Articulação covarde – Entre as muitas máximas existentes na política nacional, uma delas mostra que quando o presidente da República garante que determinado ministro está firme no cargo é porque sua fritura está em curso. Esta é a situação do ministro Joaquim Levy, da Fazenda, que desde uma repentina gripe, na última sexta-feira (22), passou a frequentar o universo das especulações. O cenário para Levy ficou ainda mais nebuloso depois que parlamentares petistas, contrários ao ajuste fiscal, passaram a defender a substituição do ministro da Fazenda por Nelson Barbosa, do Planejamento.
Ao deixar de comparecer a uma entrevista coletiva concedida em Brasília pela equipe econômica para anunciar o tamanho do corte no Orçamento da União de 2015, Joaquim Levy acendeu o rastilho da especulação. Contudo, o que era apenas suposição começou a ganhar contornos de realidade. O que acometeu o ministro da Fazenda não foi uma inesperada gripe, mas um ríspido desentendimento com Nelson Barbosa na esteira de uma discussão sobre o corte no Orçamento.
Antes do anúncio oficial, Levy havia declarado que o corte ficaria entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões, afirmação suficiente para que Nelson Barbosa se juntasse ao ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, o irrevogável, para minar o titular da Fazenda. Foi então que Barbosa assumiu o comando da entrevista concedida na capital dos brasileiros e anunciou que o corte seria de R$ 69,9 bilhões.
Que Mercadante é um economista incompetente e frustrado todos sabem, mas sua capacidade para atrapalhar processos em andamento é descomunal. Fraco em questões de economia a ponto de ter inaugurado o autoplágio em tese de doutorado apresentada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Aloizio Mercadante vive um momento de ostracismo explícito, desde que a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a retirar do chefe da Casa Civil a articulação política do governo.
Soberbo e autoritário, Aloizio Mercadante é visto no Palácio do Planalto como o fator que atrapalha muitas negociações que acontecem na sede do governo, em especial as que têm lugar no gabinete presidencial. Há quem diga que o ministro só não foi demitido ainda porque Dilma, se assim agisse, estaria dando mão à palmatória de Lula, que há décadas vive às rugas com Mercadante. Por diversas vezes Lula pediu, nos bastidores, a cabeça do chefe da Casa Civil.
Voltando a Levy, a situação do ministro da Fazenda deve tornar-se ainda mais crítica na segunda semana de junho, quando o PT realiza, em Salvador, o encontro nacional da legenda, ocasião em que serão discutidos os efeitos colaterais do ajuste fiscal e as consequências no partido, que tenta a duras penas se reerguer do pântano de corrupção em que mergulhou na última década.
É difícil afirmar que o plano de Joaquim Levy é o mais adequado para corrigir a rota da cambaleante economia brasileira, atropelada pela incompetência teimosa de Dilma Rousseff, mas uma mudança na equipe econômica a essa altura dos acontecimentos teria repercussões devastadoras. O que não se pode negar é que Dilma está atolada em uma profunda crise político-institucional, sem saber o que fazer para reverter uma situação que vem corroendo o País e a dignidade dos cidadãos.
O que se sabe é que diante da pouca instrução da população, o ajuste fiscal causará estragos consideráveis ao governo do PT e ao próprio partido, cujos integrantes terão enormes dificuldades para explicar aos brasileiros que foi preciso rasgar o discurso do passado para tentar salvar o presente. Dilma que se cuide e faça força para manter Joaquim Levy no cargo, pois sem ele a situação do governo ficará insustentável.