(*) Ucho Haddad –
O ano chega ao seu final e de novo surgem os votos de paz, saúde e prosperidade. Mais uma vez as promessas retomam a cena do ano que vai nascer: amizades sinceras, felicidade plena, dinheiro no bolso e silhueta fina, entre tantas mais. Tudo isso embalado por compras e mais compras, presentes e mais presentes. É verdade que o ano que se despede não foi excepcional em termos financeiros para muita gente, mas mesmo assim a gastança deu o tom do cotidiano. Como se a felicidade estivesse escondida em qualquer conjugação do verbo ter. Tem-se para ser feliz! Enfim…
Cá não estou para filosofar no dia em que o planeta se une para comemorar o nascimento de Jesus. Cá estou, sim, para lembrar a cada um que continuarei a sonhar, continuarei a lutar. Luta quem está vivo, sonha quem não morreu. Estou aqui para reverenciar cada segundo dos 365 dias do ano. É fato que alguns momentos foram extremamente difíceis, mas nada que tenha escapado do script ao qual me acostumei. Lutar e sonhar tem um preço. Dificuldades existiram como aula magna da vida. A felicidade mostrou a face porque, como sempre, comportei-me como aluno aplicado. Aprendi a ser melhor, talvez a ser “menos ruim”, o que não significa ser mau.
Para alguns sou conformista, para outros sou determinado. Para alguns sou teimoso, para outros sou maluco. Para alguns sou equilibrado, para outros sou desligado. Para alguns sou corajoso, para outros sou esquizofrênico. Sou brasileiro o tempo todo, quero sê-lo cada vez mais, mais e mais. Sou, apenas sou. Aprendi a ser eu, insisto em ser nós. Poucas foram as vezes que, ao longo da vida, usei a primeira pessoa do singular. A pluralidade do coletivo é fascinante, ser um pouco de todos é apaixonante. Assim sou, assim serei. Hoje, no ano que bate à porta, sempre, enquanto o Criador permitir.
A idade presenteia-nos com contratempos, mas como compensação regala-nos com a maturidade, o equilíbrio dos atos, a parcimônia do pensamento, a plenitude da vida. Certa vez, quando esqueci o dia do meu próprio aniversário, percebi que deveria comemorar o nascimento a cada instante. Por isso e muito mais é que o Natal acontece todos os dias. O meu Natal, o nosso Natal, o Natal de Cristo. No rastro de fé inabalável sei que Jesus nasce e renasce a cada piscar de olhos, em cada um de nós.
Um dia, reunido com amigos, fui questionado sobre sonhos. Queriam saber o que gostaria de ter ou conseguir. De pronto respondi que na seara da materialidade nada mais poderia almejar, pois Deus havia sido generoso demais ao dar-me o dom de escrever. O que não é pouco. O melhor é que de quebra Deus deixou no caminho o presente mais cobiçado por aqueles que escrevem: ter quem leia. Não há prêmio maior para qualquer escriba do que um leitor. Por isso o Natal acontece todos os dias, por isso carrego no coração um eterno pinheiro decorado, por isso minh’alma sempre canta Noite Feliz, por isso no meu pensamento o sino jamais para de tocar, por isso os meus sonhos estão sempre a piscar como as luzes natalinas. Por isso, por Deus, por Jesus, por todos, por cada um.
Mas e as promessas para o ano vindouro? Nada disso, pois o máximo que desejo é ser mais do mesmo. Se possível com menos erros e mais acertos, o mesmo de sempre, sempre. Alguém há de dizer que isso é falta de criatividade, excesso de passividade. É isso que quero, é isso que farei. Serei o mesmo de sempre, farei o mesmo de sempre. Continuarei lutando pelo Brasil e pelos brasileiros, alimentarei o sonho de um país melhor para todos, sem demagogias e bizarrices ideológicas. Quero continuar fazendo jornalismo, seguir escrevendo. Quero pensar, externar as ideias. Quero acolher o contraditório, ter o pensamento respeitado. Quero aprender mais, quem sabe ensinar. Quero tudo, nada, sempre, nunca…
Muitíssimo obrigado por tudo que aconteceu! Por tudo o que há de acontecer, um sincero e antecipado agradecimento. Obrigado aos amigos, aos inimigos. Aos parceiros, aos adversários. Aos que torcem a favor, aos que torcem contra. Aos que elogiam, aos que criticam. Aos que leem, aos que seguem. Aos que escrevem, aos que pensam. Aos que um dia fizeram, aos que continuam fazendo. Aos parceiros, aos colaboradores. Aos que oram, aos que amaldiçoam. A todos, a cada um. Por isso nasço e renasço cada vez mais forte, por isso comemoro o Natal a todo instante, por isso cada dia é um Ano Novo diferente e melhor. Por isso, apenas por isso, por todos, por cada um, por você. Feliz dois mil e sempre!
(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.