Pixuleco II: STF deve investigar Gleisi e Paulo Bernardo por suposto envolvimento na Lava-Jato

(Estadão)
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Sob pressão – A senadora Gleisi Helena Hoffmann, do PT do Paraná, deverá ser investigada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento no esquema que funcionava no Ministério do Planejamento e foi descoberto nas investigações da Operação Lava-Jato. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), documentos e controles apreendidos no escritório do advogado Guilherme Gonçalves, alvo de mandados de busca e apreensão na décima oitava fase da operação, a Pixuleco II, mostram repasses da empresa Consist que podem ter ligação com o pagamento de honorários de campanhas da petista ou ainda representar lavagem e repasse de dinheiro em operação triangular.

Os indícios serão enviados ao STF, que decidirá se Gleisi será ou não investigada, já que a senadora tem foro privilegiado. O suposto envolvimento da parlamentar paranaense no esquema apareceu depois da Operação Pixuleco II, da Polícia Federal (PF), que teve como alvo contratos de crédito consignado firmados pelo Ministério do Planejamento em 2010 – último ano da gestão do marido de Gleisi, Paulo Bernardo da Silva, na pasta, de acordo com informações do jornal Gazeta do Povo.

De acordo com os investigadores, a Consist teria iniciado pagamentos de vantagens indevidas depois da celebração de um acordo de cooperação entre o Ministério do Planejamento, a Associação Brasileira dos Bancos (ABBC) e o Sindicato das Entidades Abertas de Previdência Privada (Sinapp). O objetivo do acordo era a disponibilização, pela internet, de serviços e sistema informatizado de gestão de margem consignável em folha de pagamento. O esquema teria rendido R$ 50 milhões. Desse total, R$ 7,2 milhões acabaram na conta do advogado de Gleisi, Guilherme Gonçalves, sem que tenha prestado qualquer tipo de serviço a Consist, segundo o Ministério Público.

“Os recursos são privados. São do Sinapp e da ABBC, que pagam uma taxa de cada empréstimo e repassam isso para a Consist. Isso é permitido através de uma norma do Ministério do Planejamento”, explicou o procurador do MPF Carlos Lima.

De acordo com o procurador, porém, há documentos que demonstram que parte do dinheiro da Consist pago ao escritório de Gonçalves seria para pagar honorários relacionados às campanhas de Gleisi. “Não existe uma relação jurídica entre o escritório e a Consist. Na verdade havia uma falsa prestação de serviços. Sob esse aspecto me parece que o escritório agiu de modo a lavar dinheiro”, diz Lima.

“O que aparenta é que esses pagamentos [da Consist] serviam como remuneração desses serviços prestados por ele [Guilherme Gonçalves]. Ele receberia da Consist remuneração pelos serviços prestados a Gleisi”, afirma o procurador.

O escritório de Gonçalves prestou serviços a Gleisi Hoffmann nas eleições de 2010, quando ela venceu a disputa para o Senado, e em 2014, quando ficou em terceiro lugar entre os candidatos ao governo do Paraná. Gleisi pagou, nas duas eleições, R$ 150 mil ao escritório pelos serviços de advocacia, sendo R$ 100 mil em 2014 e R$ 50 mil em 2010. Os dados constam das prestações das campanhas de Gleisi ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ela também contratou o escritório para prestar consultoria em projetos, no início de 2011 – quando assumiu o mandato de senadora. A primeira contratação do escritório ocorreu antes do início dos repasses da Consist ao escritório. Em 2008, quando Gleisi foi candidata à prefeitura de Curitiba, a campanha da petista pagou R$ 156 mil ao escritório de Gonçalves.

O ex-ministro do Planejamento, Paulo Bernardo da Silva, também é investigado na Operação Lava-Jato. Apesar de não ter sido apontado pelos investigadores como beneficiário do esquema na ocasião da deflagração da Pixuleco II, há indícios de que ele teria envolvimento esquema.

“A ligação de Paulo Bernardo está evidente”, disse Lima. O Ministério Público Federal (MPF) vai pedir para que as investigações referentes aos documentos apreendidos no escritório de Guilherme Gonçalves sejam desmembradas para que o ex-ministro continue sendo investigado em primeiro grau.

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