Truque conhecido – Apesar de a empresa da doméstica Ângela Maria do Nascimento ter faturado R$ 1,6 milhão da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, o valor recebido por ela foi R$ 2 mil pelos poucos meses trabalhados para montar cavaletes de propaganda da então candidata presidencial.
A Mascote Flag, empresa de Ângela, foi alvo, na última quarta-feira (26), de um pedido do ministro Gilmar Mendes, vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e relator das contas dacampanha de Dilma, para que o Ministério Público investigasse indícios de irregularidades. O pedido ainda não chegou à Procuradoria.
“Nem faço ideia de quanto é isso tudo de dinheiro”, afirmou Ângela ao jornal Cruzeiro do Sul sobre o total de R$ 1,6 milhão. A empregada doméstica também afirmou ao jornal “O Globo” ter recebido apenas R$ 2 mil do montante.
Tendo como base informações de um relatório encaminhado ao TSE pela Secretaria da Fazenda (Sefaz), o ministro suspeita que a empresa seja de fachada, pois, segundo ele, não foram identificados “registros de entrada de materiais, produtos e serviços” e “destaque de pagamentos de impostos nas notas fiscais emitidas”.
A Sefaz identificou que, apesar de a Mascote Flag ter faturado R$ 1,6 milhão em os serviços de fabricação de banners, bandeiras e faixas para a campanha petista, a compra dos materiais foi feita pela Embalac Indústria e Comércio Ltda., motivando a desconfiança do TSE.
As duas empresas funcionam lado a lado, na cidade de Sorocaba, a 100 quilômetros de São Paulo. A Embalac pertence à empresária Juliana Cecília Dini Morello, para quem Ângela trabalha há 25 anos. Juliana é filha de Fernando Dini, famoso publicitário na cidade, morto em 2013. A Mascote Flag, empresa aberta no nome de Ângela, tem o mesmo nome da antiga empresa do publicitário.
Procurada em sua casa, Ângela não foi encontrada. O filho dela disse que ela estava viajando, sem data de retorno. Juliana foi procurada em seus endereços comercial e residencial, mas não quis se manifestar.
O responsável pela abertura da empresa, o contador Carlos Carmelo Antunes, revelou que a funcionária tinha ciência da abertura da empresa em seu nome. Carmelo afirmou que, em agosto de 2014, foi procurado por Ângela, acompanhada de Juliana, para iniciar o processo. “Ela assinou todos os documentos”, ressaltou.
O contador rechaça a afirmação de que a Mascote Flag é uma empresa “laranja” e limita a questão a um erro contábil. “Bastaria que fosse feita uma operação entre as empresas”. De acordo com ele, todos os serviços faturados foram prestados.
Ainda segundo Carmelo, a Mascote foi criada para faturar os serviços de publicidade durante a campanha e, assim, evitar que a receita originada pelos serviços prestados à campanha petista desenquadrasse a empresa da empresária Juliana, a Embalac, do regime Simples Nacional, cujo limite de imposto é de R$ 3 milhões. A Mascote ultrapassou esse teto em dois meses de funcionamento. (Danielle Cabral Távora)