Lenda do futebol alemão e presidente do comitê organizador da Copa do Mundo de 2006, Franz Beckenbauer assinou um acordo prometendo “serviços diversos” a um dirigente da FIFA atualmente banido do futebol internacional, pouco antes de a Alemanha vencer a votação para sediar a competição planetária, confirmou nesta terça-feira (10) o presidente interino da Federação Alemã de Futebol (DFB), Rainer Koch.
Koch afirmou que o contrato de Beckenbauer com o ex-vice presidente da FIFA, Jack Warner, não inclui “pagamentos em dinheiro”, mas “vários serviços, como amistosos, apoio a treinadores da Concacaf [Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe] e bilhetes para jogos da Copa do Mundo”.
“Não há indicações de que o contrato foi implementado”, ressalvou Koch, em comunicado. Ele observou, ainda, que Beckenbauer não tinha poder para fazer tais ofertas em seu próprio nome e que elas teriam de ser aprovadas pela DFB, também citada no documento.
Koch informou que o contrato foi redigido quatro dias antes da votação da FIFA, em 2000, para escolher a sede da Copa do Mundo de 2006, na qual a Alemanha venceu a África do Sul por um voto.
A mais recente revelação faz aumentar a pressão para que Franz Beckenbauer, conhecido em seu país como “Der Kaiser”, se manifeste sobre as alegações de corrupção que cercam a Copa de 2006. Em outubro, o ex-jogador negou a compra de votos para a escolha da Alemanha como sede do Mundial .
A notícia veio à tona um dia depois da renúncia do presidente da DFB, Wolfgang Niersbach , em consequência do envolvimento dele no escândalo da escolha da Copa do Mundo de 2006.
Reinhard Rauball, também presidente interino da DFB, juntamente com Koch, disse que a assinatura de Beckenbauer pode ser interpretada como uma tentativa de suborno, independentemente do fato de o contrato ter sido implementado ou não.
Warner, que foi vice-presidente da FIFA e presidente da Concacaf, foi banido do futebol pelo comitê de ética da entidade futebolística em setembro deste ano e enfrenta acusações de corrupção no Estados Unidos, que tentam obter a extradição dele de Trinidad e Tobago.
A FIFA afirmou que Warner “cometeu muitos e vários atos de má conduta, contínua e repetidamente, durante seu tempo como funcionário de alto escalão em diferentes cargos na entidade mundial do futebol e na Concacaf”.
A renúncia de Wolfgang
Wolfgang Niersbach, renunciou à presidência da Federação Alemã de Futebol (DFB) na segunda-feira (9), anunciou a entidade depois de um reunião na sua sede, em Frankfurt.
Niersbach comunicou que sua decisão é uma consequência do seu envolvimento no escândalo da escolha da Copa do Mundo de 2006, mas que não se trata de uma confissão de culpa. “Trabalhei de forma absolutamente limpa e de acordo com a minha consciência”, declarou.
Segundo denúncia da revista Der Spiegel, na época da escolha da sede foi criado um caixa 2 para a compra de votos de representantes asiáticos no comitê da Fifa responsável pela decisão.
“Eu reconheci que chegou a hora de assumir a responsabilidade política por acontecimentos relacionados com a Copa de 2006, pelos quais eu pessoalmente não me sinto responsável e posso dizer que trabalhei de forma absolutamente limpa e de acordo com a minha consciência”, afirmou Wolfgang Niersbach em comunicado.
“Mas aparentemente aconteceram coisas que só nos últimos dias foram descobertas e que me levaram à renúncia – no sentido de uma responsabilidade política. O cargo de presidente não deve ser prejudicado”, afirmou.
“Trabalhei mais de 27 anos para a DFB. Para mim, a DFB foi mais do que um emprego, sempre foi uma paixão. E mais ainda essa maravilhosa Copa de 2006, que foi um ponto alto na minha vida profissional, que eu nunca vou esquecer. Por tudo isso, é ainda mais doloroso ficar sabendo, 11 anos depois, que aparentemente aconteceram coisas da quais eu nada sabia. Eu vou colaborar de todas as maneiras para esclarecer isso totalmente.”
Na semana passada, a promotoria de Frankfurt abriu inquérito contra Niersbach e seu antecessor na DFB, Theo Zwanziger, por causa de suspeita de sonegação de impostos. O caso envolve uma transferência de 6,7 milhões de euros à FIFA, relacionada com a escolha da sede da Copa de 2006.