Eminência parda – Mesmo quando era o vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, sob o comando de José Maria Marin, o atual presidente da entidade, Marco Polo del Nero era o “homem forte” da CBF. Pelo menos era assim que empresários e agentes estrangeiros consideravam o cartola.
E-mails entre empresas e agentes revelam que o atual mandatário da CBF era a pessoa presente em todas as negociações na entidade desde que Ricardo Teixeira deixou a batuta do futebol brasileiro, em março de 2012. Del Nero despachava da Federação Paulista de Futebol, onde recebeu empresários para tratar de contratos da CBF.
O atual presidente da CBF nega qualquer envolvimento no escândalo de corrupção investigado nos EUA e na Suíça. Nesta segunda-feira (8), Marin apresentou ao Ministério Público suíço, por meio de seus advogados, pedido para aguardar eventual extradição em liberdade condicional.
Del Nero está fazendo um esforço enorme em se afastar da gestão Marin, porém se contradiz diante da forma com a FIFA e empresas ligadas ao futebol o tratavam. Por exemplo, se Teixeira jamais viajava com seu vice-presidente e nunca entrava em negociação acompanhado por outro cartola, Del Nero passou a fazer parte da presidência de Marin.
Em março de 2012, dias depois da renúncia de Teixeira e da posse de Marin, um dos altos funcionários do Grupo Figer enviaria um e-mail a Philipp Grothe, chefe da Kentaro, empresa que tinha os direitos dos amistosos do Brasil. Na mensagem, ele descrevia a mudança da gestão na CBF. “Tenho um encontro com Marco Polo Del Nero. VP (vice-presidente) da CBF, o homem forte agora”, escreveu o representante.
Logo depois, Grothe escreveria de volta, pedindo que os empresários brasileiros “tenham cuidado com qualquer tipo de comunicação com qualquer pessoa”. O empresário foi interrogado na última sexta-feira pelo Ministério Público da Suíça, que suspeita de que amistosos da CBF foram usados para pagar propinas.
No mês seguinte, novas reuniões entre agentes e a CBF mostravam uma vez mais que Del Nero fazia parte de todos os encontros para examinar novos contratos. Em abril de 2012, no hotel Claridge, em Londres, Marin e Del Nero se reuniram com a Kentaro e com André e Marcel Figer, do Grupo Figer. A meta era negociar um novo acordo.
No início de maio de 2012, houve uma nova reunião entre os Figers e Del Nero. O encontro ocorreu na sede da Federação Paulista de Futebol. O objetivo era tratar dos contratos para os amistosos do Brasil. Del Nero teria concordado em negociar um acordo com os Figers, usando uma empresa do grupo fora do Brasil, a Plausus.
Quando o acordo com a Kentaro não funcionou, Grothe escreveu aos Figers para protestar diante da decisão da CBF de assinar com outra empresa, a Pitch. Uma vez mais, fica claro que Del Nero fazia parte de todas as conversas. “Vinte quatro horas antes, Marin e Del Nero nem tinham ouvido falar da Pitch”, afirmou na ocasião.
Ao escrever de volta, os representantes da Figer indicavam que precisavam encontrar uma forma de “forçar Marin e Del Nero a cancelar o acordo”.
Mesmo perdendo o contrato, a Kentaro reforçaria em mais um e-mail de setembro de 2012 a intenção de se aproximar da CBF. Uma vez mais, era o nome de Del Nero o usado como referência. Falando sobre um novo contrato, a empresa via a negociação “como uma boa oportunidade de fortalecer as relações com Marco Polo e Marin”. A mensagem aconteceu em setembro, para André e Marcel Figer.
Já na FIFA, Del Nero ainda assumiu parte das funções de Teixeira. Logo que entrou para o Comitê Executivo, foi designado para presidir o Comitê de Beachsoccer, um setor dos negócios atrelados ao ex-chefe da CBF. (Por Danielle Cabral Távora)