Nos próximos dias, na esteira do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, o Brasil terá de conviver com uma quase interminável troca de acusações entre a presidente da República e o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Duas horas após o anúncio de que o presidente da Câmara dos Deputados havia acolhido pedido de impeachment da chefe do Executivo, Dilma fez um pronunciamento marcado pela comparação de currículos. Disse Dilma, ladeada por vários ministros, que não tem conta bancária no exterior e que jamais ocultou bens. Em clara provocação a Cunha, que responde a processos no Supremo Tribunal Federal no âmbito da Operação Lava-Jato.
Dizendo-se indignada com a decisão de Cunha e entoando um discurso que retrata a incompetência do governo, Dilma não hesitou em faltar com a verdade mais uma vez, apostando na suposta incapacidade de raciocínio do brasileiro.
“Nos últimos tempos, em especial nos últimos dias, a imprensa noticiou que haveria interesse na barganha dos votos de membros da base governista no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Em troca, haveria o arquivamento dos pedidos de impeachment. Eu jamais aceitaria ou concordaria com quaisquer tipos de barganha, muito menos aquelas que atentam contra o livre funcionamento das instituições democráticas do meu País, bloqueiam a Justiça ou ofendam os princípios morais e éticos que devem governar a vida pública”, disse a petista.
É importante destacar que a imprensa, assim como o UCHO.INFO, noticiou os fatos que aconteceram nas coxias do poder, onde petistas cinco estrelas estenderam o tapete do escambo criminoso sem qualquer pudor. A ideia inicial era trocar a manutenção do mandato de Cunha, que é alvo de processo no Conselho de Ética da Câmara, pelo arquivamento dos pedidos de impeachment. Ato contínuo, os petistas palacianos substituíram o segundo ingrediente dessa fórmula criminosa, colocando em seu lugar a aprovação da CPMF.
Na manhã desta quinta-feira (3), com o Palácio do Planalto ainda digerindo a decisão que abalou as estruturas do governo, Eduardo Cunha, como esperado, rebateu as declarações da presidente da República, a quem chamou de mentirosa por distorcer os fatos acerca das barganhas.
“Eu quero deixar bem claro que a presidente mentiu à nação quando disse que o seu governo não autorizou qualquer barganha. Ela simplesmente estava participando de uma negociação. O ministro [Jaques Wagner], levou um deputado ao gabinete e lá a presidente queria que tivesse o comprometimento de aprovar a CPMF. Eu não sabia da presença do deputado e sequer do conteúdo do diálogo e simplesmente foi me trazida a proposta”, afirmou Cunha em entrevista coletiva concedida no Salão Verde da Câmara.
Questionado sobre a negociação envolvendo a aprovação da CPMF, Cunha disse que muitos acordos começam a ser costurados sem o seu conhecimento. “Muitas coisas são feitas que eu não sei. Eu não participei de nenhuma negociação. Se havia negociação, havia barganha do outro lado. Comigo nenhuma [negociação], eu não quero nenhuma negociação, eu não participo de negociação”, enfatizou o peemedebista.
Ciente de que nas últimas horas cresceu a possibilidade de avanço do processo a que responde no Conselho de Ética, Cunha radiografou sua conturbada relação com o PT e disse que prefere não contar com os votos da legenda no colegiado que pode recomendar a cassação do seu mandato. “Todos sabem que eu sou adversário do PT. Nós vivemos em atrito constante. Claro que o PT tem pessoas de bem, pessoas com quem eu tenho boa relação, mas o conjunto do partido é meu adversário. Eu prefiro, com sinceridade, que eu não tivesse os votos do PT no Conselho”, declarou.
A bizarrice discursiva de Dilma foi alcançada no momento em que a presidente disparou: “Meu passado e meu presente atestam a minha idoneidade e inquestionável compromisso com as leis e as coisas públicas”.
O pedido de impeachment só foi acolhido pelo presidente da Câmara dos Deputados porque Dilma desrespeitou de forma flagrante a Lei de Responsabilidade Fiscal ao adotar as chamadas “pedaladas fiscais”, já condenadas pelo TCU, para maquiar a contabilidade de um governo corrupto e incompetente.
No tocante à idoneidade, Dilma não pode jactar-se desse suposto traço de sua personalidade, pois desde quando assumiu o comando da Casa Civil, no primeiro governo do lobista Lula, tinha conhecimento do esquema de corrupção que durante uma década funcionou deliberadamente na Petrobras, sem que em nenhum momento tivesse tomado alguma atitude para impedir a continuidade da ação criminosa que lhe garantia apoio no Parlamento.
Em suma, a troca de farpas entre Dilma Rousseff e Eduardo Cunha é o roto falando do rasgado, ou o sujo, do mal lavado. PT, saudações para ambos!