O advogado Alexandre Romano, conhecido como “Chambinho”, deixou a carceragem da Polícia Federal em Curitiba e cumprirá prisão regime domiciliar. Ele estava em prisão preventiva desde agosto, quando foi deflagrada a Operação Pixuleco 2, décima oitava fase da Operação Lava-Jato.
Chambinho é apontado de ser o operador de propinas em esquema de corrupção envolvendo contratos do Ministério do Planejamento. Durante depoimento em delação premiada, Chambinho entregou a senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR) e seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo da Silva (Planejamento e Comunicações), e envolveu o advogado da petista, Guilherme Gonçalves. Apesar de ter Gleisi como cliente, Gonçalves não recebia da senadora paranaense, mas pagava suas contas e fazia repasses em dinheiro para a petista.
Agora, após contar o que sabe sobre o esquema de corrupção, Romano será monitorado por uma tornozeleira eletrônica. A Justiça Federal de São Paulo concedeu a prisão domiciliar após a defesa do réu alegar que, por ser advogado, Romano tem direito à prisão especial. O inquérito envolvendo a senadora está nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF), que optou por fatiar os autos da operação pelo critério da territorialidade. Assim, os processos envolvendo outros investigados foram encaminhados à Justiça Federal de São Paulo.
Não se conhece os detalhes da delação de Chambinho, mas é sabido que deve comprometer ainda mais Gleisi Hoffmann, segundo já adiantava a revista Veja. “Dois nomes estrelados do PT aparecerão nos depoimentos de Romano, de acordo com o que ele já contou ao seu advogado: o casal Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann”.
Gleisi já está gravemente envolvida na Lava-Jato no vácuo da delação do doleiro Alberto Youssef e de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, que a denunciaram como receptora de R$ 1 milhão do esquema de corrupção que ficou conhecido como Petrolão.
O caso Consist-Ministério do Planejamento pode ter desdobramentos explosivos. Um dos sócios do escritório curitibano que levou R$ 7,2 milhões em “pixulecos” do esquema, Luís Gustavo Severo, prestou serviços para a campanha presidencial de Dilma Rousseff. Esse desdobramento pode arrastar a Pixuleco II para o centro da campanha de Dilma e se tornar um elemento importante para fundamentar pedido de impeachment.
“Um dos associados do escritório paranaense [de Guilherme Gonçalves, o advogado de Gleisi] é Luís Gustavo Severo”, destaca a Veja. “No ano passado, ele foi contratado pelo PT para atuar na campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em que, até meados deste ano, continuava defendendo os interesses da presidente nas ações derivadas da Operação Lava-Jato. Para assumir a tarefa, Luís Gustavo foi incumbido, em 2013, de instalar em Brasília uma filial do escritório de Curitiba”.
A revista informa também que o novo escritório “recebeu do comitê de campanha a quantia de R$ 770 mil pela assessoria dada ao PT, uma ninharia se comparada aos honorários de mais de R$ 7 milhões cobrados a titulo de consultoria da Consist”.
Chambinho afirmou à Polícia Federal que foi Luis Gushiken (morto em 2013), ex-ministro de Comunicação do governo Lula, quem indicou o advogado Guilherme Gonçalves, jurídico na área eleitoral da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), para o recebimento de 9% da propina destinada a ele da empresa Consist Software, no contrato de empréstimos consignados do Ministério do Planejamento.
“Inicialmente os honorários acordados com a Consist foram de 25,8%”, contou ele, em depoimento prestado no dia 14 de agosto à delegada de Polícia Federal Renata da Silva Rodrigues. O porcentual teria sido aumentado para 32%.
“Posteriormente, a pedido de Gushiken, destinou aproximadamente 9% para o escritório Guilherme Gonçalves”, revelou Romano em colaboração espontânea prestada na oitiva.
O ex-ministro do governo Lula, segundo o ‘companheiro’ Romano, indicou posteriormente uma segunda empresa que se beneficiaria dos honorários, que era ligada a “‘eles’ (o Partido dos Trabalhadores)”.