As duas mortes de Berro dágua

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_16É um excelente conto, uma das melhores obras do grande Jorge Amado: A Morte e a Morte de Quincas Berro Dágua. Sim, Berro Dágua. Reza a lenda que um dia, pensando que o copo estava cheio de boas ideias, ele o emborcou de uma vez. E seu grito gigantesco, desesperado, assustou até os companheiros de sempre: “Áaaaaaaaagua!!!!!” E ficou mais famoso pelo apelido do que pelo nome.

Berro Dágua morreu num lugar pra lá de suspeito e alguém foi buscar seus parentes. E, enquanto a família providencia o enterro, deixou-o com os companheiros de bebedeira, os ladrões, as amantes, seus colegas de copo e de cruz, como diria Chico Buarque. Os companheiros, enquanto bebem industrialmente em homenagem ao morto, acreditam que ele sorri; portanto, vivo está.

Carregam o defunto e vão com ele beber nos bares que habitualmente frequentam, buscam a companhia das mulheres de sempre, dão-lhe cachaça, como de costume, e acreditam que ele a derrubou na roupa imunda porque estava bêbado demais. A horas tantas, resolvem passear de barco. E, num descuido – que os companheiros interpretaram como uma tentativa desesperada de fugir ao destino de ser enterrado em vida, e ainda por cima preso num caixão – Berro Dágua cai do barco desgovernado e desaparece para sempre entre as ondas e as marolas.

Para a família e amigos do tempo em que tinha emprego e batia ponto, ele já estava morto: a viagem enlouquecida só serviu para que não o prendessem num caixão. Para os companheiros, os bêbados, foi sua segunda morte.

A definitiva.

Foi numa casca de banana…

Há duas definições possíveis para o Governo Dilma, parte 2:

1) À falta de oposição, o Governo decidiu se opor a si mesmo (e com êxito).

2) Se há uma casca de banana na outra calçada, Dilma vai lá para escorregar.

A aprovação da presidente vai mal. Aí o Governo anuncia que, contrariando a tradição, não vai pagar em agosto a metade do 13º dos aposentados, por falta de dinheiro. Cai o mundo – e o Governo dá um jeito de pagar em setembro. O preço do desgaste já foi pago; e o dinheiro que queriam poupar foi gasto assim mesmo.

É pouco? O Governo anuncia a volta do Imposto do Cheque, a CPMF, com o nome-fantasia de CIS. Cai o mundo – e o Governo desiste da tunga. O preço do desgaste já foi pago. E o Governo continua sem o imposto que queria atochar.

O super-Pixuleco

Era um boneco inflável engraçado, para ser exposto em meia dúzia de manifestações e ser devidamente arquivado. Mas os petistas mais alucinados o encararam como manifestação de lesa-majestade, e já o perfuraram duas vezes, uma delas a facadas. Resultado: o boneco inflável de Lula vestido de presidiário, com os números 13 (do PT) e 171 (artigo do Código Penal que trata de estelionato), virou símbolo dos movimentos Fora PT.

É a primeira vez, ao que se lembre este colunista, em que um Governo e um partido polemizam com um boneco inflável. O prefeito Fernando Haddad, uma usina de factoides inúteis, quer proibir o Pixuleco em São Paulo por violação da Lei da Cidade Limpa (que proíbe outdoors, painéis publicitários, etc.)

Resultado: já foi apelido de Mixureco. Tem lógica.

Essa moça tá diferente

Chico Buarque é um grande compositor. E também o autor do melhor conselho aos governantes petistas: numa entrevista de 2004, sugeriu a criação de um novo Ministério, cujo nome seria, digamos, “Ministério do Vai Dar Errado”. Alguém de bom-senso, sem aquela devoção religiosa aos governantes, examinaria cada medida proposta pelo Governo, e conforme o caso diria: “Vai dar errado”. A medida seria enterrada antes de se tornar pública.

Este colunista, fã incondicional do Chico músico, descrente incondicional do Chico ideológico, se rende: só o Ministério que ele propôs pode salvar o Governo, se der tempo. Aliás, o nome do Ministério não seria “vai dar errado”.

Seria mais popular e contundente.

Mora na filosofia

Do blogueiro Josias de Souza:

“Os vices são como os ciprestes: só crescem à beira dos túmulos”.

Volta por cima

O jurista Hélio Bicudo, duro opositor da ditadura (como promotor, foi, ao lado de Djalma Barreto, quem mais combateu a tortura e o Esquadrão da Morte), fundador do PT, entra na Câmara com pedido de impeachment da presidente Dilma. O pedido é assinado também pela advogada Janaína Paschoal. A sustentação do pedido de Hélio Bicudo envolve as pedaladas fiscais e o desvio de dinheiro na Petrobras. Segundo Bicudo, Dilma atentou contra a probidade administrativa ao “não tornar efetiva a responsabilidade de seus subordinados”.

Pra dizer adeus

Apresentada a proposta, cabe ao presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, do PMDB do Rio, aceitá-la ou não. Se a aceitar, inicia-se o processo de impeachment. Se a rejeitar, o plenário da Câmara pode retomar o pedido e aprová-lo por maioria simples, colocando os mecanismos do impeachment em ação. Neste momento, não há votos suficientes na Câmara para aprovar o impeachment.

Mas, mantendo-se o desgaste do Governo, amanhã pode ser outro dia.

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