O mau e o péssimo

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13O Petrolão é uma história trágica: mostra como uma empresa de renome mundial pode ser capturada por dentro (lembra do filme Aliens?) e sugada até desidratar-se, sob o olhar benevolente de quem deveria estar tomando conta dela.

Mas pior que o Petrolão, pior que a corrupção, é a incompetência. E a incompetência que prejudicou pesadamente a Petrobras foi gerada fora da empresa. Quem obrigou a Petrobras a comprar petróleo caro no Exterior, e vendê-lo aqui mais barato, não foi nenhum diretor da empresa: foi o Governo. Foi o Governo que, por conta do pré-sal, sufocou uma área em que o Brasil era líder mundial, a do álcool e biocombustíveis renováveis, menos poluentes e produzidos aqui mesmo, gerando empregos aqui, aqui gerando investimentos. Segurar o preço da gasolina, para fingir que andar de carro era barato e ajudar as multinacionais automobilísticas, quebrou as usinas, paralisou as pesquisas e incentivou a poluição.

E há um caso emblemático, a Refinaria Abreu e Lima. O Governo brasileiro mandou construí-la a pedido de Hugo Chávez, para refinar petróleo venezuelano, mais pesado. E, para agradar mais rapidamente ao amigo-Chávez-de-todas-as-horas, optou por não perder muito tempo com o projeto. Como disse Paulo Roberto Costa, hoje delator-premiado, o cálculo do custo foi feito em papel de padaria. E Chávez, sócio da Abreu e Lima (nome, aliás, escolhido por ele, de um general brasileiro que lutou ao lado de Bolívar), não botou um centavo nela.

Sem a incompetência, a ladroeira seria incapaz de provocar tanto dano.

Por falar…

A presidente Dilma disse que não é preciso afastar Graça Foster, “porque a Petrobras e o Governo não foram prejudicados”. O Governo é acionista majoritário da Petrobras. Neste ano, as ações da empresa caíram algo como 35%.

…no assunto

O advogado Décio Pedroso nota uma semelhança entre o Petrolão e um filme antigo, da mesma temática, daqueles ambientados em Chicago, década de 20. A companheira Graça é ferida, os inimigos se aproximam. Surge no cenário um sedã negro em alta velocidade, fazendo a curva em duas rodas. A companheira Dilma abre a porta do carro e recolhe a companheira Graça. Não se abandona um aliado ferido, principalmente quando o aliado só ficará em silêncio se quiser.

A insistenta

Como diria Dilma, é de estarrecer sua intenção de consultar o Ministério Público antes de nomear qualquer ministro. E por vários motivos: primeiro, porque quem comanda o Governo é a presidente, não o procurador-geral da República. Segundo, porque o Ministério Público não é órgão de assessoria. Terceiro, porque a presidente tem, para assessorá-la, a Agência Brasileira de Inteligência, Abin, com agentes especializados, que deveria mantê-la informada sobre quem é quem.

E, por último, não precisava ter passado pelo vexame de levar um contra do procurador-geral Rodrigo Janot. Nem de tomar uma aula do ministro aposentado Joaquim Barbosa. “Há sinais claros de que a chefe do Estado brasileiro não dispõe de pessoas minimamente lúcidas para aconselhá-la em situações de crise (…) Ministério Público é órgão de contenção do poder político. Existe para controlar-lhe os desvios, investigá-lo, não para assessorá-lo”.

A festa continua

Ainda falta escolher o cargo (e, talvez, de tanto escolher, acabe sem nenhum), mas o governador baiano Jaques Wagner, do PT, tem tudo para ser ministro no segundo mandato de Dilma. Até uma boa renda mensal: primeiro, sancionou ele mesmo a lei que dá aos ex-governadores baianos aposentadoria vitalícia de R$ 19 mil mensais – claro, reajustável; agora, obteve outra aposentadoria na Câmara Federal, pelos oito anos em que foi deputado. São mais R$10 mil. Aos R$ 29 mil já assegurados deve somar-se o salário de ministro, mais eventuais pagamentos pela participação em reuniões de conselhos de empresas estatais.

Feliz 2015!

A festa acabou

A Alstom, multinacional francesa de energia e transportes, acaba de aceitar um acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos: pagará multa de R$ 772 milhões por subornos que pagou em diversos países (pela lei americana, empresas que têm negócios nos EUA respondem lá por práticas ilegais em qualquer lugar do mundo), em troca da suspensão das ações judiciais referentes aos casos. A Alstom é uma das empresas investigadas no Brasil por participação em cartel de metrô e trens metropolitanos. Mas as multas – as maiores já pagas nos EUA – nada têm a ver com nosso país: referem-se a propinas pagas na Indonésia, Bahamas, Egito e Arábia Saudita.

O Brasil é outra história.

A voz do dono

De Lula, no Facebook: “Acho que a lição que ficou é: o povo quer mais democracia, mais participação, mais esperança, mais ética, quer ser mais ouvido. Acho que essas são as mensagens que a presidenta Dilma deve assimilar do resultado eleitoral e fazer do seu mandato um mandato histórico”.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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