Sol quadrado – O que muitos acreditavam ser impossível acabou acontecendo. A Operação Lava-Jato deu mais alguns passos na direção do Maranhão, com foco no clã comandado pelo nefasto caudilho José de Ribamar Ferreira de Araújo Costa, o ex-senador José Sarney.
Na tarde desta sexta-feira (25), João Abreu, ex-chefe da Casa Civil no governo de Roseana Sarney, foi preso ao desembarcar no Aeroporto Marechal Hugo da Cunha Machado, em São Luís, procedente da capital paulista.
Ex-homem forte de Roseana, Abreu teve a prisão preventiva decretada na quinta-feira (24) e foi levado à Superintendência Estadual de Investigações criminais, onde será interrogado. O ex-chefe da Casa Civil é Abreu é investigado por ter recebido R$ 3 milhões em propinas para garantir o pagamento, por parte do governo maranhense, de precatório no valor de R$ 134 milhões em favor da empresa Constran-UTC, de propriedade de Ricardo Pessôa, um dos delatores da Lava-Jato.
De acordo com as investigações promovidas pela força-tarefa da Lava-Jato, o pagamento foi intermediado pelo doleiro Alberto Youssef. O calvário de João Abreu começou no quartel-general da Lava-Jato, em Curitiba, mas seus advogados conseguiram levar o caso para a Justiça estadual maranhense, o que não produziu os efeitos necessários.
O ex-secretário de Roseana Sarney responde a inquérito na companhia de Youssef, Rafael Ângulo Lopes e Adarico Negromonte Filho – suspeitos de operarem os pagamentos para o doleiro -, além do corretor Marco Antonio Ziegert, o Marcão, acusado de ser o elo entre esquema de corrupção e o Palácio dos Leões, sede do governo do Maranhão.
O indiciamento de João Abreu teve como ponto de partida os depoimentos e delações premiadas no âmbito da Lava-Jato, além dos depoimentos de Meire Poza, contadora de Youssef, e do sócio do doleiro no laboratório Labogen, Leonardo Meirelles, prestados à Polícia Civil do Maranhão.
De acordo com os depoimentos, Negromonte e Ângulo fizeram ao menos três viagens a São Luís a mando de Youssef, ocasião em que levaram a propina em dinheiro vivo escondido no próprio corpo. Segundo a Polícia Civil maranhense, Abreu teria reclamado da falta de R$ 1 milhão no momento do pagamento da propina. Esse detalhe teria obrigado Alberto Youssef a viajar a São Luís para desfazer o mal entendido.
Coincidência ou não, Yousseff foi preso no dia 17 de março de 2014 em um hotel de luxo da capital maranhense, onde teria deixado uma mala com dinheiro, posteriormente apanhada por Marco Ziegert, o Marcão, responsável pela distribuição do dinheiro sujo à cúpula do Palácio dos Leões. A prisão do doleiro foi o pontapé inicial da Operação Lava-Jato, que desmontou o maior esquema de corrupção da história.
“Na oportunidade da prisão de Youssef, Marcão não teria sido abordado pela Polícia Federal, embora estivesse no mesmo hotel, e conseguiu efetivamente levar o dinheiro da propina para membros do governo”, destaca o relatório.
Muito estranhamente, Roseana Sarney, que costuma usar o grupo de comunicação da família para estocar adversários – ela já se valeu desse expediente para atacar o editor do UCHO.INFO – pode ter pautado a publicação de notícias sobre a prisão de seu outrora “homem de confiança”. No site do jornal “O Estado do Maranhão”, a edição desta sexta-feira noticia que João Abreu se entregou à polícia, o que não é verdade. Na edição do dia anterior, quando foi decretada a prisão de Abreu, o mesmo jornal destaca que o processo é político. Ora, desde quando investigar roubalheira cometida por agentes públicos é processo político?
Essa forma conveniente de interpretar os fatos é uma precaução do jornal, até porque a família Sarney é considerada “sócia remida” dos muitos escândalos de corrupção que têm o pobre estado do Maranhão como cenário.