Lava-Jato: Baiano diz que entregou US$ 1 milhão a amigo e infância do líder do governo no Senado

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Investigado e preso na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, mas agora um delator oficial, Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, acusado de ser um dos operadores do PMDB no esquema de corrupção, afirmou em depoimento que pagou entre US$ 1 milhão e US$ 1,5 milhão ao senador Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado, por meio de um suposto “amigo de infância” do petista, identificado apenas por Godinho, segundo o jornal “Folha de S. Paulo”.

De acordo com Baiano, o tal Godinho lhe foi apresentado por Nestor Cerveró, então diretor da área internacional da Petrobras, que orientou pagar o senador com dinheiro da propina acertada no rastro da compra, pela Petrobras, da obsoleta e superfaturada refinaria de Pasadena, no Texas (EUA).

Aos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, o delator disse que Godinho se apresentou como amigo de Delcídio e que “inclusive tinham estudado juntos”. Os pagamentos, sempre segundo Baiano, foram feitos em “cinco ou seis” parcelas, atreladas às visitas de Godinho ao seu antigo escritório, localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro, no segundo semestre de 2006 e nos dois primeiros meses de 2007.

“Godinho provavelmente foi [ao Rio] depois das eleições, pois se recorda de ele comentar que ainda precisava pagar dívidas de campanha”, disse Fernando Baiano. Em 2006, Delcídio concorreu ao governo de Mato Grosso do Sul, mas acabou tropeçando nas urnas.

Godinho, segundo detalhes fornecidos por Baiano, “provavelmente morava em São Paulo”, pois sempre falava “pegar a ponte aérea”, expressão usada como referência às viagens entre São Paulo e Rio e vice-versa.

O depoimento de Fernando Baiano foi prestado no dia 9 de setembro, na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, mas somente nesta segunda-feira (16) o seu conteúdo foi divulgado publicamente, com a deflagração da Operação Corrosão, a vigésima fase da Lava-Jato. Nos últimos meses circulou a informação de que Delcídio fora citado por Baiano, mas agora surge o nome do suposto operador do senador petista, o tal amigo de infância Godinho.

“O depoente [Baiano] não tinha contato com Delcídio neste episódio, pois apenas tinha contato com ele na época em que [o senador] foi diretor da Petrobras”, destaca o termo de depoimento assinado por Baiano. Delcídio Amaral foi diretor da área de óleo e gás da Petrobras na época do governo FHC (1995-2002).

Segundo o delator, os pagamentos ao parlamentar petista foram acertados depois que Cerveró disse, em meados de 2006, que “estava sendo muito pressionado pelo senador Delcídio”.

No depoimento, Baiano frisou que o dinheiro para cobrir gastos da campanha de Delcídio seria retirado “do valor que cabia a Nestor em Pasadena”, mas não soube especificar com exatidão se o montante era uma parte da propina que cabia ao diretor da Petrobras pela compra da refinaria de Pasadena.

É importante destacar que as informações prestadas por Baiano à força-tarefa da Lava-Jato possivelmente já foram checadas, ao mesmo tempo em que o delator sabe que não pode faltar com a verdade, sob pena de ter invalidado o acordo que reduzirá sua pena.

Por outro lado, por ocasião da divulgação da chamada “lista de Janot”, que trouxe os nomes de políticos investigados na Lava-Jato, uma troca de acusações entre Renan Calheiros, senador pelo PMDB de Alagoas e presidente do Congresso Nacional, e Delcídio Amaral chamou a atenção, mas em seguida caiu no limbo do esquecimento.

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