(*) Carlos Brickmann –
O problema do Brasil é que acabou a campanha eleitoral. Por isso é que o país piorou. Na época da campanha, dizia-se, jamais faltaria água em São Paulo; e não só em São Paulo, mas em nenhum Estado atingido pela seca, não importa quais partidos estivessem no Governo. Eletricidade, então, era abundanta e barata. Dilma mandou até baixar a tarifa. Não era como hoje, em que o ministro de Minas e Energia diz que é preciso gastar menos luz, porque com a falta dágua das usinas é preciso ligar termelétricas, poluentas e de operação mais cara; é preciso tapar o rombo das tarifas insuficientas da época de campanha; e assim a conta subiu mais que salário de juiz e deputado. Acabada a campanha, o governador paulista Geraldo Alckmin diz, às segundas, quartas e sextas, que há racionamento, e às terças, quintas e sábados que não foi bem entendido (aos domingos, não há desmentidos nem mentidos: é dia de chamar a seca de “estresse hídrico”).
Bons tempos de campanha! O prefeito Suvinil – o petista Fernando Haddad, que acredita que uma demão de tinta vermelha resolve todos os problemas paulistanos – prometeu tudo o que pôde, até mesmo trabalhar na Prefeitura. Acabada a campanha, as promessas ainda existem. Só que agora se sabe que não é para cumpri-las: na imortal frase de Haddad, “os prazos sofreram um deslizamento para a frente”. Serão cumpridos em algum ano vindouro, no dia 31 de fevereiro.
Na campanha, o rio São Francisco irrigava o Brasil, os juros da Caixa baixavam. Havia casa própria, um bem de raiz. Como as árvores paulistanas.
A água como ela é
Estiagem? Sim – ou, como se diz em tucanês, estresse hídrico. Chove pouco? Sim. Mas o problema não é só esse: basta pesquisar um pouco para ver que, há muitos anos, o abastecimento de água não recebe o cuidado que mereceria. Em 1992, sendo Luiz Antônio Fleury, do PMDB, governador de São Paulo, a revista Globo Rural publicou reveladora reportagem da boa jornalista Bety Costa, mostrando que a saída de água nas represas paulistas estava prestes a empatar com a entrada.
Um ano seco já daria problemas; dois anos secos, muitos problemas. E a população da Grande São Paulo era bem menor. Que é que se fez de lá para cá?
Lugar de trabalhador…
A Petrobras, além de descredenciar as empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato (sem esperar a formalidade de ver as culpas reconhecidas pela Justiça), decidiu afastar empresas brasileiras da concorrência para construir equipamentos navais. Ou a Petrobras sabe algo que ninguém mais sabe, ou perdeu o rumo:
1 – uma empresa, mesmo tendo sido usada para cometer crimes, não vai para a cadeia. Se afastar os responsáveis pelos atos criminosos, substituindo-os por gestores idôneos, se repuser os prejuízos que causou, somados às respectivas multas e indenizações, pode continuar trabalhando. O descredenciamento terá um efeito perverso: quem pagará pelos problemas que não criou será o empregado. Sem serviço, a empresa demitirá em massa (e parece que várias já o estão fazendo). As 23 empreiteiras descredenciadas, mais outras empresas que vivem da prestação de serviços a elas, empregam algumas centenas de milhares de pessoas. Uma delas, das grandes, tem cem mil funcionários. Quantos sobrarão?
2 – A contratação exclusiva de grupos estrangeiros para outros serviços, com o objetivo de moralizar os negócios, é indefensável. No cartel do Metrô e dos Trens, que vem sendo investigado, há uma ou outra empresa brasileira, mas a imensa maioria no cartel é de empresas estrangeiras de grande porte. Há aquela empresa holandesa multada por corrupção na Holanda, por exemplo. Há outras. Corrupção não é característica exclusiva de grupos (e governos) brasileiros. E as possibilidades de demissões são portentosas: segundo cálculos da Força Sindical, só essa medida tem potencial para desempregar 300 mil trabalhadores.
…é na rua
A questão, por si explosiva, não se limita à destruição de empresas nacionais, desemprego em massa e entrega do mercado nacional a estrangeiros, sem qualquer vantagem para o país. Envolve também questões financeiras de alta complexidade: se as empresas nacionais quebrarem, como pagar os créditos que captaram nos bancos?
Até mesmo a cadeia de crédito e produção entra em risco.
…não morre pagão
O último ato de Guido Mantega no Ministério da Fazenda beneficiou um determinado setor da Economia. Adivinhe: qual? Errou: foi o bancário. Mantega deu aos bancos um bom aumento, de até 135,6%, nos preços cobrados para arrecadar receitas da União e da Previdência. Como? O caro leitor há muito tempo não tem aumentos de salários nesse montante? Quem manda não ser banqueiro?
Até recentemente, cada documento pago por débito em conta-corrente rendia ao banco R$ 0,40; e, se a guia fosse quitada de outra forma, R$ 0,59.
A partir do reajuste concedido por Guido Mantega, cada documento quitado, sem código de barros, passou a render ao banco R$ 1,39 – ou seja, mais 135,6%. Documento com código de barras teve reajuste mais modesto: só 86,5%. Segundo a Federação dos Bancos, Febraban, o serviço de arrecadação de tributos federais movimenta algo como 126 milhões de documentos por ano. Basta fazer o cálculo.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.