Delcídio Amaral complica-se a cada alegação absurda e desconexa que dá para explicar o inexplicável

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Quanto mais tenta explicar o inexplicável, o senador Delcídio Amaral piora a própria situação. Senador pelo PT e preso pela Polícia Federal, na última quarta-feira (25), por tentar obstruir as investigações da Operação Lava-Jato, Delcídio, em depoimento à PT, reconheceu como sendo sua a voz que aparece na gravação em que o ex-líder do governo no Senado oferece ajuda financeira e um plano de fuga a Nestor Cerveró, durante reunião com o filho do ex-diretor da Petrobras. Mesmo assim, o petista disse que é inocente, declaração que, diante das incontestáveis provas, não merece crédito.

As informações foram dadas pelo advogado senador, Maurício Silva Leite, logo após o depoimento do cliente. Cumprindo o papel de reverberar a suposta inocência daquele que o contratou, o advogado disse: “Sim, sim [é ele que está nas gravações]. Nas reuniões que foram apresentadas, inclusive, ele confirmou a presença dele na reunião. E, nas explicações, ele explicou tudo o que foi conversado”. “Ele alega inocência, certamente, e estamos aqui para provar isso”, completou Leite.

Como afirmou o UCHO.INFO em matéria anterior, o papel do advogado é de defender o cliente, mas é inaceitável distanciar-se da coerência, principalmente quando as provas não deixam dúvidas acerca da culpa do acusado. Questionado pelos jornalistas, Maurício Silva Leite negou que Delcídio tenha oferecido mesada de R$ 50 mil à família de Cerveró para que o ex-dirigente da estatal omitisse o seu nome e o do banqueiro André Esteves (BTG Pactual) em eventual acordo de delação premiada.

“Isso não ocorreu [de o senador ter oferecido dinheiro a Cerveró para convencê-lo a não fazer a delação]. Amanhã, nós vamos soltar uma nota à imprensa, explicando essa situação, mas já está esclarecido no depoimento dele e ele esclareceu essa situação, que isso não ocorreu”, disse o responsável pela defesa do parlamentar petista.

Não bastasse, o advogado emendou ao ser indagado sobre o momento em que Delcídio foi confrontado pelos policiais com o áudio da conversa com Bernardo Cerveró: “O senador deu as explicações de maneira contundente”. È no mínimo inimaginável a contundência diante de provas irrefutáveis.

No depoimento, ao ser inquirido sobre expressões utilizadas na conversa gravada por Bernardo, em 4 de novembro passado, Delcídio afirmou: “Foram com intuito de dar uma palavra de esperança e de conforto para o familiar de um réu que está preso, mas jamais falei com qualquer ministro do STF sobre o assunto.”

“Apenas dei essa palavra de conforto vendo o desespero do filho de um dos presos. Ele (Bernardo) se apresentou a mim pedindo ajuda. Eu disse que ia ajudar e tentar interceder, mas isso foi apenas uma questão humanitária, para confortar o familiar do réu preso da Lava Jato”, declarou o senador à PF.

Ninguém chega ao Senado da República por excesso de tolice, pelo contrário. Por isso, Delcídio Amaral sabe da extensão do seu “telhado de vidro”, ao mesmo tempo em que não pode ignorar as consequências de declarações tão desconexas e estapafúrdias. A essa altura dos acontecimentos, o senador petista e todos os que gravitam na sua órbita estão sob investigação e monitoramento.

É fato que a Constituição Federal, assim como o Pacto de San Jose da Costa Rica, garante ao preso ou acusado a não obrigatoriedade de produzir provas contra si, mas não se pode fugir à realidade. Ou será que ao final dessa ópera bufa a culpa recairá sobre Nestor Cerveró, que desde janeiro deste ano está atrás das grades em Curitiba? Não sendo esse o desfecho do imbróglio, talvez a culpa recaia sobre os ombros do filho do ex-diretor da petrolífera, que em ato de coragem decidiu passar o Brasil a limpo.

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