Gleisi pode ter usado beneficiários do “Bolsa Família” em campanha ao governo do Paraná

gleisi_hoffmann_21Avalanche de lama – Não é só o Petrolão, esquema de propinas que derreteu os cofres da Petrobras, no qual é investigada no rastro da Operação Lava-Jato, que complica a vida da senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT). Denúncia da revista IstoÉ, publicada na mais recente edição, revela que a ex-ministra da Casa Civil de Dilma Rousseff pode estar envolvida no uso irregular de beneficiários do programa “Bolsa Família” em sua campanha rumo ao governo do Paraná, em 2014.

“O uso de um exército de beneficiários do Bolsa Família como cabos eleitorais não foi exclusividade do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel. A ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann também lançou mão do expediente na fracassada disputa pelo governo do Paraná”, denuncia a revista na seção Brasil Confidencial.

A denúncia é muito grave. Gleisi, assim como o governador Fernando Pimentel, também petista, teria usado o cadastro único de beneficiários dos programas sociais do governo federal para recrutar cabos eleitorais. Levantamento da ISTOÉ, feito por amostragem na prestação de contas entregue pela campanha petista à Justiça Eleitoral, indica que um terço dos mais de 7 mil cabos eleitorais usados por Pimentel integrariam a lista de beneficiários do “Bolsa Família”. Investigações conduzidas pela revista encontraram situações similares na campanha de Gleisi.

No caso de Minas Gerais, as evidências são incontestáveis. É o caso, por exemplo, de Alcirene Olidia Ferreira, moradora de Contagem. Contratada na reta final da campanha, ela teria recebido R$ 1,2 mil de auxílio financeiro. O valor é similar ao total de R$ 1.232 que Olidia recebeu do “Bolsa Família” entre junho de 2014 a abril deste ano. Ela ganha R$ 112 por mês do benefício federal. Já Alcileia Neves de Paiva, de Carandaí, teria embolsado da R$ 800 da campanha petista, de acordo com a prestação de contas. Em onze meses, ela ganhou R$ 1.617 em ajuda federal.

No exército de cabos eleitorais de Pimentel há também beneficiários de outros programas sociais, como o “Minha Casa, Minha Vida”. Entre eles, Adreciane Rodrigues Antonio, que vive em Belo Horizonte. Seu nome figura em uma lista de sorteados pela Prefeitura divulgada em janeiro de 2014. Adreciane teria recebR$ 1,2 mil fazendo campanha para o atual governador.

As informações do cadastro único são reguladas por decreto e só podem ser utilizadas para a seleção de beneficiários e integração de programas sociais, além de diagnósticos socioeconômicos para o desenvolvimento de políticas públicas. Jamais para fins eleitorais. Além de configurar uso da máquina pública, a oferta de dinheiro a pessoas em flagrante situação de vulnerabilidade social pode ser enquadrada como crime de abuso de poder econômico.

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) classifica como estranho o uso de exércitos de cabos eleitorais em uma campanha majoritária. “Normalmente, esse tipo de mão de obra não tem eficácia para campanhas assim. A Justiça Eleitoral deve investigar, confirmar se essas pessoas foram realmente contratadas e se trabalharam efetivamente”, afirma.

Para Aloysio, a contratação de cabos eleitorais se assemelha à compra de voto. Agora, as investigações vão mostrar se houve realmente trabalho dos beneficiários de programas sociais, ou se o cadastro foi utilizado para criar fantasmas e justificar gastos de campanha.

O procurador eleitoral Patrick Salgado alerta que até hoje as contas da campanha de Pimentel não foram aprovadas. Ele mesmo propôs duas ações contra o petista por abuso e captação ilícita de recursos. “Atuei para que as contas fossem rejeitadas. Tomei todas as providências, mas o TRE não julgou ainda”, diz. Salgado pediu a cassação do mandato de Pimentel, alegando que a movimentação financeira da campanha ultrapassou em R$ 10 milhões o limite previamente definido.

Com a deflagração da Operação Acrônimo e o possível envolvimento do dono da Gráfica Brasil, Benedito de Oliveira Neto, o Bené, no financiamento do caixa 2 de Pimentel, o procurador diz que pretende “aprofundar a investigação”.

“Já solicitei às fontes próprias que me forneçam os dados oficiais”, disse à ISTOÉ. Entre o material apreendido com Bené em outubro estavam duas folhas com tabelas de pagamentos e prazos sob o título “Campanha Pimentel”. Também foi encontrada uma pasta da Vox Brasil contendo documentos referentes a pesquisas de opinião nas eleições e o nome Helvécio Miranda, atual secretário de Planejamento.

A denúncia de IstoÉ torna ainda mais precária a situação de Gleisi, já investigada pela Operação Lava-Jato por recebimento de propina do esquema do Petrolão. Gleisi teria recebido R$ 1 milhão em 2010. O dinheiro teria sido solicitado pelo marido, o ex-ministro Paulo Bernardo da Silva, ao então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, que repassou o pleito ao doleiro Alberto Youssef, que, ato contínuo, providenciou o envio do numerário para Curitiba.

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