Tiroteio pesado – O entrevero envolvendo Marta Suplicy e o novo ministro da Cultura, Juca Ferreira, que assumiu a pasta nesta segunda-feira (12), está sendo tratado como um desabafo interesseiro da senadora petista, mas na verdade é uma frente de ataque comandada por Lula na direção da presidente reeleita Dilma Rousseff. O que mostra que muito maior do que parece a briga intestina que domina a cúpula do Partido dos Trabalhadores.
Em entrevista à jornalista Eliane Cantanhêde, de “O Estado de S. Paulo”, a senadora por São Paulo acionou a metralhadora verborrágica e disparou não apenas na direção de Juca Ferreira, a quem acusou de irregularidades na pasta da Cultura, mas também contra Aloizio Mercadante e Rui Falcão, presidente nacional do partido.
Em relação a Mercadante, a senadora, que pode deixar o PT nas próximas semanas, disse que o atual chefe da Casa Civil é inimigo de Lula, o que não é novidade. Essa discórdia entre ambos tornou-se mais acirrada quando o então presidente da República obrigou o agora ministro a recuar de decisão anunciada no plenário do Senado, à época em que Mercadante era senador e comandava a liderança do PT na Casa. Na ocasião, por conta da manobra do Palácio do Planalto para proteger José Sarney no escândalo dos atos secretos, Mercadante renunciou em caráter irrevogável à liderança do PT. Dias mais tarde, depois de uma carraspana de Lula no Palácio da Alvorada, Aloizio Mercadante subiu à tribuna do Senado para revogar o irrevogável.
Se desde aquela época a relação entre Lula e Mercadante piorou, antes disso já não era boa. Isso porque Aloizio sonhava em ser ministro da Fazenda, o que só aconteceu com a chegada de Dilma Rousseff ao poder central. Ciente do problema, Dilma vem apostando suas fichas em Mercadante como forma de fustigar o antecessor, Lula, que continua alimentando pesada artilharia na direção do Palácio do Planalto.
Que Marta Suplicy age como franca atiradora na esperança de colher algum dividendo político todos sabem, mas é preciso lembrar que por trás da senadora por São Paulo estão os interesses de Lula, que já trabalha para concorrer à Presidência da República em 2018. Tanto é assim, que Lula assumiu o papel de porta-voz dos movimentos sociais, o que de alguma maneira abre frentes para ataques ao governo de Dilma.
Não se pode esquecer que Marta Suplicy, apesar dos discursos indignados de alguns próceres petistas, foi uma das defensoras do movimento “Volta, Lula”, que acabou malogrando porque Dilma tinha o direito de concorrer à reeleição. Foi a partir deste ponto que as relações entre Lula e Dilma azedaram ainda mais, algo que ficou comprovado com a tardia entrada do ex-metalúrgico na campanha da presidente. E mesmo assim sua participação ficou aquém do esperado. Essa queda de braço se deve ao fato de Dilma não ter honrado um acordo que daria a Lula o direito de concorrer à Presidência em 2014.
Se por um lado Marta Suplicy chamou o chefe da Casa Civil de “inimigo” de Lula, no tocante a Rui Falcão, presidente PT, a senadora disse que o “companheiro” traiu o projeto do partido. Ao falar em trair o projeto petista, Marta deu a entender que o plano era dar a Lula o direito de ser o candidato presidencial do partido na corrida presidencial de 2014. E nesse caso Marta tem razão, pois Falcão correu por fora e deu estofo a Dilma para disputar a reeleição. Fora isso, a senadora criticou duramente a política econômica do governo Dilma ao deixar recentemente o Ministério da Cultura. Prova de que Lula está assinando os scripts dos ataques de Marta.
Marta Suplicy não faz qualquer revelação inusitada, mas está coberta de razão ao rasgar o verbo. E o fez também porque precisa apresentar à Justiça Eleitoral motivo convincente para mudar de partido sem perder o mandato de senadora, que será útil em seu projeto de disputar a prefeitura de São Paulo, contra Fernando Haddad, em 2016. Em breve, Marta deve trocar o PT pelo PMDB, PDT ou Solidariedade. Em suma, o serpentário petista está repleto de víboras com enormes estoques de veneno. Como sempre, a conta dessa queda de braço acabará no bolso do contribuinte.
