O principal índice da Bovespa registrava recuo de mais de 2% nos primeiros negócios realizados nesta quarta-feira (25), cenário provocado pela nova fase da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que prendeu nas primeiras horas do dia o líder do governo no Senado federal, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e o banqueiro André Esteves, presidente do BTG Pactual. Às 11h44, o principal índice de ações da bolsa recuava 2,16%, aos 47.242 pontos.
Quase no mesmo horário, as ações da Petrobras e de bancos estavam entre as principais quedas. Os papeis da estatal e de grandes bancos nacionais, como Bradesco e Itaú Unibanco, caíam mais de 3%. As ações do BTG Pactual, que não integram o Ibovespa, despencavam mais de 20%.
“O Ibovespa vinha subindo com suporte do fluxo de capital externo, mas desconectado de fundamentos. As notícias de hoje (da Lava Jato) podem assustar um pouco esses investidores”, disse à Reuters o gestor de uma administradora de recursos em São Paulo, ressaltando que os fundamentos da economia e para as empresas brasileiras continuam ruins e piorando.
Na terça-feira (24), o principal índice da Bovespa fechou em alta pelo sexto pregão consecutivo, após ficar no vermelho na maior parte do dia, com as ações da Petrobras disparando diante da forte alta dos preços do petróleo.
O Ibovespa avançou 0,28%, aos 48.284 pontos. No mês, o indicador tem alta de 5,26%, enquanto no ano acumula queda de 3,44%.
A votação do Orçamento de 2016 e da nova meta fiscal de 2015, adiada para esta quarta-feira, também ocupa o foco de atenções, assim como o leilão de concessão de hidrelétricas existentes, após o Senado aprovar na véspera Medida Provisória 688 de socorro ao setor. Os leilões das 29 hidrelétricas já aconteceram e o governo embolsou nada menos do que R$ 17 bilhões com o chamado “bônus de outorga”.
No mercado internacional, embalados por um arrefecimento das questões geopolíticas, dados da economia norte-americana também emolduram o pregão da NYSE (New York Stcok Exchange), versão ianque da Bolsa de Valores, antes do feriado norte do Dia de Ação de Graças, que acontece na quinta-feira (26). Entre os dados que mais preocupam os investidores norte-americanos estão os gastos com consumo e os pedidos de auxílio-desemprego.
Palácio do Planalto em alerta
Muito além da prisão do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), a situação de André Esteves preocupa sobremaneira os palacianos. Isso porque a prisão do banqueiro, se prolongada, causará sérios impactos na economia, já que a instituição financeira participa de vários e importantes investimentos no Brasil.
Além disse, a preocupação do governo recai sobre a possibilidade de Esteves, repetindo a postura de outros investigados na Operação Lava-Jato, aderir à delação premiada. Nesse caso, o banqueiro poderia contar o que sabe, já que foi um dos grandes doadores de várias campanhas eleitorais, a começar pela de Dilma Rousseff.
Considerando que banqueiro não madruga para se dedicar ao diletantismo e que doação de campanha é negócio que, em algum momento, exige a devida contrapartida, o temor que ronda o Palácio do Planalto é absolutamente justificável. Afinal, como prega a sabedoria popular, “quem tem, tem medo”.