A estratégia do PT de abandonar o senador Delcídio Amaral foi equivocada e pode complicar a situação de Dilma Rousseff, que enfrenta problemas em todas as frentes. Preso pela Polícia Federal na esteira da Operação Lava-Jato por tentar obstruir as investigações do maior escândalo de corrupção da história planetária, o Petrolão.
Delcídio, que continua preso em sala especial da Superintendência da Polícia Federal em Brasília, deve cair a qualquer momento e deve fazê-lo à sombra de artilharia pesada. A traição capitaneada pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, custará caro ao partido e principalmente à “companheira” de Dilma, que torce para que o ex-líder do governo no Senado não conte tudo o que sabe a respeito dos bastidores do governo.
Contudo, contrariando as expectativas dos petistas e dos palacianos, Delcídio Amaral parece ter cedido ao apelo da família e sinaliza que pode aderir à delação premiada. O ainda senador pelo Mato Grosso do Sul recebeu o advogado Antonio Figueiredo Basto, que defende na Operação Lava-Jato o doleiro Alberto Youssef; Pedro Barusco, ex-gerente de serviços da Petrobras; Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC; e o lobista Julio Camargo, da Toyo Setal. O quarteto integra o grupo dos principais delatores da Lava-Jato.
O calvário de Delcídio Amaral eclodiu a partir da gravação de conversa com Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da área internacional da petrolífera, Nestor Cerveró, que encontra-se preso em Curitiba por determinação do juiz federal Sérgio Moro. O arquivo de áudio foi entregue à Procuradoria-Geral da República, que por sua vez solicitou ao Supremo Tribunal Federal a prisão de Delcídio e de André Esteves, do banco BTG Pactual.
É importante ressaltar que ninguém chega ao Senado da República por tolice ou porque é desprovida de massa cinzenta. Delcídio Amaral, que já engrossou as fileiras do PSDB e migrou para o PT, sabe muito mais do que a cúpula petista gostaria e pode acabar com a farsa que o partido tenta manter a partir de discursos mentirosos e populistas. Escolhido para presidir a fatídica CPMI dos Correios, Delcídio ainda guarda gravações das negociações que aconteceram nos bastidores para evitar a implosão do governo Lula na esteira do primeiro grande escândalo de corrupção da era petista.
Em cenário político normal, se é que isso existe no Brasil, a conversa com Antonio Figueiredo Basto deveria ser interpretada pelo Palácio do Planalto como mais um recado do ainda senador, mas o clima que reina na sede do governo compromete a capacidade interpretativa do staff presidencial. Ademais, não custa ressaltar que Delcídio não se reuniu com o filho de Cerveró para tratar de assuntos do próprio interesse.