Com receio de agravamento da crise política e maior constrangimento a Lula, governo já traça estratégia para minar CPI do BNDES

bndesCpi do BNDES e o PT – Governo federal acredita que a CPI do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) tem potencial para provocar mais estragos que a da Petrobras e por isso já trabalha para esvaziar a investigação. A comissão foi autorizada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e pretende apurar os empréstimos secretos concedidos pelo banco a outros países, como Angola e Cuba, e os repasses feitos a empresas de fachada que foram alvo de denúncia na Operação Lava Jato.

Vale ressaltar que entre 2003 e 2014, o BNDES concedeu financiamentos de pelo menos R$ 2,4 bilhões a essas empreiteiras.

Nesta segunda-feira, 20, em reunião entre a presidente Dilma Rousseff e ministros da coordenação política, o Planalto avaliou que a CPI pode paralisar a instituição e causar prejuízos à economia. O receio é de que o impacto da comissão sobre a atividade econômica seja ainda pior do que o provocado pela CPI da Petrobras, aumentando a temperatura da crise política.

O governo vai trabalhar para que a CPI seja mista, envolvendo não só deputados – muitos dos quais sob orientação de Cunha – como senadores. O objetivo é de obter maior controle sobre as investigações. Inclusive, em conversas reservadas, auxiliares de Dilma acreditam que até mesmo os empresários, financiadores de campanha, atuarão para esvaziar a CPI.

Segundo informações, a equipe econômica estuda abrir uma linha de crédito para capital de giro, financiada pelo BNDES, para socorrer empresas em dificuldades após a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e evitar demissões em massa. Entretanto, os ministros afirmam que nada disso será levado adiante se a CPI vingar.

Eduardo Cunha, que rompeu com o governo desde que o lobista e delator Júlio Camargo o acusou de ter cobrado propina de 5 milhões de dólares, quer pôr o PMDB na presidência e na relatoria da CPI do BNDES, o que preocupa o Planalto. Para piorar o quadro, o governo sabe que o grupo de Cunha e a oposição tentarão constranger o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na CPI e temem o agravamento da crise.

Na semana passada, a Procuradoria da República no Distrito Federal abriu investigação contra Lula, acusando-o de tráfico de influência. A suspeita levantada pelo Ministério Público é a de que Lula, após deixar a Presidência, tenha usado seu poder para facilitar obras da Odebrecht em países da África e da América Latina, com financiamento do BNDES.

O Planalto tem a estratégia de tentar pacificar a relação com o Congresso durante o recesso, liberando emendas parlamentares e acertando nomeações de segundo e terceiro escalões.

Embora o governo ache que Cunha “passou dos limites”, a ordem é isolá-lo, e não partir para o ataque. “Eu quero ver isso como uma questão de momento, em que ele (Cunha) se sentiu injustiçado”, afirmou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. “Espero que essas iniciativas não se traduzam na busca de desestabilização das relações políticas e do próprio quadro institucional. Não creio que ele faria isso”.

Por ordem da presidente, ministros também tentarão se reaproximar do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Na última sexta-feira, o senador chamou de “tacanhas e ineficientes” as medidas de ajuste fiscal do governo. “Ele pode fazer a crítica que quiser porque é aliado”, amenizou o ministro das Relações Institucionais, Eliseu Padilha.