Óleo de peroba – Afundando cada vez mais no Petrolão, o maior escândalo de corrupção da história, e comprometida sobremaneira na Operação Pixuleco II, a senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR) concedeu entrevista ao jornal Gazeta do Povo na tentativa de explicar o inexplicável. Por que uma empresa, envolvida em fraude com empréstimo consignado (a Consist) repassava dinheiro para seu advogado pagar suas despesas pessoais? Para complicar, a fraude, que rendeu R$ 50 milhões, só se tornou possível por causa da conivência do Ministério do Planejamento quando o marido de Gleisi, Paulo Bernardo da Silva, era o ministro da pasta.
Até Gleisi reconhece que sua situação é desesperadora. Mas, com a face lenhosa que somente uma verdadeira petista ousaria ter, a senadora diz acreditar que a culpa não é dela, mas de quem a acusa, ou seja, do juiz federal Sérgio Fernando Moro. “A forma como as investigações foram dadas, levam a um determinado entendimento. Quem lê o documento, tem quase certeza que eu recebi dinheiro do Guilherme [Gonçalves]. E eu não recebi nada dele”.
Contudo, Gleisi é desmentida pelos fatos. Uma planilha apreendida pela Polícia Federal no escritório de Guilherme Gonçalves, advogado de Gleisi e do marido, lista débitos como o pagamento de multa eleitoral relacionada ao nome de Gleisi, no valor de R$ 1,3 mil, e débitos relacionados a Zeno Minuzzo – secretário de finanças do diretório estadual do PT – e Hernany Mascarenhas – motorista de Gleisi.
O dinheiro viria do que Moro designou como “Fundo Consist”. Ou seja, dinheiro de propina do esquema do empréstimo consignado que era repassado a Gleisi depois de uma triangulação com o advogado Gonçalves. A planilha do “Fundo Consist”, denunciado por Moro, apreendida no escritório de Guilherme Gonçalves, tem um item ao lado do nome do motorista da senadora, Hernany Bruno Mascarenhas, que diz: “PT, PB e Gleisi”.
Com a conhecida predisposição petista de sempre tentar fazer o papel de vítima, Gleisi atribui ao juiz, não aos seus atos, a situação desesperada em que se encontra. “A petição [de Sérgio Moro] foi muito avassaladora. Na verdade, já remete ao STF uma condenação, uma sentença”.
Sobre seu motorista, Hernany Bruno Mascarenhas, que era pago [R$ 3.637,75] pelo advogado Guilherme Gonçalves, Gleisi tem outra explicação estranha. “Em relação ao motorista, o Hernany, eu o conheço há muito tempo, é um militante do PT. Estava desempregado e o Guilherme o chamou para trabalhar com ele, para atender à família e a ele pessoalmente. Como eu estava sem escritório em Curitiba, era época que eu não estava no mandato do Senado, o Guilherme colocou o Hernany à disposição. Soube que eu estava sem estrutura e disse: “olha, quando você precisar de alguém para ir ao aeroporto, em algum lugar, eu poderia ligar ao Hernany”. Utilizei [os serviços] muitas vezes, mas nunca foi um contratado meu no gabinete do Guilherme”.
Gleisi também não se dá ao trabalho de explicar porque o advogado, que ela própria dizia mal conhecer quando estourou a Pixuleco II (“Embora eu conheça o Guilherme da militância do PT, desconheço as relações comerciais e contratuais do escritório dele”), décima oitava fase da Operação Lava-Jato, se tornou um amigo íntimo, capaz de “emprestar” motorista e pagar multas eleitorais e registrar despesas com a discriminação “PT, PB e Gleisi”.
Sobre a acusação de ter recebido R$ 1 milhão do esquema de corrupção batizado como Petrolão, denúncia reiterada pelos dois delatores do esquema na CPI da Petrobras, a senadora paranaense tenta desesperadamente se agarrar a uma contradição irrelevante de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef:
“O que é interessante é que eles falam a mesma coisa, mas qual é o problema que aconteceu na divulgação da acareação? É que a versão que fica é que ambos concordam que entregaram o dinheiro [R$ 1 milhão]. Quando você conversa melhor com eles, o Paulo Roberto diz que quem pediu dinheiro foi o Yousssef. E o Youssef diz que foi o Paulo Roberto. Há uma contradição”.