Dois pesos – Muito estranhamente, o que é estelionato eleitoral em São Paulo, na opinião do ex-ministro Alexandre Padilha (PT), não é no Rio de Janeiro ou em Minas Gerais. Incompetente como ministro da Saúde, derrotado na disputa pelo governo paulista e agora secretário da prefeitura paulistana porque conseguiu um emprego com o “companheiro” Fernando Haddad, Padilha precisa fazer um curso de modulação de discurso. Até porque, atirar pedra na vidraça alheia é tarefa fácil.
Há dias, Padilha chamou de estelionato eleitoral o fato de o governador reeleito Geraldo Alckmin (PSDB) ter anunciado a possibilidade de racionamento de água, o que na opinião do petista deveria ter ocorrido durante a campanha. Previsão do tempo não é algo simples, inclusive para os especialistas no assunto, por isso é difícil antecipar qual será o comportamento da natureza. Se a possibilidade de racionamento de água é estelionato eleitoral, o apagão ocorrido no último dia 19 de janeiro também é. Até porque, Dilma Rousseff, também reeleita, disse durante a corrida presidencial que o Brasil caminhava as mil maravilhas. Disse também a presidente que a tarifa de energia elétrica não subiria, mas os brasileiros devem se preparar para um aumento de aproximadamente 30% na conta de luz, porque o estabanado governo do PT, precisando cumprir meta de superávit fiscal em 2015, interrompeu o derrame de dinheiro público nas geradoras de energia.
Na quarta-feira (28), Dilma recebeu no Palácio do Planalto os governadores Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Fernando Pimentel (PT), do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, respectivamente. Ambos trataram com a presidente as consequências da maior crise hidrológica do último século, que afeta as regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde estão localizadas as principais usinas hidrelétricas do País. Pezão deixou o encontro garantindo que no Rio de Janeiro na haverá racionamento de água ou sobretaxa para quem exceder a média de consumo, mas isso é conversa fiada que carrega apenas interesses políticos. Um dos principais reservatórios de água do Rio de Janeiro já opera com o volume morto, por isso a fala do governador fluminense é desconexa.
No caso de Minas Gerais, o governador Fernando Pimentel, “companheiro de armas” de Dilma, disse que o estado adotará “severo” racionamento de água em função da longa e intensa estiagem que a atinge a região. Pimentel também afirmou que o governo mineiro cobrará sobretaxa para quem consumir acima da média. O PT classificou como ato de covardia do governador Geraldo Alckmin a possibilidade de a Sabesp cobrar a sobretaxa para consumo acima da média, mas silencia diante da decisão de Fernando Pimentel. Ora, quando estava em campanha pelo governo mineiro, Pimentel se apresentou à população do segundo maior colégio eleitoral do País como a solução única e derradeira para os problemas do estado. Discurso embusteiro que dez entre dez esquerdistas adotam para ludibriar a opinião pública quando o interesse maior é se instalar no poder.
No momento em que a crise hidrológica pode levar o País a um colapso econômico, principalmente porque os reservatórios de água das hidrelétricas estão com níveis críticos e as termelétricas operam no limite de produção e de forma ininterrupta desde outubro de 2012, o estelionato maior é de Dilma Rousseff, não do governador paulista, que no momento adequado não soube cobrar do governo federal a responsabilidade que lhe cabe. Até porque, despachar centenas de milhares de pessoas para o mais importante e rico estado brasileiro tem um custo, assim como tem consequências. Se no Palácio do Planalto faltou planejamento estratégico, no Palácio dos Bandeirantes sobrou covardia política.
O mais interessante nessa epopeia em que se transformou a longa e intensa estiagem é que Alexandre Padilha, o fracassado poste de Lula, não teceu qualquer crítica a Luiz Fernando Pezão, da mesma forma que não cobrou do “companheiro” Lindberg Farias a fazer o mesmo. Afinal, o petista Lindberg fracassou em sua tentativa de chegar ao Palácio Guanabara, sede do Executivo fluminense. E Pezão só não é atacado duramente pelos petistas porque apoiou Dilma em sua exitosa campanha pela reeleição, sem contar que o Palácio do Planalto precisa cada vez mais do PMDB no Congresso Nacional.
Cobrar coerência da classe política é a mais árdua das tarefas, talvez seja impossível, mas ter opinião de acordo com as próprias conveniências é um ato de covardia explícita, típica de quem não se preocupa com o futuro do País e muito menos da população. De tal modo, Alexandre Padilha deveria manter-se em silêncio e limitar-se à própria incompetência, porque de atores de quinta o Brasil está cansado, principalmente daqueles que tentam transformar um governo bandoleiro em reunião de monges tibetanos com herdeiros de Aladim.