Em Manhattan, Nova York, existem duas unidades disponíveis que custam cerca de US$ 188 mil por metro quadrado, valor que bate o recorde imobiliário no bairro. As regras para morar nessas unidades são no mínimo inusitadas: você precisa estar morto para entrar.
Elas ficam no New York Marble Cemetery, no East Village, que está vendendo os dois últimos lotes para enterro disponíveis em Manhattan; cada um custa US$ 350.000. Talvez pareça absurdo, mas esse preço reflete ao fato de já não ter mais espaço nos cemitérios de Nova York.
Essa superlotação também impulsionou uma ambiciosa “startup” do litoral oeste dos EUA: a Urban Death Project, em Seattle, que visa minimizar a quantidade de terra escriturada para os mortos. O objetivo é transformar os seres humanos em adubo.
Em resumo este centro de reciclagem humana de três andares funciona assim: as famílias colocam o cadáver de seus entes queridos para um sepultamento, e depois o corpo ficaria ali para se decompor em adubo, em uma mistura de aparas de madeira e palha.
Após algumas semanas, ou até mesmo meses, os restos iriam para os familiares, que os utilizariam em um jardim ou terra. Desta forma, os mortos poderiam fertilizar o solo, em vez de ocupá-los.
O antiquado lote familiar, ou abóbada, já não está agradando devido à falta de espaço. O aumento dos custos e as mudanças dos costumes contribuíram para que a cremação conquistasse adeptos nos últimos anos.
Embora a Associação Nacional de Diretores de Funerais estime que a cremação representará 71% de todos os enterros por volta de 2030, em comparação com apenas 3,5% em 1960, uma série de empresas está oferecendo alternativas ao sepultamento tradicional que minimizam o nosso impacto tanto sobre o mercado imobiliário quanto sobre o meio ambiente.
Susanne Wiigh-Mäsak que mora na Suécia, onde o número de cremações é maior que o de enterros, se dedicou à biologia marinha, mas em 1998, ela patenteou o sistema Promessa, que acelera a biodegradação.
Ela passou os dezessete anos seguintes lutando contra obstáculos regulatórios em seu país natal, mas começará a construir a primeira instalação do sistema Promessa (apelidada de Promatorium) em outro lugar no norte europeu brevemente.
“O método original de enterro neste planeta era de quando sucumbíamos na floresta. Os carnívoros sentiam o cheiro de algo e eram puro dente. Eles dividiam um cadáver em pequenas partes, que acabavam se transformando em solo”, disse ela, em entrevista por telefone, da pequena ilha Lyr, perto de Gotemburgo. “Como fazer então para dividir um corpo em pequenos pedaços sem se sentir ofendido?”.
Promessa, seu sistema automatizado, consiste em submeter o corpo a um processo de congelamento rápido com nitrogênio líquido (Wiigh-Mäsak continua tendo um impacto ambiental neutro ao usar gás produzido como bioproduto do setor de tanques de oxigênio) e depois agitá-lo suavemente. “Isso faz com que o corpo se quebre espontaneamente”, disse ela.
“A beleza do processo é que você pode ver como ele ocorre sem se assustar. Ele cria uma nuvem temporária de pequenos pedaços congelados ao redor”.
Os pedaços resultantes são secados e enterrados com aparas de madeira em um caixão; sob as condições normais de umidade, os restos se tornam solo dentro de um ano. O lote da sepultura pode ser reutilizado com segurança depois de um período respeitoso de inatividade.
Outra alternativa ecológica que já está disponível em diversos estados dos Estados Unidos é a Resomation. Inventada pelo bioquímico escocês Sandy Sullivan e apelidada de “cremação ecológica”, esse processo submerge o cadáver em uma mistura de hidróxido de potássio e água quente para acelerar a decomposição natural.
Poucas horas depois, o tecido mole se transforma em um líquido não tóxico parecido com cerveja amarga ou chá preto; após reduzir a alcalinidade, ele pode ser deposto no sistema geral de água residual.
Os restos do esqueleto são então pulverizados, como ocorre no fim da cremação com fogo, e devolvidos à família como as “cinzas” comuns.