Soltando a voz – Mensagens de e-mails trocadas entre o doleiro Alberto Youssef e um executivo do grupo Queiroz Galvão são consideradas, por investigadores da Operação Lava-Jato, provas de que a empreiteira pagou R$ 7,5 milhões de propina em forma de doações eleitorais na campanha de 2010 em troca de contratos na Petrobras.
Youssef confirmou, em depoimento, os repasses. Também apontou que o valor teria beneficiado candidatos do Partido Progressista, entre eles o ex-ministro Mário Negromonte (PP-BA), e o senador Valdir Raup (PMDB-RO). “Todos os valores repassados são provenientes de vantagens indevidas decorrentes do esquema existente na Petrobras”, destacou o doleiro.
Um dos e-mails foi enviado a Youssef no dia 30 de agosto de 2010 pelo executivo da empreiteira Othon Zanoide de Moraes Filho. Nele, Moares Filho escreveu: “PRIMO (apelido de Youssef) A seguir a relação de recibos faltantes, desde já agradeço a ajuda”. Segue, então, de forma numerada oito registros de valores que totalizam R$ 4 milhões. “O e-mail se refere apenas à parcela das doações em que faltavam os recibos, mas o total das doações oficiais foi de aproximadamente R$ 7,5 milhões de reais, todos provenientes da Queiroz Galvão”, afirmou Youssef.
Ainda no e-mail, o executivo da Queiroz Galvão cobra os recibos dos valores pagos a quatro políticos nominados na mensagem: Aline Corrêa, “250.000,00”; Roberto Teixeira, “250.000,00; Nelson Meurer “500.000,00”; e Roberto Brito “100.000,00”. Há também o registro de R$ 100 mil em nome de “PP de Pernambuco”, R$ 500 mil para o “PP da Bahia”, outros R$ 300 mil para “PMDB de Rondônia” e o de maior valor “R$ 2,04 milhões destinado ao “Diretório Nacional P. Progressista”.
A lista interceptada pela Lava-Jato em março de 2014 é o registro “dos recibos faltantes”, segundo o doleiro. “Ou seja, das pessoas que tinham recebido os valores da Queiroz Galvão, como doação ‘oficial’, mas que ainda não haviam enviado seus recibos para a construtora”.
A Queiroz Galvão é uma das 16 empreiteiras que integravam o cartel que corrompia agentes públicos em troca de contratos da Petrobras. Vale ressaltar que os executivos da empresa ainda não foram alvo de denúncia. Porém, eles integram os pacotes de ações penais que ainda serão apresentadas à Justiça Federal este ano.
Dias antes da cobrança dos recibos, outro e-mail, enviado pelo doleiro ao executivo, registra os dados de uma conta bancária: “conta doação de campanha – Primo (Youssef)”. O doleiro explicou aos investigadores da Lava Jato que na mensagem “está repassando a conta do Diretório Nacional do PP para pagamento pela Queiroz Galvão”.
Em outro e-mail trocado entre os dois alvos da Lava-Jato, Moraes Filho indica que “todos os recibos com exceção do Nacional serão” emitidos em nome da Construtora Queiroz Galvão S.A. e da Vital Engenharia Ambiental S.A. (empresa do grupo para o setor de limpeza e lixo).
Alberto Youssef ratificou que os beneficiados sabiam que os valores recebidos em nome das duas empresas eram provenientes do esquema de corrupção da Petrobras. De acordo com os processos da Lava-Jato, PT, PMDB e PP controlavam um esquema de loteamento político dos cargos estratégicos da estatal, por meio do qual arrecadavam de 1% a 3% de propina nos contratos firmados com empreiteiras.
Ainda na delação, o doleiro revelou que os R$ 500 mil para o PP da Bahia “seria destinado a Mario Negromonte”. O ex-ministro foi uma das lideranças do partido com participação ativa no esquema operado pelo ex-deputado José Janene (PP-PR) – morto em 2010 e ponto de partida da Lava-Jato. Seu irmão, Adarico Negromonte, foi denunciado na Lava-Jato acusado de ser um dos transportadores de dinheiro de Youssef.
Alberto Youssef explicou também que o valor de R$ 300 mil registrado em nome do “PMDB de Rondônia” era para Valdir Raupp. Houve, ainda, outro repasse por meio de doação de campanha de R$ 200 mil para Valdir Raupp.
Em e-mail enviado por Youssef ao executivo da Queiróz Galvão em outubro de 2010, fornece o endereço de Nelson Meurer “para que a construtora enviasse o documento original de doação”.
O delator afirmou que foi ele quem indicou à Queiroz Galvão que a propina fosse paga por meio de doações. Segundo o doleiro, a construtora teria R$ 37,5 milhões a pagar em propina para o esquema do PP comandado pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa. O valor seria referente aos valores que ela conseguiu em duas obras da Petrobrás: a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Complexo Petroquímico do Rio (Comperj).
Apesar do montante da propina ser de R$ 37,5 milhões, o ex-diretor de Abastecimento liberou o pagamento de R$ 7,5 milhões para ser operado pelo doleiro.
Youssef afirmou que “indicou para a empresa os nomes dos candidatos a serem beneficiados, a partir de indicação do líder do Partido Progressista”. Em sua delação, ele apontou o nome do deputado João Pizzolati. A única exceção foi o pagamento para Raupp, do PMDB.
Foi o ex-diretor de Abastecimento quem teria indicado o pagamento para Raupp. “O valor para Valdir Raupp foi inicialmente de R$ 300 mil”, explicou o doleiro. Costa, porém, pediu que o valor fosse elevado para R$ 500 mil e deu o telefone de contato e o valor a ser disponibilizado”. Depois de ligar para um assessor que trabalhava com Raupp, o doleiro disse que ela foi até seu escritório, em São Paulo. Como ele não tinha em caixa os R$ 500 mil, sugeriu que fosse feita também uma doação.
“Ela concordou e indicou o Diretório do PMDB de Rondônia para o pagamento”, afirmou o doleiro. No e-mail em que o executivo da Queiroz Galvão mandou para o doleiro no dia 30 de agosto, o valor registrado na lista de recibos em atraso é referente ao acerto.
PSDB
Alberto Youssef afirmou ter estranhado o fato de o valor que a construtora disse que pagaria seria R$ 7,5 milhões de propina – referente ao 1% do PP. Ele diz que questionou um dos executivos, pois o valor total era por volta R$ 37,5 milhões”. “Othon disse que Paulo Roberto Costa somente havia autorizado R$ 7,5 milhões e que, do valor total, R$ 10 milhões já teriam sido pagos para evitar a CPI da Petrobras”, afirmou o delator.
Os R$ 10 milhões teriam como destinatário o ex-presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE), morto em 2014 e um dos membros da CPI. O partido nega irregularidades, alegando que recebeu apenas doações legais e defendeu investigações sobre eventuais transgressões.
Defesa
“A Queiroz Galvão nega veementemente qualquer pagamento ilícito a agentes públicos para obtenção de contratos ou vantagens. A companhia informa ainda que todas as suas doações seguem rigorosamente à legislação eleitoral”.
O senador Valdir Raupp, por meio de assessoria, também nega irregularidades. Raupp afirma que “nunca pediu um centavo a Paulo Roberto Costa“.
Os demais citados não foram localizados.