Receita caseira – A decisão da presidente Dilma Vana Rousseff de escolher o “companheiro” Edinho Silva para ocupar o lugar Thomas Traumann, que deixou o comando da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), mostra o grau de improviso que toma conta de um governo que começou como se estivesse na reta final.
Traumann pediu demissão na esteira do vazamento de um polêmico documento que fazia críticas ao governo e à comunicação palaciana, mas Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara (SP), não é um especialista no assunto para assumir cargo de tamanha responsabilidade. Afinal, a Secom é responsável por modular não apenas o discurso não apenas da Presidência, mas de todo o governo, além de definir os investimentos publicitários oficiais, em especial nos “blogs” que rezam pela cartilha do governo depois de passar pelo caixa do Palácio do Planalto.
Edinho Silva, que tomará posse no cargo na próxima terça-feira (31), foi tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff à reeleição. Com isso, a presidente consegue dar ao futuro ministro uma blindagem extra, pois no caixa da campanha de 2014 certamente aterrissaram doações de empresas investigadas na Operação Lava-Jato. Com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, indiciado como réu em processo decorrente da Lava-Jato, Dilma aproveitou a demissão de Traumann para não deixar o seu ex-tesoureiro de campanha na chamada rua da amargura.
A escolha de Dilma é no mínimo estranha, principalmente porque a presidente da República está sendo duramente questionada a respeito do dinheiro imundo do Petrolão que irrigou os cofres de alguns partidos e a contabilidade de muitas campanhas eleitorais. Com essa decisão, Dilma pode ter dado o que muitos chamam de “tiro no pé”, uma vez que a opinião pública deverá recrudescer as críticas ao governo do PT e à própria presidente, que vive uma crise político-institucional sem precedentes, só à comparada à enfrentada pelo então presidente Fernando Collor de Mello meses antes de ser despejado do Palácio do Planalto.
Líder do Democratas no Senado federal, Ronaldo Caiado não perdeu tempo para criticar a decisão da presidente, que na opinião do parlamentar goiano está “sub judice” no caso do Petrolão, o maior escândalo de corrupção da história da humanidade.
“Só posso entender como uma maneira de dificultar as investigações do juiz Sérgio Moro. Ao dar status de ministro a Edinho para blindá-lo, ela dá a ele um foro diferenciado nas investigações. Isso é inadmissível em qualquer lugar do mundo. Não é só uma incoerência, como uma afronta”, criticou Caiado.
O democrata acredita que a estratégia petista deve atiçar ainda mais a indignação social com o governo, que hoje só conta com a aprovação de um entre dez brasileiros.
“Na hora em que o que mais pesa do escândalo do Petrolão é o uso do esquema para financiar caixa 2 de campanha, qualquer governo sério faria questão de afastar os principais nomes suspeitos. Mas Dilma já demonstrou que está completamente desconectada da realidade, não sabe o que está acontecendo no Brasil. É mais motivação para a população ir às ruas”, comentou.