(*) Carlos Brickmann
Este colunista adoraria falar de flores. É triste falar só de urtigas. E triste ter de optar não pelo melhor, mas pelo menos pior – menos pior naquele momento.
1– A política externa independenta fez com que o Brasil, em vez de entrar no Acordo Transpacífico, que reúne 40% das riquezas mundiais, fique fechado no Mercosul, negociando com Venezuela e Bolívia e pagando para ficar isolado. Os próximos passos do comércio mundial são a negociação entre a Europa Unida e o Acordo Transpacífico, e em seguida a atração da China. México, Colômbia e Chile fazem parte do Acordo Transpacífico. Com quem os grandes do comércio mundial preferirão negociar: com Colômbia, Chile e México, seus parceiros de negócios, ou com Brasil, Argentina, Bolívia, Venezuela e Cuba? A propósito, a Argentina negocia faz tempo com a China, ignorando Brasil e Mercosul.
2 – O PSDB está indignado com os governistas acusados de enfiar a mão (e quer até pegar Dilma, com o impeachmenta). Mas espera mais informações sobre contas suíças do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Acha pouco as enviadas pela Suíça. Os dois lados são ruins, mas preferem o ruim que é útil para eles.
3 – O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, destinou R$ 150 mil para a agência Vento Bravo Comunicação Ltda. contratar uma empresa que crie um game, tendo como heróis os procuradores, para smartphone e tablet. No game, o jogador assume o papel de procurador da República na investigação de casos de corrupção, e terá que descobrir quem comanda a quadrilha. Se vencer, o chefe da quadrilha será indiciado, julgado, condenado e preso. Absolvição? Que é isso?
4 – O game parece atrasado. Já deveria estar pronto para Android e iOS. Aliás, além do custo, a Procuradoria pagará a tradução para o espanhol e o português de Portugal. Onde já se viu um procurador-herói limitado por fronteiras?
5 – Irritado com as manobras do PT para livrar-se do problema das pedaladas fiscais? Pois o governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin, andou fazendo uma manobra esquisita: decretou o sigilo total, por 25 anos, de documentos a respeito do transporte metropolitano – ônibus intermunicipais, trens urbanos e Metrô. Cartel, atrasos em obras, erros diversos, tudo é ultrassecreto por um quarto de século. É o Chuchulão, versão paulista dos escândalos federais. Como disse um famoso ministro, o que é ruim a gente esconde. Se fosse bom, mostraria.
6 – Entre os partidos políticos, não é só o PSDB que está indignado com Mensalão, Eletrolão, Petrolão e pixulecos: o DEM, antigo PFL, também se manifesta com vigor e exige o impeachment. Nada contra; mas o presidente nacional do DEM, José Agripino Maia, senador pelo Rio Grande do Norte, está sofrendo denúncias iguaizinhas, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Pior: as coisas apareceram na Operação Lava-Jato e envolvem uma das empreiteiras mais citadas no caso, a OAS. Agripino, como senador, é investigado pelo Supremo. A suspeita é de que tenha recebido propina na construção da Arena das Dunas, em Natal. E um delator premiado, o empresário George Olímpio, disse que pagou propina ao senador (R$ 1 milhão, que seriam destinados a despesas de campanha), para tornar-se prestador de serviços de inspeção veicular no Detran.
7 – Lembra do Minha Casa Melhor, crédito barato, a 5% ao ano, para quem quisesse equipar a casa? Aquele, que rendeu tanta propaganda ao PT na eleição? Foi extinto. O dinheiro acabou. E, já reeleita, acabou a boa-vontade de Dilma.
Política é assim mesmo
Da coluna de Jorge Moreno, excelente repórter de O Globo, que conhece os personagens e os bastidores e entende o que se passa no serpentário de Brasília:
1 – “A sorte da Dilma é que o Aécio só faz oposição no horário comercial e de acordo com a agenda do Congresso: de terças às quintas”.
2 – “Mercadante, cantando de galo para dois petistas: ‘Quando descobri que era o Jobim que estava por trás do Lula, liberei a presidente, que não queria minha saída. Falei para ela também que agora, que estamos mal na Saúde, com a saída do Chioro, vou levantar a Educação. Além do que terei mais tempo para acompanhá-la em viagens e entrevistas’. O repórter procurou Nélson Jobim: “O senhor andou falando mal do Mercadante?” Jobim: “Publicamente, não. Eu disse para vários amigos que, botando pedras no caminho do Michel e do PMDB, sua permanência tornou-se insuportável”. Moreno: “Posso publicar isso?” Jobim: “Pode, pode!” Moreno: “E dizer que o senhor falou mal dele, mas só pelas costas?” Jobim: “Pode, pode!”
Nem tucano seria tão cruel com os companheiros.
Com gente é diferente
Adversário é adversário, não é inimigo. Mesmo sendo inimigo, continua sendo gente. O antigo presidente da Petrobras, o petista José Eduardo Dutra, também um dos coordenadores da campanha presidencial de Dilma Rousseff, podia ter todos os defeitos, mas seu funeral não é uma hora adequada para retomar divergências que só valiam em vida. A atitude de uns poucos manifestantes fanatizados, que insultaram sua memória no velório, foi absolutamente inaceitável.
Nos momentos de transição da vida para a História, há que respeitar a família enlutada, os amigos, a situação. É um ser humano; e tudo o que é humano nos diz respeito, a menos que queiramos também nos tornar inumanos.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.