Tem gente que sabe viver

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_16Claro, claro que não somos nós, caro leitor! Para nós, há empregos em baixa, demissões em alta, férias coletivas antecipando o que vem por aí. Mas, citando a frase atribuída à ex-ministra Zélia Cardoso de Mello, o povo é apenas um detalhe. Quem mandou não ser banqueiro nem arrumar uma boquinha no Governo?

Enquanto o Governo pede sacrifícios e diz que é preciso ajustar para avançar, as despesas públicas cresceram R$ 5,4 bilhões só no primeiro trimestre. No primeiro mandato da Competenta, as despesas federais passaram de R$ 822 bilhões para pouco mais de um trilhão de reais por ano – sem contar a Petrobras. Sacrifícios, sim – mas nossos. Jamais deles. Lembra daquela famosa cerveja, a Caracu?

Os bancos também vão bem, obrigado. Para cobrir seus monumentais buracos (apelidados, em economês, de “déficit público”), o Governo é obrigado a pagar juros inacreditavelmente altos. E por que os bancos nos emprestariam a juros mais baixos, se o Governo não se importa em pagar mais caro? O Itaú bateu o recorde de lucros de um banco brasileiro em primeiros trimestres: de janeiro a março, alcançou R$ 5,733 bilhões, 13,8% a mais que no primeiro trimestre do ano anterior. O Bradesco, de onde saiu o ministro de cortar despesas, Joaquim “Mãos de Tesoura” Levy, também bateu seu recorde de lucros de primeiro trimestre: R$ 4,244 bilhões, 23,3% acima do obtido no mesmo período de 2014.

Faça as contas: seus rendimentos subiram mais de 13%, ou de 23%, de um ano para cá? Mas aguente: dizem que o sacrifício é para o bem do Brasil.

A Pátria estudanta

Mas não imagine, caro leitor, que o Governo não corta despesas. Corta, sim! No contexto da Pátria Educadora, já cortou R$ 500 milhões em livros didáticos destinados a professores e bibliotecas públicas.

A quem interessa permitir que os professores se mantenham atualizados? Por que dar oportunidade aos alunos para que se desenvolvam, tendo acesso aos livros? Em outubro, virão as concorrências para livros didáticos em 2016. Quanto mais será cortado? Quem vai ganhar?

Os críticos da dengue

Por volta de 1903, há bem mais de cem anos, Oswaldo Cruz baniu do Brasil a febre amarela, eliminando os pernilongos que a transmitiam. Hoje, com todos os recursos modernos, os mesmos pernilongos voltaram e agora transmitem a dengue (e uma outra doença, a chikungunya, que atinge as juntas do corpo).

O Governo não consegue combatê-los. E o ministro da Saúde, Arthur Chioro, em vez de enfrentar o pernilongo, enfrenta a Organização Mundial da Saúde por classificar a dengue como epidemia (levou alguns dias até aceitar a classificação). E enfrenta o Governo paulista pela inoperância no combate à dengue. Chioro não deixa de ter razão: o Governo paulista é tão ineficiente no setor quanto o Federal. Mas esquece quem era o secretário da Saúde de um dos mais importantes e ricos municípios paulistas, São Bernardo do Campo, de 2009 a 2014: ele mesmo, Arthur Chioro.

Como secretário municipal da Saúde, apanhou da dengue por 7×1.

Panelaço

Tudo indica que Dilma Mãe do PAC irá evitar a cadeia nacional no Dia das Mães, repetindo o que fez no Dia do Trabalho e no programa eleitoral do PT: fugir da TV. O ribombar do panelaço ainda doi em seus ouvidos.

A tática de Dilma é submergir, deixar passar o tempo até que possa voltar à TV sem ser vaiada.

Capacetaço

O governador paranaense Beto Richa, PSDB, conseguiu uma façanha: uniu as torcidas rivais do Operário e do Coritiba, times que disputavam a final do Campeonato estadual. Cerca de 25 mil torcedores se juntaram no coro “Fora Beto Richa”, para só depois gritar o nome de seus times (o Operário ganhou por 3×0). Richa está mal desde a dura repressão da PM, com balas de borracha, muito gás e uso liberal do cassetete, a manifestantes que tentavam invadir a Assembleia.

Ao que tudo indica, o governador do Paraná e a presidente da República passarão um bom tempo amargando a decepção que causaram a seus eleitores.

A defesa é pior

Os defensores de Beto Richa alegam, e com razão, que provocadores tomaram a frente da manifestação, provocaram a reação da PM e saíram do meio, para que os manifestantes fossem massacrados. Acontece que isso não era novidade (e esta coluna, em 4 de março, já informava o que estava sendo preparado). Deixar de tomar providências, sabendo o que iria acontecer, e reagir com violência desmedida, não se admite: pior do que errar, Beto Richa se mostrou despreparado.

E deu aos militantes petistas, que estavam na defensiva, algo a se apegar.

Boa notícia

Civilização, enfim: o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, convidou a ex-presidente da empresa, Graça Foster, e todos diretores que trabalharam com ela, para acompanhá-lo a Houston, EUA. Objetivo: no domingo, 3, a Petrobras recebeu da OTC, Conferência de Tecnologia de Alto Mar, o prêmio de melhor empresa do mundo no desenvolvimento da exploração de óleo e gás em águas ultraprofundas.

Correto: independentemente de outros problemas, a direção anterior é também responsável pelo aperfeiçoamento da tecnologia da Petrobras.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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