Mutirão de cirurgias atenderá pessoas com fissura labial; saiba mais sobre a malformação congênita

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Começa nesta segunda-feira (12) – e vai até a próxima sexta (16), um mutirão de cirurgias reconstrutivas de pessoas diagnosticadas com fissura labiopalatina. A expectativa é que mais de 200 pessoas em todo o Brasil serão atendidas.

A Campanha Nacional de Conscientização da Fissura Labiopalatina é promovida pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) em parceria com a Smile Train.

Pelo menos dez estados participam da ação: Ceará, Paraíba, Sergipe, Amazonas, Acre, Pará, Mato Grosso, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal.

Estão previstas 70 cirurgias plásticas realizadas gratuitamente na Região Nordeste, 60 no Norte, 55 no Centro-Oeste, 30 no Sudeste e dez no Sul.

Conforme a SBCP, a campanha tem como objetivo conscientizar a população e atender a uma demanda de pacientes que necessitam da intervenção reconstrutiva, contribuindo para diminuir a fila de espera pela cirurgia no Sistema Único de Saúde (SUS) e também para a formação de novos residentes no país.

“Com um diagnóstico rápido, uma cirurgia que leva apenas 45 minutos e a devida assistência médica, é possível reverter esse quadro e dar a criança a oportunidade de ter uma vida sem limitações”, destacou a Smile Train. Estima-se que, no Brasil, a cada 700 nascimentos, uma criança tenha fissura labiopalatina.

A fissura labial e a fenda palatina, conhecidas popularmente como lábio leporino e goela de lobo, são malformações congênitas. É uma abertura no lábio ou no palato, podendo ser completa, lábio e palato. Essas aberturas resultam do desenvolvimento incompleto do lábio e/ou do palato (céu da boca), enquanto o bebê está se formando, antes de nascer.

O lábio e o céu da boca desenvolvem-se separadamente durante os três primeiros meses de gestação. Nas fissuras mais comuns o lado esquerdo e o direito do lábio não se juntam, ficando uma linha vertical aberta. A mesma situação pode acontecer com o céu da boca ou palato. Em casos mais raros pode haver duas fissuras no palato, uma do lado direito e outra do lado esquerdo.

A incidência é maior na etnia amarela e menor na negra. Hoje há a impressão de que os casos de lábio leporino e fenda palatina estão aumentando, mas ela é falsa, o que cresceu foi o número de diagnósticos e a taxa de sobrevida dos portadores.

O lábio leporino é uma abertura que começa sempre na lateral do lábio superior, dividindo-o em dois segmentos. Essa falha no fechamento das estruturas pode restringir-se ao lábio ou estender-se até o sulco entre os dentes incisivo lateral e canino, atingir a gengiva, o maxilar superior e alcançar o nariz.

Na fenda palatina, a abertura pode atingir todo o céu da boca e a base do nariz, estabelecendo comunicação direta entre um e outro. Pode ser responsável pela ocorrência de úvula bífida, onde a úvula, ou “campainha” da garganta, aparece dividida. Entretanto, às vezes essa variação de tamanho é pequena, o que normalmente gera atraso no diagnóstico.

As causas dessas anomalias ainda são desconhecidas. Porém, já se sabe que as deficiências nutricionais e algumas doenças maternas durante a gestação, radiação, certos medicamentos, álcool, fumo, e hereditariedade, são alguns fatores de risco que podem estar envolvidos na sua manifestação.

Diagnóstico

É possível fazer o diagnóstico das fendas labiopalatinas a partir da 14ª semana de gestação com a ultrassonografia. Nessa fase, o importante é tranquilizar os pais, fornecendo informações sobre as possibilidades de tratamento, e esperar a criança nascer. Apesar disso, grande parte dos diagnósticos continua sendo realizada depois do parto.

Tratamento

As fissuras labiopalatinas não são apenas alterações de caráter estético, e sim as causas de problemas de saúde que incluem má nutrição, distúrbios respiratórios, de fala e audição, infecções crônicas, alterações na dentição. Elas também provocam problemas emocionais, de sociabilidade e de autoestima. Por isso, o tratamento requer abordagem multidisciplinar, ou seja, a participação de especialistas na área de cirurgia plástica, otorrinolaringologia, odontologia, fonoaudiologia, entre outros.

Atualmente, a recomendação é que se corrija a fissura labial cirurgicamente nas primeiras 24h a 72h depois do nascimento do bebê, para reconstituir o lábio superior e reposicionar o nariz, pois quase sempre existe um desabamento da asa do nariz devido falta de apoio do músculo que está solto daquele lado.

Já nos casos de fissura palatina, só é recomendado iniciar a reconstituição cirúrgica do céu da boca, por volta de um, dois anos da criança. O fechamento completo é realizado em etapas para assegurar a integridade do arcabouço ósseo e a funcionalidade da musculatura de oclusão, assim como para evitar a deficiência de respiração e a voz anasalada. Em geral, primeiro se fecha o palato ósseo anterior para alongá-lo, para depois dar continuidade ao tratamento.

A conduta indicada é realizar a cirurgia nem cedo demais para não afetar o crescimento do osso, nem tarde demais para não prejudicar a fala. Enquanto esperam pelo final da reconstituição, as crianças usam um aparelho ortodôntico, que cobre a fenda palatina e permite que se alimentem.

O tratamento é longo. Começa no recém-nascido e termina com a consolidação total dos ossos da face, aos dezoito anos. Durante todo esse tempo, os portadores de fissuras oronasais devem ser acompanhados por especialistas em diferentes áreas, especialmente por cirurgiões plásticos, fonoaudiólogos e ortodontistas.

Recomendações

• A correção do lábio leporino e da estrutura palatina admite condutas muito variadas. Os pais devem escolher um médico de sua confiança e seguir as medidas terapêuticas que ele aconselha.

• O aleitamento materno é sempre a melhor forma de alimentar a criança nos primeiros meses de vida, mesmo que apresente uma fenda orofacial. Quando não houver possibilidade de oferecer-lhe o seio, existem mamadeiras especiais que podem ser usadas.

• A primeira cirurgia para o fechamento do lábio leporino, em geral, corrige praticamente todas as alterações. No caso de permanecerem alguns detalhes que precisam de reparação, a cirurgia deve ser realizada antes dos 4, 5 anos, época em que a vida social da criança se amplia.

• O fechamento da fenda labiopalatina até os 2, 3 anos de idade também resulta em melhor prognóstico para as alterações da fala e da audição.

• O acompanhamento odontológico e ortodôntico é extremamente importante não só para preservar a estrutura dentária, mas também para assegurar a qualidade da alimentação dessas crianças enquanto não fazem a cirurgia.

• A orientação dos clínicos das diferentes áreas e o acompanhamento psicológico podem ajudar pais e filhos a enfrentar melhor as fases mais difíceis dessa alteração anatômica congênita.

Perguntas frequentes

O bebê pode ser alimentado corretamente? Alguns bebês fissurados não têm problemas com relação a alimentação, outros têm dificuldades. O uso de mamadeiras com bicos especiais ou o posicionamento do bebê na hora da alimentação pode resolver o problema. Nesses casos a mãe deve ser orientada.

Os dentes terão problemas para nascer e crescer no bebê fissurado? Se a fissura afetar somente o lábio, provavelmente os dentes não terão problemas. Mas se a fissura atingir a gengiva, onde os dentes nascem e crescem, o bebê necessitará de cuidados com profissionais especialistas.

O bebê terá problemas para aprender a falar? Nesse caso também haverá diferenças. Se a fissura atingir somente o lábio é improvável que haja problemas de fala. Entretanto se chegar até o céu da boca, além das cirurgias corretivas, haverá necessidade de tratamento fonoaudiológico.

O bebê terá retardamento mental? Não há nenhuma relação entre a fissura e o desenvolvimento mental da criança. Poderá haver algumas dificuldades de comunicação levadas pela fala ou problemas auditivos. O ingresso na escola é fundamental e se surgirem problemas, os serviços de psicologia e pedagogia dos serviços especializados darão respostas aos pais e professores.

Como os pais e parentes se sentem ao saber que o bebê nasceu com fissura? É natural, inicialmente, que os pais tenham dificuldades de aceitar a nova situação. Os sentimentos mais puros da maternidade misturam-se com ansiedade, dúvidas, medos e sensação de culpa. Levar o fato ao conhecimento dos parentes torna-se uma tarefa ainda mais difícil, mas é importante contar aos familiares e amigos o mais cedo possível, evitando avaliação e comentários fora da realidade.

Qual a idade para iniciar o tratamento? Não existe idade pré-definida. A idade ideal é logo após o nascimento por causa do relacionamento humano do paciente com o seu meio social. (Danielle Cabral Távora)

Veja abaixo a lista dos centros participantes da ação em todo o país:

Fortaleza (CE)

Associação Beija-Flor FUNFACE
Hospital Infantil Albert Sabin

Sobral (CE)

Santa Casa de Misericórdia de Sobral

João Pessoa (PB)

Instituto de Fissura Labiopalatal da Paraíba
Hospital Arlinda Marques

Aracaju (SE)

Hospital São José

Manaus (AM)

Hospital Infantil Dr. Farjado

Rio Branco (AC)

Fundação Hospital Estadual do Acre

Marabá (PA)

Instituto Sorriso Legal
Hospital Municipal de Marabá

Cuiabá (MT)

Hospital Geral Universitário de Cuiabá

Brasília (DF)

Associação Brasiliense de Apoio aos Fissurados
Hospital Regional da Asa Norte

São Paulo (SP)

Centro de Estudos e Pesquisas Defeitos da Face
Hospital Darci Vargas

Rio de Janeiro (RJ)

Centro de Tratamento de Fissurados Labiopalatais
Hospital Municipal Nossa Senhora do Loretto

Caxias do Sul (RS)

Hospital Circulo Operário Caxiense

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