(*) Carlos Brickmann –
1 – Um carro vazio deve estacionar hoje à porta da Câmara dos Deputados, em Brasília. Dele descerá o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Foi convocado para explicar suas reuniões com advogados de empreiteiras do Lava-Jato.
2 – A presidente enfim calçou as sandálias da humildade. Continua arroganta, prepotenta, mas se curvou ante a força dos fatos: desistiu de ir à TV no Dia 1º de Maio. Faltou-lhe estofo para enfrentar mais um panelaço. Falta-lhe estofo, também, para admitir que não vai à TV porque não pode. Diz que prefere a Internet.
3 – Michel Temer nem é do PT: é do PMDB. E escorregadio como ninguém. Mas é vice de Dilma. Na Agrishow de Ribeirão Preto, dia 27, um buzinaço o impediu de falar e de dar entrevista, mesmo tendo ao lado a ministra Kátia Abreu, ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura, estrela do agronegócio (ou era, até virar ministra de Dilma). Temer saiu discretamente, em silêncio.
4 – O ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, aquele que proclamou “eu amo Dilma” antes de ser posto no olho da rua, disse publicamente que o PT exagerou no roubo. Se Lupi diz, deve ser verdade. É político há muito tempo. Entende.
5 – O fato é que Lupi disse que o PT roubou demais, em excesso. A reação do PT se traduziu em estrondoso, ensurdecedor, ribombante silêncio. Como decretou o papa Bonifácio 8º, que reinou entre 1294 e 1303, quem cala consente.
O PT venceu quatro eleições presidenciais e parecia imbatível. Em quatro meses de 2015, seu prestígio que era sólido se desmanchou no ar.
Quem governa?
O dia simbólico
O ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, disse que Dilma não é obrigada a falar em rede de TV no Dia do Trabalho. É verdade: isso não está escrito em lei nenhuma. Mas no ano passado Dilma dizia que o discurso na TV no Dia do Trabalho é “típico e tradicional”. E discursou em todo o seu mandato: em 2011, louvou o aumento do emprego e prometeu continuar a elevar o salário mínimo; em 2012, exigiu que os bancos privados reduzissem os juros; em 2013, prometeu não descuidar do controle da inflação e reduzir impostos; em 2014, anunciou reajuste superior à inflação da Bolsa Família e correção (inferior à inflação) da tabela do Imposto de Renda.
Em 2015 – bem, se é para fazer discurso prometendo o que não vai cumprir, é melhor poupar as panelas da população.
Dúvida pertinente
Um dos políticos mais próximos de Dilma e Lula, o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, PT, diz que o escândalo da Petrobras decorre de “um sistema de corrupção que opera há muito tempo e que busca, de tempos em tempos, se aproximar de agentes políticos para os seus objetivos.” Completa, pensando certamente nas estatais dos Governos tucanos: será que isso acontece só na Petrobras?
A pergunta do ministro é corretíssima: há os fundos de pensão, o BNDES, a Eletrobrás, a Itaipu Binacional. Será que isso acontece só na Petrobras?
Os vermelhos…
Mas não imagine que o PT, vendo esboroar-se seu comando, vá aceitar pacificamente a alternância no poder. A reação deve ocorrer em duas frentes: a primeira, política, visando dividir o PMDB, que é visto (corretamente) como o principal adversário do partido.
Há uma clara tentativa de separar os dois dirigentes que levaram o PMDB para a oposição (embora dentro do Governo, que boquinha nunca se rejeita): tenta-se jogar Renan Calheiros, presidente do Senado, contra Eduardo Cunha, presidente da Câmara. Manobrando entre os dois, o PT talvez consiga recuperar alguma força no Congresso (mesmo tendo de abandonar o incrível Sibá Machado, um Eduardo Suplicy que não deu certo). E Temer ficaria como coringa, para avalizar o vencedor da disputa.
Mas se alguém acha que Michel Temer vai botar azeitona na empada dos outros pode ir mudando de ideia.
…e os negros
A segunda frente é aquela que Lula já citou, “o exército do Stedile”. Talvez não seja o MST, talvez nem seja Stedile. Mas, aproveitando que há professores em greve em São Paulo e Paraná, Estados governados pelo PSDB, em ambos os casos liderados por sindicatos que acham Fidel Castro direitista demais, é botar os black-blocs nas ruas.
A tentativa de invasão da Secretaria da Educação de São Paulo, com equipamentos de arrombamento à disposição, foi um exemplo. No Paraná, o Sindicato rompeu o diálogo com o Governo e se disse preparado para a invasão e ocupação da Assembléia. As mensagens aos grevistas, pela Internet, incluem até o uniforme a ser usado nas operações: lenço no rosto e, para evitar outras formas de identificação, tatuagens cobertas.
A tática é a de sempre, da equivalência: nosso Governo vai mal, mas seus Governos também vão.
Gente boa
Após propor e aprovar a multiplicação por três do Fundo Partidário, criando na prática o financiamento público de campanha (que se somará ao financiamento privado e a outros tipos de numerário numerado) o PMDB anunciou que devolverá 25% de sua cota. São bonzinhos, estão preocupados com os sacrifícios exigidos para acertar as contas públicas.
Traduzindo, desistem de um pedacinho e usam o dobro do Fundo Partidário do ano passado. E ainda passam por heróis.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.