Cartão vermelho – O ex-petista André Luiz Vargas Ilário teve o mandato de deputado federal cassado na quarta-feira (10) por conta de envolvimento com Alberto Youssef, o doleiro preso em março passado na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Vargas, outrora homem forte do PT do Paraná, viajou com a família para o Nordeste em avião fretado pelo doleiro e foi acusado de defender junto ao Ministério da Saúde os interesses da empresa Labogen, laboratório-lavanderia pertencente a Youssef.
Em mensagens trocadas por celular com o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Vargas afirmou que no âmbito da Lava-Jato era um “cisco”, se comparada sua transgressão ao teor das delações premiadas. Não há como discordar de André Vargas por vários motivos. O primeiro deles é que a relação entre o ex-petista e o doleiro é antiga e de conhecimento de todos que frequentam apolítica paranaense. Tanto é assim, que no passado Vargas usou o ilegal esquema financeiro do doleiro para lavar dinheiro da campanha de Paulo Bernardo da Silva, atual ministro das Comunicações. Ambos, Vargas e Bernardo, responderam a processo judicial por causa do ilícito.
O UCHO.INFO não está a afirmar que André Vargas é inocente, mas quem conhece os bastidores do poder em Brasília que é fraco o motivo alegado para a cassação do mandato do agora ex-deputado federal, que ficará inelegível por oito anos. Há no Parlamento brasileiro tantos escândalos acontecendo diariamente, que se qualquer transgressão fosse motivo de cassação e respeitasse uma ordem cronológica, Vargas seria cassado apenas na próxima encarnação.
Como já destacado, este site não defende André Vargas, até porque não tem procuração para tanto, e mesmo se tivesse não cometeria essa irresponsabilidade, mas o ex-parlamentar teve o mandato cassado pelo conjunto da obra. Ou seja, foi apeado da vida política por causa do próprio currículo. Em 15 de abril deste ano, portanto depois da abertura do devido processo no Conselho de Ética, Vargas decidiu, sob pressão, renunciar à vice-presidência da Câmara dos Deputados.
Enquanto esteve no cargo, o agora cassado André Vargas abusou da arrogância e dedicou a muitos dos seus pares de Parlamento impressionante desdém. O mesmo fez com alguns assessores de longa data, que foram tratados de com deslealdade e irresponsabilidade. Até mesmo profissionais da imprensa que cobrem o cotidiano do Congresso Nacional sofreram com Vargas na vice-presidência da Câmara.
Antes do processo por quebra do decoro parlamentar, Vargas trabalhava intensamente nos bastidores para substituir Henrique Alves no comando da Câmara dos Deputados a partir de 2015. A negociação estava aparentemente sacramentada com os partidos da chamada base aliada, mas dependia de sua reeleição em outubro passado. Sem partido e na mira da cassação, André Vargas, que estava em seu segundo mandato de deputado federal, não concorreu à reeleição e deve ficar longe de qualquer cargo eletivo durante bom tempo.
O detalhe que chama a atenção nesse imbróglio é que André Vargas foi um político influente no Partido dos Trabalhadores e por isso conhece os subterrâneos da legenda com minúcias. Isso significa que no caso de Vargas se sentir traído, até porque nenhum companheiro saiu em sua defesa durante o longo processo de cassação, ele poderia sair atirando a esmo. Munição para essa artilharia pesada e lamacenta o ex-deputado tem de sobra.
Independentemente dos próximos capítulos dessa epopeia, fato é que André Vargas perdeu o mandato por causa da própria trajetória, marcada pela arrogância e pelo desdém. O que não invalida a relação bisonha e longeva com Alberto Youssef. Mesmo assim, se analisados os crimes investigados pela Operação Lava-Jato, Vargas é um menor aprendiz no mundo da malandragem política.