Le Monde afirma que o Brasil enfrenta “caos político” e precisa “reinventar a democracia”

dilma_rousseff_509Eco internacional – A conturbada situação política do Brasil é tema de artigo opinativo publicado na edição desta segunda-feira (30) do jornal “Le Monde”. O País, de acordo com o texto do jornal francês, enfrenta um “caos político” e deve adotar uma série de reformas para “reinventar sua democracia”.

O “caos político” a que se refere ao artigo foi mencionado em documento vazado pela secretaria de Comunicação da Presidência da República, assunto que culminou com a demissão de Thomas Traumann, então ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo de Dilma Rousseff. Apesar de negar tal situação caótica, o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, é “atropelado pelos fatos”, assinala o artigo assinado pelo jornalista Paulo Paranaguá.

Segundo o jornalista, o escândalo Petrolão, maior caso de corrupção da história da humanidade, abalou a coalizão de governo. O Partido dos Trabalhadores, da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula, perdeu sua aura de “salvador da pátria”, bem como sua capacidade de mobilizar multidões. Sem contar que a tal coalizão não passa de um acordo autoritário em que a base aliada se posta genuflexa diante contrapartidas espúrias.]

O texto do “Le Monde” cita a pesquisa em que 84% dos brasileiros acreditam que a presidente sabia dos casos de corrupção que derreteram os cofres da Petrobras.

Histeria

Parte da opinião pública e dos políticos só se expressa de maneira “histérica”, afirma Paulo Paranaguá. Por um lado, os que pedem o impeachment de Dilma Rousseff sem saber direito suas consequências, e, de outro, os que defendem um golpe militar.

“As análises mais moderadas pregam um mandato presidencial limitado à mediocridade, com uma Dilma Rousseff fragilizada, uma economia morosa e um descontentamento social crescente”, afirma o jornalista.

Segundo Paranaguá, a extensão da corrupção impede o país entender “a origem do mal”. A reflexão aponta como grande problema o sistema político brasileiro, povoado por mais de 30 partidos representados no Congresso e “mais interessados em explorar os recursos do Estado em benefício próprio”.

Outro problema apontado no artigo é a polaridade entre dois grandes partidos, uma herança do período militar. Um breve resumo do histórico partidário leva ao papel desempenhado hoje pelo PMDB, definido como uma “poderosa federação de eleitos sem identidade política”.

A decepção com antigos governos, como o de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), é que as alianças partidárias são oportunistas, para garantir maioria no Congresso, e não coalizões baseadas em acordos sobre programas políticos.

Situação de “ingovernabilidade”

Segundo o artigo, a candidata à presidência Marina Silva foi a única a denunciar publicamente o que muitos políticos só dizem entre quatro paredes: o antagonismo entre PSDB e PT se tornou um absurdo e não é mais viável. A disputa entre os três poderes da República evidencia que a situação está “ingovernável”.

Não é mais possível aceitar o caos político brasileiro como “uma fatalidade”, escreve o jornalista. Paranaguá afirma que não dá mais para adiar as reformas política, dos financiamentos de campanha e do estatuto dos partidos. É preciso “virar a mesa”, mudar as regras do jogo, “reinventar a democracia”, escreve.

O artigo sugere que o PMDB não deve comandar a “mãe de todas as reformas”, ou seja, a reforma política, porque é o partido que mais se beneficia com o atual sistema. A presidente Dilma e o PT sozinhos não vão mudar o panorama. É preciso que os “reformadores” do PT, do PSDB, e líderes como Marina Silva trabalhem juntos para superar esse grande desafio. E, também, evitar uma “nova configuração das forças conservadoras e populistas”, conclui. (Com informações da RFI)

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