Colcha de retalhos – Apesar de ter informado à imprensa que no final de semana não teria agenda oficial, a presidente Dilma Vana Rousseff reuniu-se, no palácio da Alvorada, com assessores mais próximos com o objetivo de traçar o novo desenho da equipe ministerial, que terá o número de pastas reduzido, de acordo com anúncio feito há dias. Com viagem marcada para Nova York, onde participa da Assembleia-geral da Organização das Nações Unidas, Dilma pode não anunciar a propalada reforma ministerial até a próxima quarta-feira (23).
Sem consultar o vice-presidente Michel Temer, que chegou da Rússia na última sexta-feira (18), Dilma só encontrou o peemedebista na manhã desta segunda-feira, ocasião em que foi aconselhada a procurar os líderes do PMDB no Congresso Nacional: Renan Calheiros, presidente do Senado; Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados. E Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara. Fora isso, Temer disse que a presidente deve sentir-se à vontade para escolher os nomes que permanecerão na equipe, ou seja, o vice preferiu não fazer indicações. O que permite concluir que o PMDB lavou as mãos e pode pular do barco a qualquer momento. Pelo menos é isso que a população espera da legenda.
No momento em que precisa de apoio no Parlamento para barrar pedidos de impeachment e aprovar o pacote de ajuste fiscal, Dilma mostra desconhecer estratégia política, depois de inchar o próprio governo com 39 ministérios. Esse número excessivo de pastas, que a petista justificava até então com a tese do presidencialismo de coalizão, pode encolher de forma substancial, fazendo com que o apoio da chamada base aliada desidrate da noite para o dia.
O projeto de Dilma para garantir a redução do número de ministérios é tão esdrúxulo que não apenas corre o risco de produzir efeito contrário, mas é possível que confirme as mentiras da petista vociferadas durante a corrida presidencial de 2014. A presidente pretende criar o Ministério da Cidadania, que englobaria a Secretaria-Geral da Presidência, Secretaria de Direitos Humanos, Secretaria das Mulheres e Secretaria da Igualdade Racial. Na campanha do ano passado, Dilma simplesmente descartou a possibilidade de extinguir as três últimas secretarias, fundindo-as em uma só. Agora, possivelmente sob o comando do “companheiro” Miguel Rossetto, o novo ministério será o que muitos já chamam de “elefante branco para inglês ver”.
No plano de Dilma está também a criação da Secretaria de Governo, que incorporaria a Secretaria de Relações Institucionais e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Apenas para lembrar, o GSI, comandado pelo general José Elito, que está prestes a deixar o governo, fechou os olhos para a indicação do pedófilo Eduardo Gaievski para cargo de confiança na Casa Civil, à época em que Gleisi Hoffmann comandava a pasta.
Outra eventual fusão também causa preocupação nos meios políticos. Dilma pretende juntar os ministérios do Trabalho e da Previdência Social, como era em tempos outros, o que criaria uma zona de conflito com o PDT. Atualmente, o Ministério do Trabalho está sob o comando do pedetista Manoel Dias, mas o partido já pleiteia a Secretaria de Comunicação Social da Presidência, hoje sob a batuta do petista Edinho Silva, investigado pela Operação Lava-Jato.
A pasta da Agricultura, atualmente comandada por Kátia Abreu, responsável primeira pela derrubada da CPMF em 2007, deve receber em seu guarda-chuva a Secretaria da Pesca, que até o momento está sob a responsabilidade de Helder Barbalho (PMDB-PA), filho do intempestivo senador Jader Barbalho, que como adversário político já demonstrou excesso de competência. Para compensar a perda, o PMDB poderá ganhar o Ministério da Saúde ou o da Educação. A grande questão é saber o que Dilma fará com Arthur Chioro (Saúde) ou Renato Janine Ribeiro (Educação). Para complicar, há nas coxias do poder quem defenda a fusão dos ministérios da Educação e da Cultura, o que justificaria a persistente sigla MEC, criada desde os tempos em o governo tinha apenas treze ministérios.
Nesse quebra-cabeça quase sem solução, um novo ministério poderá surgir a partir da junção de das secretarias: Portos e Aviação Civil. A nova pasta ficaria com o PMDB, que também será contemplado com o Ministério da Integração Nacional, além de manter Agricultura e Minas e Energia.
O enigma nessa dança de cadeiras está na postura dos líderes do PMDB no Congresso, que no rastro da volúpia por cargos poderão atropelar o rito do Parlamento, apenas para, contrariando o desejo maior da população, atender aos apelos desesperados do Palácio do Planalto.