Morrer em Paris

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13Há pouco menos de 80 anos, o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain procurou compreender as reivindicações nazistas por mais territórios. Para acalmar Adolf Hitler, deu-lhe de presente 30% da Tchecoslováquia. E voltou à Inglaterra orgulhoso de sua façanha, prometendo “paz para nossos tempos”. Winston Churchill, seu companheiro de partido, mas não de fraqueza moral, comentou: “Entre a guerra e a desonra, escolheram a desonra. E terão a guerra”.

A Segunda Guerra Mundial veio um ano depois. Ficou a lição: não há o que compreender quando do outro lado há fanáticos adoradores da morte. Pode-se (e deve-se) negociar quando possível, mas estando pronto para lutar. Assassinos que matam quem expõe opiniões diferentes das suas têm de ser contidos. Ponto. Quem os compreende e justifica pode ter ótimas intenções. Mas é cúmplice.

Há horas em que é inaceitável ser mal informado. E uma professora universitária especializada em Oriente Médio não é mal informada. Quando diz que exercer a liberdade de expressão, legalmente garantida, é algo que não se faz, é atrair problema, põe-se ao lado da barbárie. Outro professor universitário vai mais longe: os culpados são as vítimas. “Qual a graça de se fazer charges com Maomé? (…) Quem faz uma provocação dessas não poderia esperar coisa muito diferente”. É como quem acha que a vítima é culpada pelo estupro, por ser atraente.

Chega de compreender os coitadinhos dos assassinos. Que se cumpra a lei; que, na forma da lei, sejam julgados.

Contra a barbárie, sejamos todos Charlie.

Cá…

A história foi revelada pelo O Estado de S.Paulo e pela Rede Bandeirantes e é difícil de explicar. De 2007 a 2010, o advogado Alexandre de Moraes, DEM, foi secretário de Transportes e de Serviços do prefeito paulistano Gilberto Kassab; acumulava a Cia. de Engenharia de Tráfego, CET, e a SPTrans, que supervisiona o transporte na cidade. Dominava toda a área de Transportes; e, se não soubesse quem era quem, deveria saber. Saberia que uma cooperativa, a Transcooper, é citada em investigação por ligação com o PCC, cabeça do crime organizado.

… lá…

Em 2011, pouco após deixar o supremo comando dos transportes em São Paulo, Alexandre de Moraes aceitou advogar para a Transcooper. Foi agora nomeado secretário da Segurança do governador Geraldo Alckmin, PSDB. Uma de suas principais tarefas é enfrentar o PCC. Diz Moraes que antes de assumir o cargo renunciou a todos os processos em que trabalhava, e que, em 1º de janeiro, pediu na OAB suspensão temporária de sua inscrição como advogado. Afirma que só atuou em defesa da pessoa jurídica da cooperativa, jamais para pessoas “citadas em possível envolvimento com o crime organizado”.

Alckmin nada comentou.

…e acolá

Do Sudeste para o Norte, do DEM e do PSDB para o PP – bem, o Brasil é um só, e os partidos não são tão diferentes uns dos outros (pois não estão no Ministério petista de Dilma três antigos PFL/DEM, Kassab, Afif e Kátia Abreu?) O candidato do PP ao Governo de Roraima, Neudo Campos, foi barrado pela Lei da Ficha Limpa. Em seu lugar, lançou a esposa, Suely, que se elegeu e nomeou a família inteirinha para bons cargos. As filhas, Daniele e Emília, foram para a Casa Civil e Trabalho; a irmã, Selma Mulinari, para a Educação; o irmão, João Paulo Silva, virou secretário-adjunto de Agricultura. Há mais cinco sobrinhos, cunhados e sogros das duas filhas, e uma das noras. No total, 19. O Ministério Público recomendou a demissão de toda a parentada; a governadora Suely Campos reclamou, dizendo que nomear a família inteira, mais os agregados, tudo por conta do bolso do eleitor, “é prática comum na história de Roraima”.

Então, tá.

Ninguém é de ferro

E por que ficar só no Poder Executivo? No Judiciário, tucanaram as folgas, para não parecer que a lentidão dos processos tem algo a ver com poucos dias de trabalho. Há o recesso, os feriados legais, as suspensões de expediente (em geral, na véspera de algum feriado, ou no dia seguinte), Quarta-Feira Santa, Quinta-Feira Santa – existe, sim! – a Quarta-Feira de Cinzas, inteira. E há transferências, como a do Dia do Funcionário Público para a antevéspera de Finados. No total, são 40 dias. A esses se somam os 60 dias de férias.

Claro que o Conselho Nacional de Justiça leva esses números em conta nas estatísticas de atrasos, não é?

Os fatos em números

Sabe essa história de que a queda dos preços internacionais do petróleo prejudicou as empresas do setor, como a Petrobras, que por isso se desvalorizaram? Pois não é bem assim: Lauro Jardim, de Veja, fez um levantamento da valorização de algumas das grandes petroleiras, de 27 de setembro de 2010, quando a Petrobras captou R$ 120 bilhões na Bolsa, até 8 de janeiro.

A Exxon-Mobil valorizou-se 22,7%; a Shell, 13,7%; a Chevron, 27,5%. A Petrobras, no mesmo período, perdeu 85,2% de seu valor de mercado.

O país do Carnaval

Um motorista foi parado por um policial de trânsito. Ficou uma meia hora esperando, até que o policial o multou.

Motivo: dirigir chupando dropes de menta.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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