CARF e BNDES: acordo de não agressão com Cunha e Renan poupa Lula, seu filho e aliados em CPIs

renan_cunha_1001

Aliados dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), atuaram de forma espúria, na quinta-feira (5), em ao menos duas CPIs para evitar convocações de ex-assessores e do filho do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, o lobista Lula. Como contrapartida ficou acertado que Cunha seria poupado de críticas.

A blindagem a Lula é resultado das conversas conduzidas pelo ex-metalúrgico e outros petistas de sua confiança com aliados de Cunha e de Renan nas últimas três semanas. Os dois grupos firmaram um pacto de não agressão que envolve interesses do PT, do PMDB e de vários políticos investigados pela Operação Lava-Jato. O que mostra que apopulação não pode confiar nos políticos, pois um criminoso não pode servir de escudo para outro e vice-versa.

Na última semana, o próprio Lula solicitou ao PT para que desse amplo direito de defesa a Eduardo Cunha e aos demais alvos de Rodrigo Janot, procurador-geral da República. O presidente da Câmara e Renan Calheiros são investigados por Janot no âmbito da Lava-Jato.

Com o avanço das investigações sobre o seu entorno, Lula teme que eventuais ataques do PT a Cunha possam provocar o revide do PMDB nas duas Casas legislativas. Lula também avalia que Eduardo Cunha pode aceitar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff para pressionar petistas a defendê-lo no Conselho de Ética da Câmara, onde tramita um processo por quebra de decoro parlamentar.

De tal modo, na quinta-feira, na comissão de inquérito do Senado que investiga irregularidades no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), governistas liderados pelo PT e PMDB conseguiram derrubar o requerimento de convocação do filho caçula do ex-presidente, Luís Cláudio Lula da Silva. Ele é dono de uma empresa que apareceu nas investigações da Operação Zelotes, que apura a existência de um suposto esquema criminoso no CARF.

Além do caso de Luís Cláudio, a base governista impediu as convocações dos ex-ministros Erenice Guerra e Gilberto Carvalho. Enquanto isso, na Câmara, aliados de Eduardo Cunha foram fundamentais para ajudar o PT a rejeitar a convocação do ex-ministro Antonio Palocci pela CPI do BNDES. Ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Palocci teria movimentado R$ 216 milhões após atuar com consultor de empresas que firmaram contratos com o banco de fomento.

Em julho deste ano, Cunha anunciou a criação das CPIs do BNDES e dos Fundos de Pensão como resposta ao Palácio do Planalto e ao PT pelas denúncias contra ele feitas pelo delator Júlio Camargo. Agora, segundo a oposição, houve um “acordão” para poupar Lula e impedir as investigações. “Hoje nós assistimos ao enterro desta CPI. O que vamos fazer aqui?”, declarou a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ). “O governo veio organizado para derrubar tudo”, afirmou Betinho Gomes (PSDB-MG).

A oposição pode fala o que quiser, mas é preciso destacar que na CPI do CARF os requerimentos foram derrubados com a ajuda dos adversários do governo, ou seja, dos senadores oposicionistas. Isso confirma o mantra do UCHO.INFO, que há muito afirma ser a oposição ser incompetente e traidora, pois busca retornar ao poder para agir como agem os governistas de agora.

O presidente da Câmara e seus aliados têm reiterado que não há qualquer acordo com Lula ou o PT. Questionado sobre a vitória do governo na CPI do BNDES, Cunha disse que não acompanhou a comissão. “Não vi o que ocorreu (na CPI), mas na Câmara o espírito não é de constranger nem ele (Lula) nem a família (dele)”, afirmou o deputado.

Há cerca de três semanas, Cunha disse, em entrevista, ter se encontrado com o ex-presidente para “falar de política”. A conversa ocorreu em 18 de setembro, em Brasília. O presidente da Câmara também confirmou que sua relação com o governo melhorou após a chegada de Jaques Wagner à Casa Civil, há pouco mais de um mês.

Principal articulador do governo na CPI do BNDES, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) reconheceu que “existe um novo ambiente” na base aliada, principalmente com parlamentares do PMDB. “Aos poucos, estamos conseguindo reconstruir nossa base”, afirmou. “Hoje tivemos uma boa demonstração disso”.

Apesar de o governo ter alimentado uma relação tumultuada com o PMDB do Senado no primeiro semestre, a turbulência jamais abalou a proximidade que a cúpula do partido na Casa tem com Lula. Senadores do PMDB e o ex-presidente da República reuniram-se diversas vezes para reclamar de medidas tomadas por Dilma. Ontem, na CPI do CARF, governistas compareceram em peso para ajudar aliados de Lula.

O senador Otto Alencar (PSD-BA) condenou em seu discurso a Polícia Federal por ter intimado o filho do ex-presidente às 23 horas, no dia do aniversário de Lula. “Estamos diante de uma oposição raivosa que quer atingir a imagem de Lula”, declarou.

A CPI também rejeitou a transferência dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático (mensagens eletrônicas) de Luís Cláudio, bem como de sua empresa, LFT Marketing Esportivo. Senadores da base de apoio ao governo também se posicionaram contra a convocação e quebra de sigilo de Carlos Juliano Ribeiro Nardes, sobrinho do ministro do Tribunal de Contas da União Augusto Nardes.

apoio_04