo não é irmão dele – talvez seja parente, daqueles bem distantes, e nem disso há certeza. Mas o que saiu no jornal, com aval de autoridades, é que o irmão do governador tem que depor sobre algum malfeito.
Dizem que o excesso de serviço é o culpado dos erros. Ótimo: é só distribuir essa explicação, um por um, a todos que leram, ouviram, viram a notícia errada que prejudica a reputação de uma pessoa. Mas coisas esquisitas não acontecem só do lado ruim para os presos. Na CPI que investiga o Petrolão, 12 dos 32 deputados receberam doações das empresas envolvidas no caso. Talvez algum dos 12 aceite pagar com ingratidão a quem sempre lhe deu a mão, mas este colunista não conhece este senhor. É mais fácil acreditar que, na CPI, basta aos investigados convencer mais quatro parlamentares para sair limpinhos, talvez com o braço erguido, punho cerrado, gritando “empreiteiro, guerreiro, do povo brasileiro”.
É desagradável dizer isso, caro leitor. Mas aqui avacalharam até a corrupção.
Merreca de bilhões
Pode parecer bobagem a diferença entre uma quantia e outra, mas R$ 3 bilhões resolveriam boa parte dos problemas até mesmo de gente riquíssima. De acordo com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, COAF, órgão federal, os desvios nesse caso chegam perto de R$ 24 bilhões. Os bancos consultados falam em R$ 21 bilhões.
Não é nada, não é nada, mas isso pagaria mais de dez vezes a devolução recorde do gerente da Petrobras Pedro Barusco.
Coisa pouca. E antiga.
Por falar em trocados, o COAF vinha estranhando a movimentação financeira de algumas pessoas e empresas hoje investigadas na Operação Lava-Jato, umas oito mil, já há quatro anos. Mas ninguém deu atenção às informações do COAF.
Tanto faz, é um ou outro
É a selfie do país. A Polícia Federal fez uma operação de busca e apreensão na casa do governador reeleito de Rondônia, Confúcio Moura, PMDB, e conduziu-o para depor na investigação sobre o desvio de R$ 57 milhões. A oposição não pôde comemorar: Expedito Jr., PSDB, derrotado por Confúcio nestas últimas eleições, também recebeu a Polícia Federal em casa, pelo mesmo motivo.
Detalhe picante: o oposicionista é apontado como participante de um fundo de “ajuda ao governador”, mantido por fornecedores. Um fundo, claro, suprapartidário. Para o eleitor, a escolha é simples: tanto faz qual seja o eleito, é sempre suspeito.
Este conhece
O ex-presidente Lula tem um talento raro no Brasil: sabe que os eleitores apreciam quando expõe fraquezas humanas que tantos políticos procuram esconder. Mais do que isso, ele as proclama. Outro dia, em Foz do Iguaçu, depois de palestrar no evento Cultivando Água Boa, ganhou de presente um vidro de mel e uma garrafa de pinga artesanal.
Olhou para o fotógrafo Roger Meireles com ar de paradisíaca felicidade e proclamou: “É dessa água que eu gosto”.
Márcio, o múltiplo
Um grande advogado, sem dúvida; Márcio Thomaz Bastos teve a coragem de defender pessoas demonizadas por boa parte do público e de oferecer-lhes o melhor de seu talento (bem pago – mas um grande advogado, como um grande administrador, como um grande astro, merece o que ganha). E teve a coragem, na ditadura, de dirigir a seção paulista da OAB, que se opunha ao presidente da República, general Figueiredo; de participar ativamente do Movimento Diretas-Já; de ser um dos redatores, em nome da OAB nacional, do pedido de impeachment do presidente Collor. Foi um dos fundadores do Instituto de Defesa do Direito de Defesa, que combate excessos dos acusadores e procura garantir aos réus aquilo que é previsto em lei. Numa crise que poderia ter-se agravado, conseguiu evitar que Lula expulsasse do país o jornalista americano Larry Rohter, do The New York Times, por ter dito qual o tipo de líquido o presidente preferia consumir.
Um homem múltiplo, concordemos ou não com ele. E sempre brilhante.
Dias de luto
Márcio morreu no dia 20 – o mesmo da morte de Samuel Klein, a Casas Bahia, menos de uma semana depois de Adib Jatene. É o Brasil ficando mais pobre.
Pouco caso
Os presidentes da Claro, Oi, TIM e Vivo simplesmente não apareceram na audiência pública convocada pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara Federal, para discutir as falhas nos serviços que oferecem (as quatro estão no alto do ranking de queixas de consumidores). Deixaram claro que dão às autoridades a mesma atenção que aos clientes.
Para que melhorar, se não têm concorrentes?
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.